SMALL IS BEAUTIFUL *
A cada ano que passa sinto uma necessidade crescente de gozar férias nas ilhas. Não apenas em São Miguel, mas nas outras ilhas. A Graciosa, em especial, por razões pessoais, as outras pelo carácter natural intrínseco e pela tranquilidade.
No entanto, e apesar de São Miguel constituir-se de forma equidistante do restante arquipélago considero que o crescimento perpetrado nas ilhas mais pequenas não tem sido o mais correcto. Isto porque a tendência tem sido a de crescer com base em pressupostos erróneos de desenvolvimento e em valores desajustados da(s) realidade(s), dando lugar a formas pouco harmoniosas e nada condizentes com o carácter intacto e qualitativo inerente a estas ilhas.
A sociedade de consumo e o consumo contemporâneo são construídos socialmente mas acarretam, nesta sociedade de abundância e desperdício, “prejuízos” cada vez mais significativos ao nível do meio ambiente. O turismo e os problemas inerentes à sua massificação (não assumida nos Açores) são um bom exemplo para esta “dialéctica” do consumo moderno. São, fundamentalmente, problemas do foro ecológico, nomeadamente: a poluição do ar; da água; a destruição de paisagens; um urbanismo incipiente; a saturação dos recursos e, consequentemente, do destino turístico. Na visão extrema de Jean Baudrillard, “(…) o sistema, no fundo, é parasita de si mesmo”, na medida em que “(...) todas as sociedades desperdiçaram, dilapidaram, gastaram e consumiram sempre além do estrito necessário, pela simples razão de que é no consumo do excedente e do supérfluo que, tanto o indivíduo como a sociedade, se sentem não só existir mas viver” (in A Sociedade de Consumo).
O consumo é inerentemente social. E explicar o consumo dos serviços turísticos não pode ser separado das relações sociais, nas quais estão circunscritos ou associados. Nos Açores esta questão é primordial pois muito está por fazer ao nível da qualificação e formação de quem está associado ao turismo (felizmente há excepções!). A ausência de projectos consistentes prejudica o futuro da operação turística. O lucro pelo lucro não qualifica. Destrói. Por melhores que sejam as campanhas mediáticas de promoção do Destino Açores a experiência presencial e a informação que é transmitida a posteriori constitui o melhor veículo de promoção - pela satisfação, é óbvio. Apesar de este ser um destino com um elevado potencial no desenvolvimento da acção turística, muito há a construir ao nível da coordenação da oferta e dos serviços, da informação, das infra-estruturas de apoio e no saber e prazer em receber (bem!).
* edição de 21/08/07 do AO
** Email Reporter X
*** Fotografia X Francisco Botelho
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