quinta-feira, julho 15

Jornaleiros

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Corre por aí, de porta em porta, misturado com a publicidade de "secos e molhados" e tralhas "electrodomésticas", um dito "jornal" Açores 9 que não esconde ser mais do que um boletim de publicidade institucional do Governo Socialista. No alegado pasquim o Governo Regional já injectou milhares de €uros. Só na "edição" de Julho deve ter investido boa parte da dotação orçamental para a propaganda do regime. Depois de uma "primeira página" com o resultado de uma sondagem onde, convenientemente, se lê que "PS esmaga Berta Cabral" vamos folheando páginas inteiras de "publicidade institucional". Da promoção dos lacticínios Açorianos pelo Governo Regional, ao concurso regional de empreendedorismo, há lugar para tudo. São anúncios de página inteira, e a cores, e como não podia deixar de ser também replicam o Karaoke no Parque Século XXI, em anúncio pago pela Secretaria Regional da Ciência e Tecnologia, que foi já publicitado, ad nauseam, em jornais diários de efectiva circulação. Como se presume, apesar da irrelevância da promoção de um Karaoke e Insufláveis num parque de diversões público, trata-se de publicidade que representará parte considerável do sustento indispensável da referida publicação. A mesma, recorde-se, é gratuita mas além da página da net, o seu "editor-director comercial-proprietário", Paulo Ricardo Ferreira de Melo, garante uma edição em papel de 50.000 exemplares dos ditos folhetos. Ninguém os compra mas todos os recebem debaixo da porta com o demais castigo do infomail. Só para termos uma ideia do sorvedouro de dinheiro que por ali deve andar o Açoriano Oriental, "o mais antigo jornal Português", que é uma publicação de referência e com uma vasta carteira de assinantes e de leitores que efectivamente o compram, teve em Junho uma tiragem média de 5.000 exemplares. São muitos zeros de diferença em edição e muitos zeros a mais nos custos de um boletim de paróquia distribuído gratuitamente mas pago, claro está, pelos contribuintes. Isto é tudo menos "jornalismo". Que o façam à conta do respectivo risco empresarial, do "proprietário" em nome individual que gere uma das maiores fatias de publicidade institucional da Região, seria normal em Democracia. Que o façam sem risco, trabalhando com a rede dos dinheiros públicos, disfarçando o facto de serem uma espécie de filial da "Acção Socialista", em formato de boletim de freguesia, com a presença de colunas assinadas por deputados regionais no cantinho do "espaço parlamento", é que não é digno de um Estado de Direito. Num Estado que tem instâncias de controlo, designadamente judiciais como o Tribunal de Contas, o uso de dinheiros públicos para projectos privados, governamentais, ou partidários, devia ser escrupulosamente escrutinado. Num Estado, que se diz Democrático, o Governo jamais devia financiar um projecto editorial que mais não é do que um "papagaio" de papel que replica, com a periodicidade mensal de 50.000 edições, a propaganda do regime. Num Estado de Direito Democrático ninguém teria dúvidas de que este seria um paradigma de "concorrência desleal" com os órgãos de comunicação social cujos pergaminhos lhes permitem sem vergonha ostentar tal nome e cujos profissionais se podem afirmar como "jornalistas". Fora deste domínio entramos no campo do anedotário e dos jornaleiros do regime de "pão e circo". O circo vai dando enquanto não faltar pão na boca do Povo. Até quando ?

João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com

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