quarta-feira, novembro 20

A mítica quinta-feira (uncensored)

Há dias assim.
Há coisas que acontecem e nos fazem pensar que são boas demais para ser verdade.
Recebi estas "notas" e confesso que não me foi possível lê-las até ao fim sem me emocionar (como, aliás, aconteceu com a grande maioria das impressões recebidas sobre a apresentação da nova carta Outono|Inverno no TN).
Tinha que as partilhar e pedi a devida anuência.

"Notas de um sonho…
O dia acordou em tons de outono, com nuvens altas no céu e o magnífico cheiro das manhãs que agora começam frias. Como pano de fundo as árvores do inigualável Parque. A caminho do aeroporto vejo uma lagoa por entre um vale verdejante, pouco depois deixo-me levar pela beleza das montanhas e do mar, ainda a dormir…
Estou a caminho do avião e sinto que ainda não acordei do meu sonho. Penso que dormi cerca de doze horas.
Não demorei muito a adormecer. O ambiente estava quente. As cores, o conforto e deixo-me levar pelas palavras… adormeci a beber um Gin Garden!
E comecei a sonhar…
Dom Perignon Vintage 1996!
A temperatura da sala a subir como a fineza das bolhas do néctar. Quase acordo com os primeiros aromas e com a complexidade, textura e profundidade de sabores.
O quê? Isto é um sonho! Fecho os olhos e deixo-me levar novamente pelos aromas e sabores que sobressaem da idade e do saber de gerações geniais da Região de Champagne.
Et voilá! A primeira surpresa da noite. É um carpaccio? Mas não consta do menu. São boletos do Parque, com azeite virgem extra e flor de sal. Perfeito! Simples, pleno de sabor e frescura, com total respeito pela natureza que ali ao lado cuidou desta preciosidade de outono.
Deseja mais um pouco de D. Perignon?
Pois claro! Estou a sonhar…
A harmonização com os boletos é perfeita, as notas de terra encaixam na perfeição.
Um brinde ao anfitrião e à sua renovada casa.

E volta um cheiro familiar. Estou na velha padaria próxima da casa de férias do meu avô. Não te faz lembrar nada Carlos?
Os sabores a terra e o azeite encaixam na perfeição com as notas vegetais e de gordura do champanhe.

A conversa vai animada, e o Parque é naturalmente o foco das atenções.
Começa então o desfile de sabores que o Chef escreveu e que têm correspondência em frases soltas escritas noutro papel e que para todos nós têm um significado ainda enigmático.

Carpaccio de Beterraba, Puré de Grão e Vinagrete de Avelãs.
Quase perfeito. A frescura dos ingredientes é ligeiramente tocada por um pouco de vinagre que poderia ser substituído por mais quantidade do citrino local.
Para harmonizar continuamos com D. Perignon. As notas cruas ligam com a beterraba... E com todos os restantes elementos do prato. Afinal com que é que champanhe não liga?

Segue-se um ceviche com rúcula. Uma travagem a fundo. Quase acordava do meu sonho. Apresentação a destoar (ou talvez não diz o Henrique...). E para além disso, o excesso de rúcula a seguir a um prato com... rúcula.
E continuamos no néctar francês. Afinal champanhe liga com tudo! Mas nem tudo liga com champanhe... Ou pelo menos com este vintage... Demasiada complexidade e textura para um prato tão simples e fresco.
Aqui um branco, fresco e mineral, funcionava na perfeição. Difícil voltar atrás depois de começar num registo tão alto!

Vamos passar agora para o vinho branco. Continuamos em França?
Não. Montevalle Branco 2009. É um vinho do Douro à base de Viosinho e com um pouco de Rabigato. Não chegava lá... Não muito aromático mas com boa textura e untuosidade. 

Partimos agora para um clássico da casa: A omelete. Veio guarnecida com boletos. Novamente? O prato estava fabuloso. Mas a ligação com o vinho nem por isso. Não é problema nem do vinho nem do prato. Simplesmente não se dão... Felizmente ainda tenho um pouco se champanhe no flute. Agora sim! Harmonização perfeita!! A gordura do ovo e o agora familiar sabor dos boletos do Parque são envolvidos pelas bolhas finas e pelo final longo do D. Perignon. Concordas Luís?

O prato seguinte é um regresso às tradições. Caldo azedo com Toucinho Crocante. Uma belíssima surpresa. Prato muito bem reinterpretado, pleno de sabores de outono. Agora sim percebo a escolha do vinho branco. A untuosidade do vinho consegue aguentar-se muito bem com a subtileza do feijão e faz a ponte com o vinagre que refresca o caldo.

E continuo a sonhar... Diga?!
Manuel Campolargo faz grandes vinhos. Extraordinário vinho branco de 2008. Com notas de uma evolução certa, complexo, frutado com um final longo a exigir um peixe forte e com alguma gordura.
E o lírio transformou-se em veja... Que pena! Vamos ver como se comporta o prato com o vinho. Batata e abóbora muito boas, e pimentos um pouco em exagero. Dispostos lindamente num prato fundo, regados já à mesa por um caldo menos bem conseguido. Aguado, pouco sabor a peixe e com falta de sal. Apesar de a veja estar muito bem confecionada, o prato era de intensidade menor do que o vinho e perdeu-se um pouco.

Mas o jantar já é memorável, pelo que os pontos menos positivos não ficam na memória por muito tempo.
E nem podiam!

Entramos já na carne. E que tal um tinto com mais de 40 anos?
Quase que acordava do sonho, tal era o exagero do exercício mental a que estava a ser submetido.
E que linda garrafa magnum... Romeira era o desafio da noite para o prato de carne.
Velhos são os trapos! Uf... finalmente a respirar oxigénio após tanto tempo dentro de uma garrafa. As notas de idade estão lá, no aroma e no sabor. Mas é pouco expectável um comportamento tão cheio de força e personalidade.
Para um vinho com esta história o prato tinha mesmo que ficar para a História. Um entrecosto a baixa temperatura extraordinariamente bem confecionado. Estaladiço por fora e tenro por dentro. Pleno de sabor com notas a alecrim
Entrecosto assado com crocante de pezinhos e cogumelos,
tarte de cebolas e puré de batata com alecrim
e acompanhado por um magnífico puré de batata,um croquete de pezinhos e boletos. Em excesso eventualmente a cebola caramelizada. Mas nada que retire ao prato a categoria de melhor da noite, ao nível de um restaurante com estrela Michelin!

A partir deste momento a refeição já é épica, o que quer que de menos bom pudesse acontecer a seguir. Mas tal não era previsível depois do patamar já alcançado.

E os 12 comensais continuam a aventura.
E como sonhar não custa, que tal abrir um Porto Vintage? Pode ser um Ferreira Vintage 1999?
Só não surpreende porque já estava à espera que fosse muito bom. Pleno de fruta madura, boa acidez... De encher a boca!

Agora passamos para os queijos. 3 Santos guardaram bem a tarefa de harmonizar com o Magnifico Vintage. Um prato simples que soube muito bem!

Estamos a chegar ao fim da refeição. Já se anunciam as sobremesas.
Primeiro um Pudim de Queijo Velho S. Miguel com Sorbet de Tomarilho. Este par funciona muito bem. A frescura de um para limpar o palato do excesso do outro elemento do prato. Execução correta num prato que só pecou por não harmonizar com o vinho. Não pelo pudim, mas pelo sorbet que tinha demasiada frescura e acidez para poder equilibrar com a doçura e intensidade do Vintage.

E por fim, a homenagem da noite, ao mestre que ensinou o Chef. Crepe rechedo e flamejado com ananás e gelado. Muito bem conseguido. Pena ser uma sobremesa tão pesada para terminar a noite. A retirar uma, seria a sobremesa anterior. Embora seja natural não harmonizar com um Porto Vintage, a escolha de um vinho licoroso local, que por ser mais seco perde numa boca já com bastante açúcar. Percebe-se se intenção foi cortar precisamente o excesso de açúcar. Resulta o efeito, mas o vinho não sobressai.

E depois desta refeição mítica, vou dormir…
E o dia acordou em tons de outono, com nuvens altas no céu e o magnífico cheiro das manhãs que agora começam frias. Como pano de fundo o vapor da água quente a subir por entre as árvores do inigualável Parque Terra Nostra. Vou a caminho do aeroporto e vejo uma lagoa por entre um vale verdejante, e pouco depois deixo-me levar pela beleza das montanhas e do mar, ainda a dormir… Acabo de sair do Terra Nostra Garden Hotel, no idílico vale das Furnas, na ilha de S. Miguel. Estou orgulhoso e com uma satisfação incontida, por saber que nos Açores já é possível viver uma experiência gastronómica de altíssimo nível, que valoriza os produtos locais e coloca a Região no mapa do que de melhor que se faz no país.

Obrigado ao Carlos Rodrigues ao Chef e a toda a sua equipa! Foi um jantar de sonho…
Filipe Rocha
Novembro de 2013"

Julgo que, naturalmente, o "sonho" do Filipe não se esgota na degustação desta carta Outono|inverno. Aliás, tenho a absoluta certeza que as suas "notas" transbordam esta experiência no idílico vale por, metaforicamente, configurarem a sua visão para o sector.

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Carlos Rodrigues
Vamos imaginar que de facto esta quinta feira o Ilhas não falava num cocktail gastronómico mais ao menos ao lado, da necessária divulgação da gastronomia Açoriana e dos vinhos Açorianos, vamos imaginar que este repasto não era ofensivo das condições de desemprego e penúria que o Povo açoriano vive e imaginemos o Ilhas a dar corpo às intenções de qualidade vaticinados pelo Pascoal, o que teríamos, uma quinta feira em que os policias se revoltarão com o desnorte do Governo de Passos Coelho e em que Mário Soares teve um rebate de consciencia(por erros passados) e pugnou por uma revolta cívica contra este Governo e um dos seus mentores, Cavaco, por estes destruírem o País venderem a Pátria e não honrarem o juramento de respeitarem a constituição...
Por isso esta quinta Feira é importante na revolta contra este governo e na esperança de dias melhores.
Açor

Luís Henriques disse...

"Há dias assim"... seguidor que sou deste blog há já uns quantos anos, neste post despeço-me enquanto tal. Pareceu-me, ao início, algo de interessante e que merecia seguimento e leitura, mas depois de ter estado "de molho" imenso tempo, retornou como "posto de turismo". Como blogger, tenho plena consciência de todo o trabalho do seu mantimento e, sobretudo, da manutenção de qualidade.
Votos de continuação e sucesso.
o "identificado" Luís Henriques

Anónimo disse...

Tem toda a razão, Luís.

Este blog já não vale um clik que seja.

É pub e mais pub institucional e comercial.

E, como se não bastasse, os autores escrevem mal e porcamente e pensam pior ainda.

O :ilhas morreu.

Rest in Peace.

Anónimo disse...

Julgo que, naturalmente, o "sonho" do Filipe não se esgota na degustação desta carta Outono|inverno. Aliás, tenho a absoluta certeza que as suas "notas" transbordam esta experiência no idílico vale por, metaforicamente, configurarem a sua visão para o sector.

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Transbordam esta experiência no idílico vale por, metaforicamente...


Palavra de honra: a única coisa que me apetece fazer é atirar um livro de Eça ou de Fernando Pessoa ou de Anthero ou de Sofia Mello Breyner ou do insuperável António Lobo Antunes...Á MELOA do Carlos!!!

Com força, com muita força.


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O que estes filhos do 25 fazem á língua de Camões deveria ser punido por lei!!!!! Deveriam ser obrigados a ir para um centro de instrução na ilha das Flores, onde seriam instruídos na (simples) arte do bem escrever.

Que tristeza!

Anónimo disse...

"Ou pelo menos com este vintage... Demasiada complexidade e textura para um prato tão simples e fresco."

A isto chama-se redefinir a essência da asnice!!!!

Anónimo disse...

Kir Royal, cocktail á base de champanhe que acompanha habitualemente ostras FRESCAS da Bretagne.

Tb acompanha bem os morangos frescos.

A complexidade/textura da bubida geralmente acompanha melhor sabores simples e intensos.

Pergunta ao chef Michel!