quarta-feira, maio 27

Tudo mudou



Olho pela janela, na direcção do mar, o céu azul, o sol pálido da luz da manhã, quase que não se vêem as cinzas do mundo que acabou de desabar. Quase se diria que nada mudou. A esta hora estaríamos a terminar o serviço dos pequenos almoços, os hóspedes fariam perguntas sobre os trilhos, as distâncias, um miradouro, um restaurante, o melhor peixe. Terminaríamos o serviço dos quartos, a ronda pelos emails, os pedidos de reservas, que agora não são mais do que repetidos alertas vermelhos de cancelamentos, cancelamentos, cancelamentos. Perguntas que se transformaram em pedidos de informação, se há voos, se estamos abertos, explicações sobre as restrições, as quarentenas, tentativas frustradas de traduzir para inglês portarias que nem em português são inteligíveis. Orientações descabidas de Autoridades que não sabem, ou não querem perceber, que o Turismo é a arte de bem receber e não a da Xenofobia. Que um hotel não é uma enfermaria. Que para fazer um almoço é preciso vender cinco. Que não há açorianos suficientes para encher os hotéis de São Miguel e que os continentais, que eles enxotam são, sempre foram, o nosso principal mercado emissor. E, quanto mais tarde se aperceberem disso, já todos foram para o Algarve, para o Gêres ou para o sudoeste Alentejano. Mas, tal como os “apoios” do Governo, também o sol é enganador e o mar sem ondas esconde a verdadeira tempestade. O Mundo todo à nossa volta mudou, mesmo que no covil do desespero alguns queiram, à força, regressar a essa errónea “nova normalidade”.

2 comentários:

Açor disse...

Caro Arruda
Excelente texto duma realidade que hoje é diferente, mas que por um motivo ou por outro estava escrito que ia acontecer (e eu na minha incomensurável ignorância já tinha escrito)e nada podia evitar quando se potenciou o turismo como foco único (ou quase) da economia Açoriana quando se direcionou para o turismo estrangeiro e de cruzeiros todas as baterias com um gasto suptuoso (ainda por explicar)das portas do mar e das vias rápidas e quase por aqui se ficou sem compreender o Universo sensível das ilhas tanto na sua vertente de sustentabilidade da natureza como econômica...
Será que este momento desolador pode ser o mote para a mudança?
Talvez, sobertudo se se transformar o seguidismo acritico numa pedagógica critica construtiva para a mudança do bom gosto e do olhar clínico para várias realidades como sejam a reserva do pouco que resta da cultura açoriana que de forma ampla deve incluir a arquitectura edificada (com especial cuidado com a histórica)todas as outras vertentes culturais, quer às existentes como o necessario investimento na criação cultural, fazendo da universidade uma força viva que dialogue e interage com a industria o comércio o turismo e duma forma geral com a sociedade açoriana de forma a que se repense todos e outros dos problemas que o seu post levanta.
Parabéns pela coragem e que a partir daqui mais vozes se levantem contra este marasmo institucional que existe e se manifesta até agora castrador e inabalável.
Açor

Açor disse...

Caro Arruda
Excelente texto duma realidade que hoje é diferente, mas que por um motivo ou por outro estava escrito que ia acontecer (e eu na minha incomensurável ignorância já tinha escrito)e nada podia evitar quando se potenciou o turismo como foco único (ou quase) da economia Açoriana quando se direcionou para o turismo estrangeiro e de cruzeiros todas as baterias com um gasto suptuoso (ainda por explicar)das portas do mar e das vias rápidas e quase por aqui se ficou sem compreender o Universo sensível das ilhas tanto na sua vertente de sustentabilidade da natureza como econômica...
Será que este momento desolador pode ser o mote para a mudança?
Talvez, sobertudo se se transformar o seguidismo acritico numa pedagógica critica construtiva para a mudança do bom gosto e do olhar clínico para várias realidades como sejam a reserva do pouco que resta da cultura açoriana que de forma ampla deve incluir a arquitectura edificada (com especial cuidado com a histórica)todas as outras vertentes culturais, quer às existentes como o necessario investimento na criação cultural, fazendo da universidade uma força viva que dialogue e interage com a industria o comércio o turismo e duma forma geral com a sociedade açoriana de forma a que se repense todos e outros dos problemas que o seu post levanta.
Parabéns pela coragem e que a partir daqui mais vozes se levantem contra este marasmo institucional que existe e se manifesta até agora castrador e inabalável.
Açor