sexta-feira, julho 20

Salvé, equipa


Já é tarde na noite de um sábado de verão, mas um portal na imensa Internet precisa de receber um conteúdo multimédia novo para rufar os tambores da região no seguimento da vitória de dois ex-líbris, agraciados com o título de Maravilhas de Portugal. Esse conteúdo em Flash, cuidadosamente construído por uma pequenina equipa, nos dias anteriores ao evento, antevendo todos os possíveis cenários de vitória açoriana no contexto, faz a sua aparição online escassos minutos após o anúncio da segunda paisagem vencedora. Três pessoas nesse momento – uma em Ponta Delgada, outra no Pico e outra ainda em Lisboa - assistem à primeira visualização pública desse flash movie e sorriem. Estão contentes.

Aquela sensação de trabalho de equipa, onde a consideração pelos membros e pela missão apequenam por completo quaisquer considerações de horários, remunerações e afins, é impagável. Mesmo impagável – é que não se compra. Constrói-se, conquista-se, reforça-se.  

Este é um exemplo - tão singelo - mas existem muitos mais, tantos, tantos, que eu pessoalmente vivi e testemunhei. Todos esses momentos maravilham-me, encantam-me e fazem-me sempre sentir um misto de satisfação e orgulho. Satisfação pela pertença à equipa e orgulho por me saber motor da mesma.

O valor de uma equipa é incalculável. O adjetivo “boa” antes do substantivo torna-se redundante. Uma equipa ou é, ou não é – ou tem o espírito, ou é apenas uma coleção de pessoas mais ou menos fadadas a trabalharem juntas, sem que isso revele sinergia.

Os franceses têm uma bela expressão para esse espírito: esprit de corps. Parece-me adequado, traduz a corporização da essência: a unidade e entusiasmo por interesses e responsabilidades comuns. Eu acrescentaria que uma equipa é-o, quando a unidade e o entusiasmo transcendem a tarefa ou missão e impregnam a própria dinâmica entre os elementos. Aí sim, temos equipa para operar pequenos milagres quotidianos.

Porque é que me lembro disto agora?
Não ocorreu nos últimos dias algo absolutamente extraordinário. No entanto, em meio a estes tempos difíceis e incertos que vivemos, parei e lembrei: um povo que não sabe trabalhar em equipa só pode habitar um país débil. E nós, os portugueses… que dificuldades temos em operar em equipa – desde colegas num qualquer escritório aos mais complexos elencos ministeriais ou conselhos de administração.

Estou convencida de que a competência para constituir e integrar equipas, embora possa resultar em parte de vocação pessoal, tem imenso de aprendizagem. Aprende-se a trabalhar em equipa, assim como se aprende a constitui-las, a agregar pessoas e a motivá-las a darem o seu melhor, liderando pelo exemplo. Estou também certa de que, em países menos aflitos do que o nosso, esse aprendizado faz parte integrante dos currículos familiares e académicos desde tenra idade. Duvido no entanto que nós, os portugueses, sejamos muito competentes quando se trata de instilar nas nossas crianças essa capacidade que é matriz do trabalho em equipa e que dá pelo nome de empatia. De contrário, creio, não seríamos um país onde pululam tantos deprimidos e tantos insatisfeitos profissionais.

Devíamos prestar mais atenção a isto. Mas o essencial hoje, para mim, esperando no íntimo que também o seja para vós (desejo francamente que integrem equipas), é agradecer.

Obrigada a todos quantos são minha equipa, a todos quantos me têm como equipa e a todas as equipas que, remando contra ventos e marés, permanecem equipa em Portugal.

14 comentários:

Anónimo disse...

Lisa

Nos Gymnasium Alemães, os estudantes são quase obrigados a aprender a tocar um instrumento musical e a fazer parte da orquestra/banda.


Quando perguntei o porquê da quase-obrigatoriedade da cena, responderam-me assim: quando se toca um instrumento numa orquestra é-se obrigado a ouvir os outros. Saber ouvir os outros é um aspecto crucial do trabalho de equipa.

Pessoalmente, detesto trabalhar em equipa e nunca toquei ou tocarei numa orquestra. :)

Anónimo disse...

PS:
Um povo de criativos indisciplinados que não trabalham em equipa pode também ser próspero e desenvolvido.

Lisa Garcia disse...

Humm... Anónimo, o seu comentário deixou-me a pensar que a noção de equipa é claramente muito diversa consoante o ente que a reflete. Das suas palavras apercebo que alinha proximamente os conceitos de "disciplina" e "equipa", ao referir o para-militarismo dos Gymnasium alemães e de novo quando se refere a "criativos indisciplinados".
Tendo o valor de experiência pessoal, logo por natureza relativo, digo-lhe ainda assim que encontrei nos "criativos indisciplinados" dos melhores membros de equipa com que tive o prazer de trabalhar ao longo da vida. Na realidade, se pensar bem nisso, acho que nunca tive uma equipa que não tivesse membros que pudessem ser assim classificados.
Tenho pena por saber que detesta trabalhar em equipa, mas algo me diz que não é bem assim. Acredito mais que (ainda) não teve oportunidade de fazer parte de uma equipa (de uma a sério, sem "BS") e que, pelo tanto, presume detestar o trabalho em equipa. Mas não afaste essa oportunidade, olhe que ela é mesmo muito gratificante.

Anónimo disse...

Olá Lisa

Os Gymnasium são o equivalente ao secundário + ou-.

Não se trata de uma instituição para-militar


Trabalho de equipa requer coordenação. A coordenação requer (alguma) disciplina.
Era só isso que queria dizer.

Já trabalhei em equipa com malta muito interessante, aventureira, criativa e algo indisciplinada. Não gostei nadinha. Gosto apenas de me preocupar com aquilo que eu faço. Detesto brainstorms etc. Detesto mesmo.

O meu trabalho não requer trabalho de equipa. Se teamwork fosse necessário, o meu trabalho seria outro.

Acho muito bem que goste de teamwork. Boa sorte.

to each his own

SOLO.

Lisa Garcia disse...

To each his own, tem razão! O que eu sorri quando li esta sua frase, porque é uma frase que costumo usar ao trabalhar com a minha equipa.
O Anónimo é terrível, lê coisas que eu não escrevo. Não quis significar que os gymnasium são instituições para-militares, mas sim que têm práticas ("tiques") que são quasi para-militares (como o exemplo que dá de quase obrigarem os miúdos a fazerem parte da orquestra). Brrr... só a ideia. É obviamente uma ideia que está a anos-luz da noção de equipa. Equipas "à força" não existem.
A coordenação requer alguma disciplina, sim, é um facto, mas essa não é a única nem a mais importante competência para coordenar uma equipa.
Mas Anónimo - to each his own. ;-)

Lisa Garcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

ok Lisa

Sim, uns tiques, ilustrados pela história. Esta conversa fez com que me lembrasse desta frase inesquecível do criativo e mui neurótico woody allen:

" I would never want to belong to any club that would have someone like me for a member."

woody allen (in annie hall)

lol

bom fim de semana.

Z

Anónimo disse...

Lisa,
Grande texto. Parabéns. Como tudo seria mais fácil se todos entendessem isto.

Uma dica: ver a força do pensamento disciplinado (em vez de disciplina ), e como a criatividade pode perfeitamente conviver com isso, no livro de Jim Collins "Good to Great". Aposto que vai gostar, se é que já não o leu :-)

JCA

Lisa Garcia disse...

JCA, só agora vi o seu comentário. A resposta vem tardia mas não quis deixar de dá-la (às vezes os comentários "passam-me", perdão). Pensamento disciplinado ao invés de "disciplina" soa-me bem mais próximo da realidade de uma verdadeira equipa, tem razão. Por vezes uma equipa pode ser um diapasão tão bem afinado que funciona numa dinâmica quase que "organicamente organizada", coisa que parece estranha de dizer, talvez seja coisa sobretudo de experienciar. Em todo o caso - não li o livro que recomenda, mas vou procurá-lo, sem dúvida. Obrigada pela dica. :-)

Lisa Garcia disse...

JCA, só agora vi o seu comentário. A resposta vem tardia mas não quis deixar de dá-la (às vezes os comentários "passam-me", perdão). Pensamento disciplinado ao invés de "disciplina" soa-me bem mais próximo da realidade de uma verdadeira equipa, tem razão. Por vezes uma equipa pode ser um diapasão tão bem afinado que funciona numa dinâmica quase que "organicamente organizada", coisa que parece estranha de dizer, talvez seja coisa sobretudo de experienciar. Em todo o caso - não li o livro que recomenda, mas vou procurá-lo, sem dúvida. Obrigada pela dica. :-)

Anónimo disse...

Equipa.

Malta, amanhã reunião às 10 da matina.

3 dos criativos mentalmente disciplinados mas socialmente indisciplinados não comparecem.

De que lhe serve a disciplina mental dos criativos da sua equipa??

Imaginemos outro cenário. Comparecem todos, a horas. 3 dos que comparecem a horas não são mentalmente disciplinados (não completaram as suas tarefas etc)

Onde ficamos??

Na mesma. Não podem contribuir para a equipa.

A profusão de milhares de guias pessoais (From Good to Great, How to be a Cuntish Leader in 10 days, How to impress your dog Winston, How to convince others that you are a cunt, How to pretend that you are a Leader when you are nothing but an idiot) eidencia algo deveras assombroso: o fetish do Ego/Eu mercantil pós-moderno.

A Enegenharia do Ego, como maximizar as suas capacidades etc.

O Ego como objecto do "management."



Em suma, Americanices. A série televisiva The Office é uma brilhante sátira de tudo isto. Demonstra qual artificial e superficial é esta obsessão com o Ego.

Queres ler algo que "demonstra" o quão absurda e redutora é esta fixação com o ego?????

Charles Taylor, The Sources of the Modern Self, Cambridge University Press.

http://foucault.info/documents/foucault.technologiesOfSelf.en.html

Liao Ping, the fabulous chinaman

Anónimo disse...

Demonstra quÃO artificial e superficial é esta obsessão com o Ego.

Anónimo disse...

http://pages.uoregon.edu/koopman/events_readings/cgc/foucault_herm-subject-80-dartmouth-unmarked.pdf

不合作的^方式^

Anónimo disse...

errata:

Sources of the Self

http://www.amazon.co.uk/Sources-Self-Charles-Taylor/dp/0674824261/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1343829364&sr=1-1

z