Terá o nosso 6 de Junho passado à história ? Creio que não, apesar de muitos quererem remetê-lo à condição de nota de rodapé da história da Autonomia, e de outros tantos se esforçarem em reescrever a história da génese fundacional da mesma conformando-a ao regime político vigente. Essa manipulação política não tem qualquer escrúpulo e despudoradamente até conta com a involuntária cumplicidade de notáveis presos do 6 de Junho agora "reabilitados" com uma comenda entregue pelas mãos daqueles que, nos idos de 75, foram os seus algozes políticos. Os mesmos que rejubilaram com o cativeiro dos presos políticos do 6 de Junho, insultando-os em praça pública com o rótulo de "fascistas", subscrevendo nos mesmos slogans que o seu merecido destino era o "xadrez" ! Sic transit gloria mundi ! A verdade é que "o 6 de Junho foi uma afirmação de um Povo consubstanciada na revolta contra o estrangulamento económico e que desaguou num grito de liberdade colectivo. As consequências políticas estão à vista por mais jogos de rins que a esquerda hipócrita possa fazer, incluindo a entrada oportunista no comboio da Autonomia na mira de lamber prebendas a montante e exibir condecorações a jusante". Com flamejante e impenitente justiça escreveu, e bem, Jorge do Nascimento Cabral, no Correio dos Açores, denunciando a malina estratégia de irmanar nas comendas carcereiros e presos políticos. Ontem foi a vez de Pinto de Magalhães receber a Insígnia Autonómica de Reconhecimento. Hoje a medalha Autonómica de Mérito Cívico foi entregue a Melo Bento. Quem não se esquece da história não poderá deixar de registar a ironia paradoxal de que, para o futuro, ambos, - carcereiro e preso político - , ficarão irmanados na condição de "comendadores" ! Não me espanta que o Dr. Carlos Melo Bento, e outros insignes Açorianos, sejam agraciados com a Comenda de Mérito Cívico merecidamente entregue por Carlos César. Também não me causa assomo a deliberada omissão ao percurso como Açoriano Independentista de alguns dos agraciados. Com efeito, na memória descritiva e justificativa das comendas nem uma linha sequer foi escrita e lida sobre a acção militante e separatista dos novos comendadores em prol da Libertação dos Açores. Também o pusilânime facto de terem sido "presos políticos", apenas porque em consciência defendiam uma ideia para o futuro dos Açores divergente da deriva dos camaradas de Lisboa, foi cirurgicamente amputado da bula comendatícia. Não estranho estas deliberadas omissões pois é também assim que se reescreve a nossa História. Ontem os Independentistas lutavam pelos Açores contra o evangelho de Esquerda que até repudiou a Autonomia. Hoje, os missionários dessa liturgia pós 25 de Abril, e tão do PREC, são mais Autonomistas do que os pais fundadores da Autonomia ! Não me espantará que um dia se arroguem mais Independentistas do que aqueles que deram o corpo e a alma pelos Açores nos idos do Verão Quente de 75. A mim é que não me enganam nem me demovem da convicção de que o 6 de Junho de 1975 está para a Autonomia Açoriana como o 25 de Abril de 74 está para a Democracia Portuguesa. Aliás, este é um aforismo de efeméride que há muito venho defendendo. Em Democracia, especialmente depois de ultrapassados os traumas totalitaristas pós 25 de Abril, apesar de tudo não há inimigos políticos, mas também não nos iludamos: não somos todos "compadres".
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com
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*Saudações Açorianas neste dia de Portugal
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