segunda-feira, setembro 27

CUSTA MUITO SER PORTUGUÊS



Custa muito ser Português e ter fé na ladainha de que o que é Nacional é Bom ! Fazemos a nossa profissão de fé na tradição de alguns emblemas Nacionais....e, depois, somos tão desapegadamente traídos pelos mesmos.

Não ! Não falo de qualquer desaire futebolístico, especialmente do meu Sporting, o que até é provável ter ocorrido durante mais uma Jornada do Nacional que, cada vez mais, se parece com um torneio de wrestling onde, como se sabe, todos os golpes baixos são previamente ensaiados.

A minha mágoa é mais comezinha e fica-se pelo logro da soberba que parece encartar os nossos vinhos embrulhando-os de encómios que, depois de provados, vem a verificar-se que não o merecem.

Beber vinho é um edificante hobby Nacional ao qual me dedico com prazer, mas apenas aos fins de semana. Para este que agora finda, e porque o calor recomendava um branco alvo e limpíssimo de aromas pouco elaborados mas, apenas seco e frutado, perfilhei um Castello D´Alba ( Reserva 2003 ). Garrafinha simpática, oriunda da melhor região demarcada de Portugal, que sem modéstia propala as suas qualidades literalmente assim : « (...) produzido a partir de uvas das melhores vinhas do Douro Superior ( quais ??? ) , foi vinificado recorrendo aos mais modernos conceitos de enologia (...) apresenta uma cor citrina, o aroma revela a tipicidade e a nobreza do «terroir», onde sobressaem as notas de frutas exóticas, a compota de laranja em equilíbrio com nuances amanteigadas e avelã. Na boca mostra pujança, estrutura e um corpo pouco comum para vinho branco». Com uma apresentação destas não há quem resista mas, depois de refrigerado e aberto, apenas sobressai a lembrança de uma nota de 5 Euros e uma rolha de plástico. Sim de plástico deixando antever um conteúdo sem nobreza apesar dos pergaminhos do rótulo !!! É verdade, custa muito ser Português nestas ocasiões. O vinho faz parte da nossa identidade e quer-se de boa cepa e rolhado com cortiça. Custa ainda mais ser Português quando, duas prateleiras abaixo, bem poderia ter optado, por metade do preço, por um branquinho da Catalunha, sem tanta literatura enológica e muito bem rolhado com uma cortiça ... provavelmente Portuguesa.

Parafraseando David Lopes Ramos, no Público de Sábado, «Isto dito, deve acrescentar-se que está quase tudo por fazer no domínio dos brancos em Portugal.». Para a semana aguardam-me duas garrafas de Castello D´Alba Tinto ( Reserva 2004 ) e, continuando a acreditar que o que é Nacional é Bom, espero que essa qualidade não se fique pelo plástico.

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