É já noite quando vou pegar nos jornais que gostava de ter lido de manhã. Há dias em que apesar do meu ritual de Tabacaria todas, ou quase todas, as manhãs só consigo parar para folhear os jornais quando o dia já vai anoitecendo. Hoje foi um desses dias e no Diário de Noticias vejo uma pequena noticia que me entristece e que me fez vir aqui desabafar.
A Zero em Comportamento, um dos projectos culturais mais interessantes existentes em Portugal vai cessar funções. Uma hibernação forçada pelas circunstancias próprias de um país pequeno, atrasado, desajustado e fora do tempo.
A Zero em Comportamento oferecia à capital do país uma relação fiel e regular com algum do melhor cinema que se faz no mundo, que isso acabe é para mim motivo de pesar.
Vou abrir aqui um parêntesis pessoal (fui, em tempos, Amigo da Cinemateca, n.º 129, vivi na velha sala da Barata Salgueiro momentos incríveis de descoberta e de fruição do melhor cinema, guardo preciosamente as memórias dos momentos em que após os filmes, sai-a da sala e descia a Av. da Liberdade até ao elevador da Gloria para subir para o Bairro Alto para umas cervejas no Estádio e ao lado do elevador da Gloria o Cine 222).
O início da actividade da Zero em Comportamento está muito próximo do meu abandonar de Lisboa, por isso foram poucas as sessões programadas por eles que eu presenciei mas, na imprensa, fui acompanhando o seu percurso, as apostas arrojadas, os desafios que eles lançarão ao publico amante de cinema, os riscos que correrão e isso fez-me sentir próximo desse projecto tão diferente. É por isso que estou triste, por isso e, também, porque chegamos na MUU a pensar e a falar com a Zero em Comportamento para estabelecer parcerias, como forma de trazer alguns desses filmes aos Açores. Se eles, que estavam em Lisboa se virão obrigados a parar chego a pensar que o mesmo pode nos acontecer a nós, à MUU, que estamos tão longe de Lisboa.
Deixo aqui um apelo: todas as pessoas que alguma vez foram tocadas pela beleza de uma experiência cultural – um poema, uma sequência de um filme, um tema musical, um quadro, uma fala de um actor, um desenho de um arquitecto, uma frase de um romance... – não deixemos que o futuro seja só Big Brother’s.
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