segunda-feira, dezembro 5

Bons Portugueses



Bandeira da Restauração

Portugal restaurou a sua Independência com a defenestração de um tal de Vasconcelos, um manga-de-alpaca a soldo da Coroa Espanhola, que à data de 1 de Dezembro de 1640 era Secretário de Estado da Duquesa de Mantua, uma «tia» seiscentista com o lustroso apelido dos Sabóia e regente da província Portuguesa. Bizarro País é este nosso Portugal em que uma Revolução pela Independência se consuma com uma única vítima defenestrada! Seja como for, nos anais gloriosos desta Pátria, o 1º de Dezembro evoca, em feriado nacional, aquele longínquo dia em que Portugal renegou a sua condição de província Espanhola e escolheu ser novamente livre pela mão do «Restaurador» D. João IV. Findava assim a União Ibérica, porventura, o mais vasto Império da história.

Comodamente olhamos para trás, e de modo prazenteiro, vemos a «Restauração» como mais um episódio de nobre e insigne nacionalismo Lusitano. Porém, antes estariam por certo as costumeiras razões da vil pecunia. Efectivamente, o regime Filipino vingou sem resistência até ao momento em que empreendeu um agravamento dos impostos. Essa política iniciada em 1628, ao arrepio das cortes como era costume em Portugal, atacando o cofre dos plutocratas sem cuidar de manter os privilégios de isenção de que gozava o clero em geral, e os jesuítas em particular, foi o toque de finados para o regime da União Ibérica.

Curiosamente volvidos séculos sobre estes longínquos acontecimentos é cada vez mais usual apontar-se a Restauração como um infeliz incidente que nos arredou do Eldorado Espanhol. Os «neo-Restauradores» são, ao contrário dos originais, Restauradores Olé ! Suspiram por uma União Ibérica que nunca virá e à margem da língua e dos Clubes de Futebol pouca vantagem vêem em serem bons portugueses. Estas aspirações cada vez menos silentes e ideologicamente transversais nunca foram contudo populares entre os Açorianos. Estes, quando tiveram que escolher entre Madrid e Lisboa para capital do seu País, nunca hesitaram em defender as cores da sua Pátria, fossem elas o verde rubro das bandeiras empunhadas contra o domínio Filipino ou a bandeira azul e branca do Liberalismo de oitocentos. Na verdade, quando todo o país prestava tributo a Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal) um sedicioso António Prior do Crato resistiu na ilha Terceira até 1583.

Afinal, os Açorianos, quando quiseram, sempre foram bons Portugueses. Sobre esta qualidade nada melhor do que recordar Miguel Esteves Cardoso : «um conceito que anda precisado de reanimação é aquele do bom português. Ao contrário do simples português, que aceita a nacionalidade dele como quem recebe um apelido dos pais; ao contrário do portuguesinho, que se orgulha dela estupidamente; e finalmente ao contrário do portuga, que não tem opinião ou sentimento acerca da matéria; o bom português é aquele que escolhe Portugal.».

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JNAS, na Edição de 6 de Dezembro do Jornal dos Açores

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