sexta-feira, junho 1

Hoje o dia é delas


 A realidade da crise demográfica instalou-se no meu entendimento há muitos anos atrás. O milénio acabara de se estrear e eu trabalhava numa empresa produtora e comercializadora de software para Instituições de Ensino Superior. Um nicho de mercado que em tempos viu a Digitalis Informática conhecer taxas de crescimento que fazem as delícias de qualquer diretora de marketing. No entanto, poucos anos entrados no milénio, o modelo de financiamento “per capita” das Universidades e Politécnicos travou conhecimento com o fator que mais fez e faz tremer o ensino superior português: a contração demográfica tinha entrado e vinha para ficar. Com ela, veio o inexorável declínio da saúde financeira das instituições de ensino e dos negócios que as tinham por clientes. Era simples: Portugal tinha deixado de ter jovens suficientes para encher as suas salas de aula.

O entendimento cabal e prático daquilo que a falta de crianças introduz na prática de um país é portanto algo que me diz respeito há bastante tempo. De então para cá, assisto, com um misto de incredulidade e tristeza, ao avanço mais ou menos silencioso da sociedade para a nossa velhice coletiva. Sem recuperação geracional. Espanta-me a facilidade com que somos informados de que em 10 anos a natalidade antes dos 30 caiu para quase metade, sem que esse pedaço de conhecimento provoque um debate aceso entre nós, os portugueses cada vez mais envelhecidos.

As consequências para o país são dramáticas. A falência do sistema de segurança social é um dado adquirido. A tendência natural da sociedade para o seu futuro fica irremediavelmente comprometida. Com que sangue novo vamos nós olhar de frente para os desafios das próximas décadas? É aflitivo e declaro a minha incapacidade em perceber como não aflige muito mais os meus conterrâneos.

As razões para o envelhecimento de Portugal são muitas e duram há muito. A falta de políticas de natalidade, o desemprego jovem, a precariedade, a ausência de mercado de arrendamento, a falta de confiança na rede de ensino público que empurra os casais para dispendiosas creches e colégios… um rol com demasiadas ramificações poderia ser aqui desenrolado. O próprio envelhecimento é já causa ele próprio. Este país não é para jovens porque está tomado pelos velhos e esses dificilmente se reproduzem… mesmo que quisessem.

No entanto, eu olho e remiro, viro e reviro e como no poema de António Gedeão, “ensaio a frio, experimento ao lume e de todas as vezes dá-me o que é costume”: a sombra sagrada e inquestionável do “Indivíduo”, produto acabado do egocentrismo, está em tudo isto.

Ter filhos é hoje uma aventura, é certo. No entanto, nós somos porventura a primeira geração de portugueses que deixa de os ter colocando o seu ego em primeiro lugar. Porque queremos fazer, porque queremos acontecer e porque queremos muito ter. Ter coisas que não custem um pedaço da nossa liberdade e nos permitam viver por bastante mais tempo a noção de que somos jovens eternos.

Observo esta dinâmica e ela é assustadora. Observo casais estáveis e com vidas tão estabilizadas quanto as vidas o podem ser neste mundo da hipercomplexidade e vejo as suas vidas serem preenchidas com uma imensidão transitória de coisas e bens e eventos e atividades. Sem os próximos açorianos, sem os próximos portugueses.

É uma mudança de paradigma, dirão. Faz apenas parte do devir das sociedades, que se ajeitarão e acomodarão, como é de sua natureza. Tendo a aceitar bem a mudança como a única constante da vida. Mas confesso-me inquieta com esta. Viver na região com a natalidade mais elevada do país que tem a taxa de natalidade mais baixa da UE é fraco consolo, sobretudo quando nesta nossa região a taxa de mortalidade infantil teima em manter-se acima da média e quando o saldo natural em 2010 foi negativo em 7 das 9 ilhas.

[A Digitalis do início deste texto soube rejuvenescer-se e deu à luz a Digitalis Angola, que neste momento gera riqueza para si e para a sua progenitora.]

8 comentários:

Anónimo disse...

Cara Liza Garcia
Duma forma geral estou de acordo com o texto,até por ser escrito no feminino e sem dúvida é a revolução da mulher que tem um papel fundamental no problema.
Apesar disso não posso deixar de entender esta visão como sendo parcial, próprio da classe média e por outro lado considera(se calhar por esta mesma analise burguesa) que o problema é do conflito geracional, como se fossem os velhos os donos do Mundo e não os poderosos, velhos ou novos.
Esta ideia é a mesma que considera o problema dos desempregados da responsabilidade dos velhos...
É verdade que duma forma geral as classes populares sempre foram as(juntamente com a alta burguesia)aquela de maior natalidade, se juntarmos o nível de instrução e a influencia religiosa nos Açores, compreendemos melhor esta diferença, que mesmo assim ainda é diminuta para as necessidades da reposição da população na região.
A leitura do Post faz-nos depreender que existe uma preocupação muito economicista no texto, mas mesmo assim é caso para dizer que mais não fora por este resultado avia que fazer mais e melhor pela natalidade, nos Açores e em Portugal, por isto é bem vindo, mesmo que lhe falte uma analise sociológica, menos parcelar.
Açor

Anónimo disse...

Um excelente texto.
Parabéns para a Liza.

Anónimo disse...

Um excelente texto.
Parabéns para a Liza.

Anónimo disse...

À petchena, tu de quem és?

Anónimo disse...

A política do Passos Coelho conduzirá inevitavelmente à extinção da natalidade.

Portugueses e açorianos são raças em vias de extinção.

Anónimo disse...

as raças são uma invenção.

você pertence à raça humana.

Anónimo disse...

Há um senhor professor Angolano que há pouco tempo publicou um interessante livro de metafísica intitulado "A Confusão."

Angolano que é Angolano sabe do que falo. O conceito "confusão" faz parte do mundano linguístico dos ghettos de Luanda.

Anónimo disse...

oops

porra

perdi esta

rejuvenesceu-se e deu à luz....minha nossa!!!

deveriam existir leis para punir esta merda!!!lol

eu posso rejuvenescer-me??