sexta-feira, julho 7

Viva o Luxo

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(legenda em aberto aos impropérios que ocorrerem à imaginação do leitor)
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Para alguma coisa há-de servir a consciência do pouco que nos faltou para ganhar o Mundial 2006. Depois de tantos nervos, já que tenho os braços do cadeirão desfeitos em farripas, vou dar-me ao luxo de me estar nas tintas para o resultado do jogo contra a Alemanha.

Tinha eu onze anos quando sofri como um velho cardíaco para que Portugal ganhasse o então honroso 3º lugar no Mundial de 1966. Por conseguinte, já dei o meu litro de sangue hipertenso. E já nesses tempos, ainda sob o efeito ansiolítico dos campeonatos europeus recentemente ganhos pelo Benfica, eu era um indivíduo armado em "blasé" cujo objectivo na vida era ser completamente insensível. Sem sucesso.

Até hoje! Porque hoje declaro oficialmente, com a segurança que me é dada pelos êxitos da selecção portuguesa durante a presente década, que não quero saber se Portugal perde ou ganha o 3º lugar. Para quem recentemente foi vice-campeão da Europa, tudo o que seja abaixo de vice perde o viço. Terceiro ou quarto? Quero lá saber.

Uma ressalva em letras muito pequenininhas: é claro que isto digo eu hoje, ainda sob o efeito do azar francês e a uma certa distância do jogo com a Alemanha. Quem sabe se daqui a um dia ? senão mesmo de uma hora ? se esvai este sossego? Ninguém? Mais uma razão para aproveitar enquanto dura. É que sabem tão bem - e têm cores tão bonitas - estas tintas nas quais se está!

Importa analisar este luxo porque se trata de um luxo que os portugueses nunca tiveram antes. Em 1966 era fundamental ganhar aos russos para demonstrar que não tinha sido uma sorte Portugal chegar às meias-finais. Até porque Portugal foi roubado nessa meia-final contra a Inglaterra ? uma roubalheira tão grande que até hoje os ingleses de todas as gerações subsequentes andam a pagá-las amargamente.

Mas em 2006 não é de modo nenhum fundamental que Portugal ganhe à Alemanha. Não tem nada para provar. Não existe incerteza nem ansiedade quanto ao valor da selecção e de Scolari. Que alívio!

Perder com a Alemanha nada retirará e ganhar à Alemanha nada acrescentará. Eis o luxo e eis um novo motivo de orgulho. Viva o requinte de ter ganho direito à indiferença!

A Alemanha, abaladinha no orgulho pela chibatada que levou da Itália em solo pátrio, vai estar doida para ganhar, coitada. Ai, mas que maçadoras são as inseguranças destes países do primeiro mundo que trazem todas os complexos e todas as ambições nacionais para o campo de futebol...e que bem que sabe sermos nós, desta vez, a queixarmo-nos dessas coisas e outros a incarná-las!

Se é assim tão importante para a Alemanha ficar com o 3º lugar, até que seria simpático da parte de Portugal facilitar um bocadinho a realização desse sonho. Porque não? Que diabo, é apenas da final dos "losers" que se trata. Não é um caso de vida ou de morte. Estejamos acima dessas coisas. E viva o luxo de nos estarmos nas tintas.

Nunca pensei dizer isto na vida, mas pronto, aqui vai, com toda a sinceridade, para os nossos amigos alemães: Nicht problema! Que ganhe o melhor!
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O Jogo visto por Miguel Esteves Cardoso.
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(legenda:...Um Adeus Português !)
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posted by João Nuno Almeida e Sousa


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