sábado, outubro 27

São coisas do governo que, aliás, não tarda.

Num outro dia, parado no sinal vermelho do semáforo (este bastião das sociedades ditas desenvolvidas), atrás de um motociclo que julgava fora de circulação por esta altura, dei por mim a pensar: que governo se pode esperar deste jovem frenesim que norteou toda a campanha dos vencedores destas legislativas?

Logo de seguida, e ainda sem resposta para a primeira interrogação, atrevido, lancei-me outra pergunta: o que se pode esperar deste novo governo?

Ao olhar para o meu concidadão - inquieto no assento da sua Zundapp KS 50, de 1968, azul, clarinha, com a barba grande, por fazer, e com o capacete, qual gorro, mal colocado na cabeça – fui acometido por uma súbita e enervante vontade de rir. Um rir nervoso, quase assutado, pela perigosa combinação: ele e eu, podendo até valorizar as mesmas coisas, não queremos, com toda a certeza, a mesma manifestação do governo por chegar.

Desventuradamente, estaremos todos lixados: ele, eu e o governo, pois, qualquer que venha a ser este último (novo em folha ou em segunda mão), terá sempre a falta da transversalidade necessária para nos governar aos dois, de forma igualmente eficaz. Não sei se as pessoas se importam com estas coisas ou se as consideram meras banalidades mas, a verdade é que elas deviam preocupar os governantes, quais “gajos porreiros” por altura do sufrágio que, depois, sabem a muito pouco ou quase nada, escondidos do eleitorado, a governar as suas vidinhas.

Não sei que contas farão os ilustres governantes mas, confunde-me o aparecimento de um número crescente de cidadãos a defenderem os estranhos benefícios do regresso à monarquia que, apesar de um ou outro momento de consideração para com os reinados, pouco mais fez das pessoas que, durante toda a sua história, quase serviram como carne para canhão apenas.

Tenho sido, muitas vezes, acusado de não ser absolutamente claro no discurso, alegando os principais detractores do estilo, preferindo uma maior incisão, que as pessoas precisam saber das coisas como elas são. Por outro lado, outros como eu, sabem que o mais importante – a médio e a longo prazo – não é fornecer o pescado mas, sim, fornecer a arte e o engenho para apanharem o pescado. Dito isto, com o fácil recurso a um chavão que muitos usam para se escudarem, num qualquer confronto que os obriga a medir os níveis de eficácia dos seus actos, gostaria ainda de relembrar que a “candeia que vai à frente” de facto “alumia duas vezes” mas, pode, também, ofuscar os mais incautos. Se é certo que a sua luz pode tirar as trevas do nosso caminho, é prudente não ignorar que o nosso corpo introduz a sombra, e a caminhada a sua variação.

Com a tristeza típica de quem preferia ter mais se contém a alegria de quem tem muito mais do que os seus antecessores e se pede que coloquemos os olhos num futuro – cada vez mais incerto –, para ambicionar um melhor patamar para os nossos filhos. É coisa para dizer: engana-me que eu gosto.

Tudo isto a propósito desta bonita máquina, à minha frente, também ela à espera que o sinal fique verde.


2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Carlos Rodrigues
Um post ao seu melhor estilo, é indubitável que este Senhor tem um estilo próprio, mesmo que algum dos que ele, põe no rol(dos críticos)seja eu, que me perdoe por isso, mas penso que a escrita social de mensagem, tem que se autonomizar do autor, naquilo que é necessário dar de firmeza para uma mudança social, sem fugir contudo à sincera identificação da mensagem politica personalista...
Esta motorizada(dita "moto". no seu tempo Açoriano)é um ícone dum tempo em que ter uma Zundapp 50, era quase tão significativo como ter hoje um "Ferrari" ou qualquer outro objecto quase "inatingível"...
Para além de tudo a Zundapp fundia a tecnologia Alemã e a Portuguesa(como gostaria que hoje, Alemanha e Portugal estivessem do mesmo lado) num objecto, bonito, versátil e capaz de percorrer a ilha superando a quase "impossibilidade" de a conhecer, resta dizer que muitos nestes tempos, quase não saíam do lugar onde nasciam...
Toda a lógica da luz e da sombra pode fazer sentido quando a luz é usada em sentido individual, onde a luz só ilumina alguns(diria "iluminados")mas há outra luz aquela que varre a escuridão e encontra os seus habitantes aturdidos pela luz, mas como tudo os olhos depressa se habituam à luz e esta luz não cria sombra pois incide na própria sombra naqueles que mais necessitam de luz e não como agora naqueles que não só lhes é entregue o pescado, como a tecnologia e os meios materiais para os apanhar...
Estamos de facto(como o Post nos diz, à sua maneira)num tempo em que a luta de classes(ou o que quiserem)mudou o seu paradigma e em vez de fazer mover a sociedade para o futuro(com o tendencial nivelamento social)se pretende retroceder não só para um patamar do passado mas com a perda da própria consciencia social, como se fosse razoável que todo este retrocesso fosse feito com a aceitação masoquista das massas populares.
Não é tanto a comparação da práxis monárquica versus a republicana, que me move na sua critica, é mais a autentica aberração de alguma família, poder ter alguma especial aptidão , "divina" de nos governar.
O Post pode ser um mote para repensar todo o momento que se vive e os caminhos que se apresentem como alternativos.
Parabéns e saudações
Açor

Anónimo disse...

Falta muito pouco para saber qual a composição do governo.
Mas podemos colocar aqui alguns palpites, que os poucos passarinhos que não migraram, vão contando.
Dou palpite de um Secretário e um Diretor Regional:
Sérgio Ávila (mantém-se) e Francisco Madeira, ao que consta, futuro titular do Turismo.