Deixou-nos o paradigma de Humanista, o exemplo de dedicado Homem de Família e mostrou como merecia devoção intransigente a sua Pátria. A sua devoção pelos Açores foi uma paixão que apenas se extinguiu, há precisamente um ano atrás, quando nos abandonou. José de Almeida Pavão (1919-2003) foi um ilustre intelectual nado e criado nesta terra de São Miguel, onde se fez escritor, ensaísta, poeta, investigador e colaborador em várias revistas das quais se destaca a «Insulana». Amava tão profundamente a sua Pátria que ao Doutorar-se em Filologia Românica escolheu para tese de doutoramento o cancioneiro popular açoriano homenageando o trabalho de recolha do etnógrafo Armando Cortes-Rodrigues.
Era um homem das ilhas e da insularidade que um dia definiu como :« (...) o ter corpo e alma de Ilha, mesmo fora dela. O ter presente uma ausência perene. Uma perpétua saudade que identifica a ânsia da partida com o desejo do retorno. Um cárcere que se transporta dentro de nós, à maneira duma tartaruga que fosse capaz de engolir a carapaça que a protege, mas que a oprime.»
Era também um homem de uma urbanidade notável e sempre disposto a descer da sua cátedra para falar fosse com quem fosse. Foi também e sempre um Professor que exerceu o seu ministério ao longo da vida, ensinando até aqueles que não foram seus alunos.
Tive a honra de o conhecer e logo no primeiro encontro dissipou-se o temor reverencial que guardava da imagem pré concebida de antigo Reitor do Liceu Antero de Quental ... à qual acrescia uma camada de patine de velhas histórias de rigor paternal contadas pelo seu filho Eduardo Pavão. Ambos, fazem muita falta a todos nós !
José de Almeida Pavão era um homem de trato afável e que tinha prazer em partilhar com humildade a sua vasta cultura e experiência académica. Efectivamente, o seu vasto currículo e extensa obra de investigação e literária dariam para encher a página deste blogue. Não sendo eu um académico prefiro como leitor compulsivo evocar a sua obra de ficção. Além do celebérrimo «Xailes Negros» o seu legado crepuscular à literatura Açoriana passa por dois romances, «O Além da Ilha» e «Marianinha» e,ainda, um livro de contos e memórias que foi editado com o título o «Espelho da Memória»...Deste e em memória do Professor José de Almeida Pavão evoco «Retalhos da Memória» em tributo a quem sempre foi marcado pela Educação.
Na mesma obra e num ensaio sobre a eternidade José de Almeida Pavão interroga-nos: «Será que a existência possui um termo, que se identifica com a morte orgânica, a morte terrena ? Todo o ser humano aspira a que ela se prolongue para além fronteiras. E aqui se interpõe a ideia terrífica do absurdo da própria vida, concebido por aqueles que negam a eternidade, embora a desejem com eu.». A resposta está noutro poeta que bem disse que a imortalidade na terra está assegurada em vidas alheias.
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