sexta-feira, outubro 29

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Fotografia Mário Roberto
O destaque no Y:
«Não tem sido comum, na poesia portuguesa mais recente, um livro ter no seu centro uma história tão honesta e tão fortemente impressa no seu propósito contra o imediatismo - um imediatismo a que a sua autora, Renata Correia Botelho (S. Miguel, Açores, 1977), se poderia muito bem arriscar, paradoxalmente, ao publicá-lo apenas nove meses depois da morte da cantora Lhasa de Sela, o acontecimento que serviu de ignição para "Small Song" (Averno, 2010)».
A crítica a 'Small Song':
«Um dos versos iniciais do poema "The Rival", de Sylvia Plath, cumpriria eficientemente a função de epígrafe aos melhores momentos de "Small Song" (Averno, 2010): "you leave the same impression of something beautiful, but annihilating". O livro tem, neste sentido, uma aproximação mais óbvia a "Avulsos, por causa" (2005) do que a "Um Circo no Nevoeiro" (Averno, 2009). A principal diferença entre "Small Song" e "Avulsos, por causa", é que, enquanto a separata da revista Magma recorria, com maior ênfase, à primeira parte do verso de Sylvia Plath, este livro mais recente reparte a beleza ("pela manhã, junto as pétalas tenras/caídas no lençol, e rezo baixinho,/com os pardais um verso branco." ) e a aniquilação ("oiço ainda os corpos a vincar a noite,/um campo minado de corações tristes/explodindo o rosto na parede")numa tensão substancialmente mais ponderada. A morte - e não só a de Lhasa de Sela, embora esta seja o detonador do livro - é uma das notas repetidas ao longo de "Small Song". Surge nos seus traços mais intuitivos e, por isso, mais espectáveis, como a ausência ("sabemos que uma voz não volta/a coincidir com o seu rosto") ou a sua aproximação no corpo ("o tempo, espelho tosco com que/fintamos a morte, apontado para nós/como a lança do arqueiro;/hesita, por um instante apenas,/para depois avançar, implacável/ e sem retorno, na nossa direcção.")».
E os parabéns do :ILHAS por este destaque mais do que merecido.

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