ou curtas impressões caricaturais sobre o Governo das direitas
encostadas…
a) Presidente do Governo Regional
No seu habitual estilo palavroso,
gongórico até, José Manuel Bolieiro, o nosso Boli amigo, apresentou ontem, nas cercanias
do Solar da Madre de Deus, nessa mui nobre cidade de Angra do Heroísmo, aquilo
a que o próprio chamou de um Governo não “acomodatício” e “transformista”
sic. A principal característica de Bolieiro, nestes últimos anos, foi estar
quieto, quase escondido, passando pelos pingos da chuva, como uma gata em
telhado de zinco quente, de forma que pouco mais lhe conhecermos de acção
política do que uma muito alardeada simpatia, a que agora se acrescentou uma
denodada capacidade negocial. Temo, tanto pelo claudicar político e ideológico
dos Acordos de Governação e de Incidência Parlamentar, como pela constituição do
próprio Governo, que tais dotes estejam grandemente inflacionados e que o que
fique do novo Presidente do Governo não seja mais do que a retórica barroca de
um magistrado frustrado. A herança que ficará deste governo, das direitas
regionais, só o futuro dirá e, se lhe não podemos dar o habitual estado de graça,
pela voragem sórdida e apressada do seu assalto ao poder, podemos, pelo menos,
dar-lhe o regimental benefício da dúvida.
b) Vice-Presidente
Artur Lima é, por todas as razões
e mais alguma, o mais assumidamente transformista dos membros deste governo. Uma
verdadeira Belle Dominique da astúcia política, com décadas de travestismo parlamentar
no seu currículo. Mas, o facto significativo da orgânica deste governo não é
tanto o estatuto de Vice, que se coaduna perfeitamente com a soberba e a panache
de Artur Lima, mas o assegurar cumulativo da pasta da Segurança Social, que
guarda dentro de si, qual bomba relógio, o ponto fulcral da coligação com o
CHEGA!. O cumprimento, ou não, das promessas de ataque, sem dó nem piedade, à “subsidiodependência”
são o seguro de vida desta coligação e, muito me espantaria que, no curto prazo, não desse a Artur Lima um achaque de “irrevogabilidade” que fizesse cair esta
Gaiola de Malucas que é esta coligação das cinco direitas insulares.
c) Secretário Regional da Saúde e Desporto
Clélio Meneses fica com a pasta
mais efervescente do momento. A gestão da pandemia, até aqui protagonizada por
Tiago Lopes e Vasco Cordeiro, tem sido feita na base do pânico e do extremismo
ideológico do fascismo sanitário, criando não só profundas feridas sociais, económicas
e institucionais, como divergências acentuadas com os principais protagonistas
do sector: médicos, enfermeiros, etc. Acresce, que esse era já, cronicamente, um
sector profundamente doente, com a gangrena da dívida e das listas de espera a
crescer exponencialmente de dia para dia, mais do que qualquer mundana cadeia
de transmissão. A promessa, irrealizável, de garantir a formação de médicos
especialistas é apenas um exemplo de como a gestão de espectativas é ainda mais
importante para estes políticos do que a realidade dos factos e a verdade dos
factos é que a região não tem nem competência, nem meios, para formar médicos
especialistas.
d) Secretária Regional da Educação
A grande questão sobre Sofia
Ribeiro é há quantos anos não entra numa sala de aula ou corrige um teste? Podemos,
de balde, reconhecer-lhe competência e inteligência para desempenhar qualquer
cargo, mas ficará sempre a questão se não estaria melhor numa pasta de Relações
Exteriores, ou Fundos Europeus, do que a remexer no caldeirão reivindicativo e
hiper-sindicalizado do sector da educação. O nome com a pasta é mais um daqueles
sinais claros de como este é mais um governo de desenrascanço político-partidário
do que verdadeiramente “transformador”. Por outro lado, a colocação de Sofia
Ribeiro a número quatro do Governo é mais um tiro no porta-aviões da ambição política
de Pedro Nascimento Cabral, a quem calhou a fava de todo este bolo-rei
governativo: a liderança da bancada parlamentar.
e) Secretário Regional das Finanças, Planeamento e Administração
Pública
Num momento como o atual é incompreensível
e, até certo ponto, indesculpável a inexistência de uma pasta da Economia. A agregação
de Finanças, Planeamento e Administração Pública leva a temer o pior em
qualquer uma destas áreas. Que, quer pela sua dimensão gargantuana, como pelos
desafios com que estão confrontadas não permitem perspectivar que um secretário,
por mais competente que seja ou experiência que tenha possa, de facto, correr a
todas as suas solicitações. Joaquim Bastos e Silva é uma figura com provas
dadas e craveira intelectual, mas gerir as finanças públicas regionais, ainda
por cima herdando a pasta das mãos de alguém como Sérgio Avila e, ao mesmo
tempo, levar a cabo a reforma da administração pública regional, que tem o peso
que tem na vida dos açorianos, é uma tarefa hercúlea, mesmo para um leitor assíduo
do Financial Times.
f) Secretário Regional da Agricultura e Desenvolvimento
Rural
António Ventura é uma figura
inenarrável, que representa, neste Governo, o pior que o costumeiro caciquismo
político regional tem para oferecer. Talvez por isso Jorge Rita se tenha
apressado a vir elogiá-lo publicamente. Aguardo com curiosidade a prometida “digitalização do sector
primário”. Por outro lado, reduzir os muitos desafios da transição do sector
agrícola da massificação leiteira para outras culturas às suas condições edafoclimáticas é manifestamente pouco, para aquele
que é o principal sector da nossa economia. Já agora, edafoclimáticas não leva hífen.
g) Secretário Regional do Mar e Pescas
Consta que o novo secretário do
Mar adormece nos seus próprios julgamentos, nada mais adequado a quem se
pretende lançar aos balanços ondulantes do vasto mar açoriano. Que lhe valha
Neptuno, parece-me adequado para um monárquico.
h) Secretária Regional da Cultura, Ciência e
Transição Digital
Confesso que devo elogiar a ascensão,
finalmente, da Cultura ao estatuto de secretaria, embora o cocktail de Ciência e
Transição Digital, ou lá o que isso signifique, deixe um sabor um pouco
adstringente. Ficará para ver como se procederá a ligação com a Administração Publica
e outras pastas onde essa dita transição é mais premente.
i) Secretário Regional do Ambiente e Alterações
Climáticas
Tirando o facto de ser pupilo de
Artur Lima muito pouco há a dizer sobre Alonso Miguel. As alterações climáticas
são um dos maiores desafios do nosso tempo e a preservação ambiental uma responsabilidade
enorme numa região como a nossa. Esperemos que a ânsia transformista não
contamine esta pasta, onde, mais do que transformismo, o que se exige é
conservacionismo.
j) Secretário Regional dos Transportes, Turismo e
Energia
A pasta do Turismo foi
protagonista de um episódio absolutamente revelador e paradigmático das idiossincrasias
e fragilidades deste Governo. Corria o boato que Bolieiro, apesar dos seus
dotes oratórios, não estava a conseguir convencer os famosos especialistas,
independentes e profissionais liberais a juntarem-se à sua trupe governativa. É
preciso perceber que ninguém com carreira e um emprego estável e bem remunerado
na privada, ou simplesmente que esteja no seu perfeito juízo, quereria juntar-se
a um Governo que deve a sua longevidade a dois ogres do neo-fascismo-luso. De qualquer
modo, quando começou a correr o nome de Mota Borges, todos pensámos tratar-se
de Alberto Mota Borges. O que, sendo verdade, era uma excelente escolha, não só
pelo seu currículo, a sua competência e ética de trabalho, e por ser um conhecedor
das áreas que iria tutelar: aviação e turismo. Inclusive a sua fotografia chegou
a fazer manchete no jornal, o que só revela que só acredita nos jornais quem
nunca leu uma notícia sobre si próprio. Porém, o Mota Borges afinal era o irmão
mais novo, o que, apesar da importância da mera existência da pasta, deixou o chamado
Trade num desolado emudecimento.
k) Secretário Regional da Juventude, Qualificação
Profissional e Emprego
A presença de Duarte Freitas neste
elenco governativo é-me totalmente incompreensível e só é explicável por uma qualquer
praxe de subserviência ao protagonismo partidário do mesmo. O que, levado ao
extremo, levaria que Berta Cabral, Costa Neves, Álvaro Dâmaso e todos os outros
anteriores líderes do partido na oposição fossem agora premiados e chamados a dar
o seu douto e vetusto contributo neste novo ciclo governativo. Bem vistas as
coisas, se calhar até dava um governo melhor do que este… Por outro lado, o conteúdo
da pasta e tão ilustre figura partidária leva a prever o pior no que toca ao
agenciamento de empregos para militantes, jotas e outros apêndices da clique
social democrata.
l) Secretária Regional das Obras Públicas e Comunicações
Ana Carvalho, não obstante a sua
fama de competência, vem também na esteira desta desmumificação das relíquias
social-democratas de antanho, o que diz tudo sobre a capacidade de Bolieiro, e da
sua Gaiola de Malucas, de aliciarem novos quadros técnicos e políticos para a árdua
tarefa de governar estes nove bocados de contra maledicência plantados no oceano
atlântico.
m) Subsecretário Regional da Presidência
Por fim, Pedro Faria e Castro, uma
simpática figura, que ficará com a difícil incumbência de manter o Nuno Barata bem-disposto
ao longo da legislatura, o que não se avizinha ser tarefa fácil.
le jeu sont fait rien ne va plus