“The fault, dear Brutus, is not in our stars, but in ourselves.”
Desde o dia 25
de outubro que o Partido Socialista dos Açores vive baloiçado entre um estado
semi catatónico, de quem acabou de sair de um desastre rodoviário, e a denegação
própria de quem se recusa a reconhecer uma realidade física, concreta e
palpável. Perante este tortuoso tumulto interior o Partido, e principalmente a sua
direcção, refugiaram-se no discurso da vitória moral, da usurpação do poder, da
ilegitimidade parlamentar, da desconsideração institucional, dos “pecados
capitais”, do “maior grupo parlamentar” e todo um outro conjunto de
argumentários cujo denominador comum, por mais verdadeiros que sejam todos esses
raciocínios, é a rejeição do reconhecimento que o cenário político regional
mudou diametralmente desde esse dia até à realidade, que temos hoje, das direitas
instaladas no poder.
Esta neurose psíquico-politica
em que o Partido tem vívido, desde esse dia traumático, tem levado a, por um
lado, uma estupefacção silenciosa da sua militância, remetida a uma espectativa
hesitante e medrosa e, por outro, ao calculismo egocêntrico e autista da
direcção do Partido, cujo distanciamento altivo e cobarde tem levado à renuncia
de um prestar de contas lúcido, corajoso e transparente sobre as causas e as
consequências políticas desse fatídico dia 25 de outubro.
Recorrentemente,
ao longo destes dias, a pergunta mais repetida, quer nos megafones da
comunicação social, quer no relativo recato das conversas entre militantes, foi
sobre a continuidade, ou não, de Vasco Cordeiro na liderança do Partido. Após se
ter confirmado o assumir de Vasco Cordeiro do seu mandato como deputado, eis
que esta sexta-feira descobrimos o porquê da sua permanência. Vasco Cordeiro
fica para poder assumir, no longínquo mês de julho de 2022, a Presidência do
Comité Europeu das Regiões, cujos membros tem necessariamente que ser
representantes eleitos de autoridades regionais ou locais.
Pois, a questão
que agora se coloca é: quais as consequências para o Partido desta permanência?
Em face do cataclismo eleitoral, Vasco Cordeiro e a sua direcção, optam pela
continuidade despreocupada, quase ingénua não fora maquiavélica, ou então uma espécie de pausa, como que a pedir um time-out no jogo
político, cultivando ainda uma vã esperança de que o adversário possa, por
alguma razão, soçobrar a breve trecho, permitindo-se assim a sua sobrevivência institucional
para, em última instância, assumir outros voos na rota Estrasburgo – Bruxelas e,
também, deixar que a restante direcção possa passear a sua travessia do deserto
no confortável regaço da imunidade parlamentar. Esta estagnação, este deixar
como está político, fazendo de conta que os resultados eleitorais não representam
uma derrota do Partido, querendo-nos fazer acreditar que não houve desgaste,
exaustão e censura dos eleitores à governação do Partido, às escolhas
individuais e aos desmandos pessoais e colectivos de 24 anos no poder, representa
uma condenação do Partido, no médio e no longo prazo, ao cadafalso da irrelevância
política. Não querer, por puro calculismo e egoísmo político fazer a devida
catarse e a necessária ruptura com os resultados eleitorais e com a realidade
do novo panorama político regional representa o total e completo claudicar da
ideia de um Partido Socialista honrado nos seus compromissos, verdadeiro nas
suas convicções e, acima de tudo, integro e desprendido, pondo sempre na frente
da sua actuação política o futuro e os interesses de todos em lugar de apenas
uns e dos Açores em lugar dos seus.
Ou Vasco
Cordeiro compreende já a sua responsabilidade neste momento e assume-se como agente
fundamental dessa ruptura, ou as bases e a militância exigem e demonstram essa
verticalidade e essa coragem para cortar com o que de pernicioso existe no seu passado,
ou o futuro do Partido Socialista dos Açores é a ruína e a irrelevância por
muitos e bons anos, ou, pelo menos, os anos que os açorianos levarem a
fartar-se, também, da governação desses que agora se vão apressar a entrincheirar nos
imensos palácios do poder e da governação...
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