terça-feira, outubro 23

Murdock do Mussulo


Vende-não-vende, há acordo mas ainda não. Entre informação, desinformação e contrainformação, vai a informação nacional sendo comprada a atacado por Angola – que tem um rol de coisas boas e outro rol de coisas menos que boas – não consta que a liberdade de imprensa conste (ainda) no primeiro rol.

Na semana passada ficámos a saber (?) que a Controlinveste “assinou há vários meses” um acordo com um grupo angolano, estando por concretizar a mudança de propriedade. Era assim que, na passada quinta-feira, a TSF corria atrás do prejuízo de ver assuntos da sua própria casa serem conhecidos antes por outros, pois que o gato saiu do saco via Diário Económico, propriedade da Ongoing Media.

A notícia na antena e no site da TSF teve vida curta. Foi rapidamente retirada e desde então, silêncio na linha. O grupo parece ter ordenado aos seus títulos a tática “tartaruga” das hostes romanas: cerrem os escudos e nada sai, nada entra. De resto, a prática comum quando há vendas de grupos de comunicação.

Tão depressa quanto irrompeu o caso, também tão depressa parece ter saído do radar, embora o Expresso, já na sexta-feira, tenha dado a coisa por consumada, titulando “Controlinveste assume acordo com angolanos” e trazendo a lume um dado no mínimo perturbador, no máximo escabroso: uma “contratação recente da Newshold foi a de Filipe Passadouro - antigo colega do ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, na Finertec, que assumiu em julho o cargo de administrador financeiro”. A este propósito e sobre as minhas considerações, vide título.

Certo, é que Angola está a tornar-se um peso-pesado na Comunicação Social portuguesa. A confirmar-se a notícia da venda dos títulos da Controlinveste à Newshold, este negócio vem somar-se à aquisição do semanário "Sol", de uma participação de 15,08% na Cofina, dona do "Correio da Manhã", e a exploração indireta do diário "i”. Igualmente, a Newshold é uma potencial candidata à privatização da RTP.

O porquê do interesse angolano nos media portugueses deve fazer refletir. A Comunicação Social portuguesa, comercialmente, não é particularmente atrativa perante outros potenciais setores para investimento angolano. Resta que Angola esteja a comprar a Comunicação Social portuguesa pelo seu cariz estratégico, o que se afigura bem mais verosímil. E se assim for, a sucessão de José Eduardo dos Santos poderá ter um dos principais campos de batalha nas páginas dos jornais portugueses.

A semana passada foi negra para a Comunicação Social. O caso Controlinveste não esteve só, já que na mesma sexta-feira a Lusa e o Público saíram à rua e calaram telexes e rotativas. O jornal vai despedir 48 trabalhadores até ao final do mês; a agência noticiosa (que, por sinal, é detida em 23% pela Controlinveste) tenta inverter o corte de 30% no seu contrato programa com o Governo, previsto no Orçamento de Estado para 2013.

No turbilhão de incertezas em que caiu Portugal nos últimos meses, junta-se portanto agora a incerteza nesta condição essencial para a democracia: a imprensa livre.

O caso Controlinveste pode vir a ter reflexos muito concretos bem perto de nós. O grupo de Joaquim Oliveira detém títulos históricos da imprensa portuguesa – entre os quais, a 90%, o “nosso” Açoriano Oriental. O açor impresso a negro no cabeçalho do AO nunca foi intencionado como presságio, mas nos dias que correm, até parece. O que estará no futuro do jornal com maior tiragem da Região?

7 comentários:

Carlos Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Rodrigues disse...

Lisa,
Portugal - em vários sectores - parece estar a ser vítima de uma qualquer depuralina. Só a regularização dos activos tóxicos das empresas-mais-ou-menos-capitalistas é que deverá ser promovida a partir dos bolsos de todos nós.
Tal é a sede de equilibrar a Balança Comercial de Portugal, que o estamos a vender às peças (que é o que os sucateiros fazem aos carros sem conserto, depois de grandes acidentes).
E o nosso AO? Oxalá não nos privem dele. Será que basta o teu olhar atento?
Cheers


Anónimo disse...

Cara Lisa Garcia
É interessante que este excelente post me faça encontrar pontos de reflexão e contacto com o inicio do apogeu da imprensa em Portugal(e também,o momento que ela mais foi controlada)refiro-me aos governos de Cavaco 1º. Ministro(PSD)e o momento actual que é de grande crise e declínio dos media em Portugal...
Em 1º. lugar num e noutro momento era o PSD que governava em Portugal e Eduardo dos Santos e o MPLA em Angola.
2º. Num e em outro momento existiram e existem tentativas para controlar os órgãos de comunicação.
3-Num e noutro momento os governos eram de maioria Parlamentar.
4-Num e em outro momento as relações entre Angola e Portugal corriam em grande União entre Governantes.
Os pontos que diferenciam um e outro momento( mas com uma lógica comum) são o facto de no tempo passado, Portugal comprava mais a Angola do que vendia, a situação económica de Angola era na altura inferior à actual, o inverso se dava com Portugal.
Num e noutro momento o controle dos média era maior em Angola mas Portugal tentava imitar os métodos de controle.
Enquanto no Passado apareciam novas empresas de comunicação a um ritmo avassalador hoje abrem falência a um ritmo assustador.
Antes o PSD e Cavaco tinham pretensão a um longo "reinado", hoje Passos conta o tempo para realizar uma tarefa.
Por isso até aceitam e comportam~se de forma a conseguir estas mesmas derrotas, nas eleições futuras.
Tudo isto me faz pensar no seguinte:
Será que Passos, Portas, Gaspar e Borges, têm uma missão a cumprir num curto espaço de tempo que não necessitam de manter o controle dos media para o futuro próximo?
Será que o controle actual pretendido é exclusivamente para cumprir uma missão?
Será que esta missão é a venda de tudo o que for possível vender ao desbarato ao serviço de patrões internacionais?
Será que estes interesses não se confinam exclusivamente a Angola mas a outros senhores e Países que
pretendem dominar Angola, sendo Eduardo dos Santos um testa de ferro destes interesses?
algumas especulações raiando a teoria de conspiração, bem menos interessantes do que o texto comentado.
Mas seja para sugerir estas ideias seja para outras mais profundas e substanciais, o post é uma pérola que nos deve alertar para a desgraça que é perdermos a nossa comunicação social, mãe da liberdade e fonte da nossa cultura.
Muito oportuno,profundo e a fazer pensar no nosso momento civilizacional.
Açor

Anónimo disse...

O porquê do interesse angolano nos media portugueses deve fazer refletir. A Comunicação Social portuguesa, comercialmente, não é particularmente atrativa perante outros potenciais setores para investimento angolano. Resta que Angola esteja a comprar a Comunicação Social portuguesa pelo seu cariz estratégico, o que se afigura bem mais verosímil.
---

se não é atractiva qual é o "seu cariz estratégico"???
---

trata-se de um investimento pouco atractivo cujo cariz estratégico é considerável??

lol

Anónimo disse...

Relvas, embaixador e plenipotenciario de Angola em Portugal.

Os Portugueses não tem amor próprio.

São patéticos. Vendem-se por um prato de lentilhas e por umas cunhas para os boys.

Vergonhoso!!

Moxico disse...

Lisa,

Vai antes brincar com as bonecas...

Anónimo disse...

Não percebo qual é o problema. A Mota Engil e muitas outras companhias tugas investem em Angola.

A diferença é que as companhias Portuguesas em Angola não controlam membros do governo de Eduardo dos Santos...

Desde quel eles e os Chineses comprem companhias que não valem um tusto por milhões...tudo bem!!! LOL