quinta-feira, outubro 21

Jornalismo de investigação...

ou Artigo de opinião?

"A campanha promocional «visitAzores com voo incluído» arrancou oficialmente na passada sexta-feira, oferecendo “pacotes de visita a qualquer ilha dos Açores entre os 250 e os 260 euros por pessoa, incluindo estadia e viagem de avião”. Era assim que a imprensa nacional noticiava o lançamento desta iniciativa dos empresários hoteleiros açorianos, através da Câmara de Comércio dos Açores, com a bênção do Governo Regional.
A realidade, no entanto, está muito longe de ser esta. O site oficial da campanha tem até uma componente oficial: embora tenha um endereço próprio (http://www.vooincluido.com/) publicita-se como sendo parte integrante do novo site oficial milionário do turismo açoriano (http://www.visitazores.com/vooincluido), e até usa como símbolo o logótipo oficial do Turismo dos Açores. É, portanto, oficial.
Mas o lado aparentemente sério parece que pára aí mesmo e o site é, no mínimo, uma confusão destinada a afugentar qualquer potencial comprador.
Desde logo, as datas anunciadas não correspondem ao que o site oferece. Até ao dia 12 de Novembro não há qualquer possibilidade de reservar o que quer que seja para qualquer ilha do arquipélago. Só a partir de 13 de Novembro é que começam a aparecer opções, e mesmo assim apenas para a ilha de S. Miguel: depois de termos testado exaustivamente este site, com centenas de tentativas diferentes, não conseguimos reservar uma única viagem para qualquer das outras ilhas. Não quer dizer que não existam, mas a probabilidade é mínima, se não inexistente.
E depois, é um site claramente destinado a pôr qualquer um maluco. Podemos jurar que realmente conseguimos um resultado numa data algures em Dezembro para a ilha Terceira. Mas depois tentámos em datas anteriores para perceber a partir de quando é que esse destino estava disponível – mas ele simplesmente desapareceu. E depois de mais umas 20 tentativas, desistimos…
Outra novidade é que estes pacotes “de 250 ou 260 euros” estão à venda no site por um preço... ligeiramente diferente: o pacote mais barato começa nos 349 euros e termina acima dos 500 euros. Não se pode dizer que seja propriamente o que foi publicitado através da comunicação social e no mínimo deixará muitos potenciais clientes com a sensação de estarem a ser enganados…
Em S. Miguel, o preço mais baixo é de 349,94 euros, em hotéis como o Confort Inn, Ponta Delgada e Barracuda (e em turismo rural na Quinta da Abelheira). Mas depois passa para 378,94 euros na Quinta Nª Sª de Lourdes, Tradicampo - Casa a Arribana e Casa da Talha, e no S. Miguel Park Hotel. Depois passa para 406,94 euros no Hotel Camões, Hotel Talisman, Hotel do Colégio, e nos hotéis apartamentos Gaivota e Antília. Depois o valor passa para 423,94 euros no VIP Executive. Para 434,94 euros no Monte Inglês e Hotel Avenida. Depois, passa para 469,94 no Caloura Resort Hotel. Para 491,94 nos hotéis Marina Atlântico e Bahia Palace. E o mais caro da série é o Terra Nostra, com um preço de 520,94 – que, curiosamente, é sensivelmente o dobro do preço máximo de 260 euros que é anunciado…
Pelo único resultado que conseguimos da Terceira (e posteriormente desaparecido), registamos que o preço mínimo era de 348,80 euros e o máximo 578,80 euros pelos ditos 5 dias.
O sistema de pesquisa, apesar de ser alegadamente desenvolvido por uma empresa internacional especialista no sector, é de bradar aos céus. A primeira confusão são os campos “Partida” e “Chegada”, em que o utilizador fica logo meio confuso, chegando a colocar a data de início nos dois campos… O conceito correcto que é utilizado no sector é “Partida” e “Regresso” – não “Chegada”…
Deve ter a ver com algum tipo de tradução mal feita e a inexistência de controlo por parte do gestor. Se não soubéssemos que são os empresários associados da Câmara de Comércio a controlar este projecto, talvez não acreditássemos...
Mas não é a única inconveniência. A mais clara – e notória para quem tem alguma experiência em fazer reservas turísticas pela internet – é a falta de oferta de alternativas. O normal nesta tecnologia é que, não existindo viagens para as datas que o utilizador escolhe (ou vagas no hotel escolhido), o site forneça de imediato alternativas: nesta data não dá, mas nas seguintes há lugar (ou neste hotel não pode, mas nestes pode). Muito avançado? Nem por isso e é mesmo o padrão nos sites de qualidade. E, pelo menos a ter em conta o dinheiro que o Governo já desembolsou neste site ao abrigo do apoio que prometera ao nível da promoção da estratégia, este devia ser um site de altíssima qualidade. \
É que a Secretaria Regional da Economia pagou mais de 70 mil euros por este site – uma fortuna impensável paga a entidades de fora dos Açores, o que permite perceber que não aprendeu nada com o episódio do site oficial do turismo.
Se vale? Nem de longe nem de perto – nem mesmo com todos estes erros corrigidos… De resto, tendo em conta que a empresa “Ambity” já tinha ganho a exclusividade do negócio, o mínimo seria imaginar que a criação do site fosse a sua contrapartida por agarrar este pequeno monopólio...
De resto, nas “Condições Gerais” do site percebe-se que a empresa sabe negociar contratos: “A Ambity SA não garante que a página na Web não será interrompida ou que não terá erros”. Ou seja, tendo em conta que já recebeu 70 mil, se calhar já nem lhe interessa vender nada..."

Pacotes promocionais de 250 euros vendidos entre 350 e 520 euros...
Escrito por Manuel Moniz
Terça, 19 Outubro 2010 19:02

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