terça-feira, setembro 13
OS ABUTRES DO KATRINA
Jasper Johns / Flag. 1954?55
The Museum of Modern Art, New York
É com relativo espanto, mas com profundo asco,que assisto ao coro de carpideiras satisfeitas, empoleiradas que nem abutres,sobre os destroços do furacão Katrina.
Adivinhava-se já a dimensão da tragédia e as ditas aves necrófagas degustavam as primeiras notícias com o mesmo prazer pueril que sente uma criança ao mergulhar bolachinhas Oreo numa tigela de leite.
Numa mistura de fanatismo secular e moralismo parolo os ayatolas da inteligentsia do costume não conseguem esconder um despudorado júbilo com a desgraça de uma América imperial sem qualquer protecção divina. Nesta torpe atitude fica ainda a subliminar ideia de que sobre a New Orleans, decadente e pecaminosa, se abateu a fúria de um Deus ultrajado bem ao estilo de Sodoma e Gomorra, ou a justiça divina de Alá pois, afinal como sugeriu Yousef al Malaifi,(Director do Centro de Pesquisas do Ministério Kuwaitiano dos Assuntos Religiosos!)«o terrorista Katrina é um dos soldados de Deus.».
De braço dado nesta marcha fúnebre seguem avante, com indisfarçável deleite ideológico, as habituais luminárias bem pensantes, como sempre ao som dos acordes da Internacional, apostadas em fazer crer às massas que o cenário de terror em New Orleans é, nas palavras do camarada Ruben de Carvalho, o «retrato do falhanço de uma política» e que «os 250 quilómetros por hora dos ventos do «Katrina» arrasaram antes de mais a lógica capitalista dominante»(!).
Seguindo a mesma cartilha de absoluta indigência intelectual Fernando Rosas, do alto da sua cátedra, foi mais longe afirmando que «a tragédia de Nova Orleães não tratou todos por igual, não foi nem social, nem racialmente cega. Foram os mais pobres e os negros, sendo a esmagadora maioria dos mais pobres negros, que sofreram mais duramente a tragédia.» Logo, conclui o emérito dirigente do Bloco de Esquerda que «a imensa tragédia de Nova Orleãs e da Luisiana nos ensinaram mais sobre a ética e a lógica do capitalismo dos dias de hoje do que bom número dos discursos que sobre ele se tenham feito.».
Assim, esta camarilha olha para New Orleans como uma espécie de laboratório social, no qual as vítimas emergem como cobaias para comprovação prazenteira das teses anti bush, aproveitando-se ainda a boleia para mais um libelo inflamado contra os males do «capitalismo selvagem.».
Porém, factos são factos,e é incontornável o veredicto de que a Administração Norte Americana reagiu de modo extemporâneo e com uma inépcia que não deixará de ser assacada a Bush que, em vez de agir, limitou-se a perorar inanidades, inconsciente das suas enormes responsabilidades para com todos os Estados da América.
Quanto ao resto, quando falha o Estado é certo e sabido que a fina camada de verniz civilizacional não resiste às mais selvagens pulsões, porquanto, o homem sempre foi o lobo do homem.
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JNAS na Edição de 13 de Setembro do Jornal dos Açores
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