quinta-feira, agosto 2

A HUMANIDADE EM AGOSTO


A HUMANIDADE EM AGOSTO

            para a Inês, que esteve lá

Era uma tarde assim, como já sabíamos
ou devíamos, pelo menos, calcular:
insuportável o calor, duvidosa a alegria.
Mas íamos fazer compras e
era Agosto, mês de pouca gente.

que viu, como nós, o autocarro
parar bruscamente.
Quatro pequenos cães, de famílias
por certo bem diferentes, atravessavam
num sereno susto o alcatrão. Desconheciam
que tudo (sim, não é apenas o tabaco)
pode matar num dia qualquer os que estão vivos.

Seguiam quase ordeiros, sem caminho.
E não sabiam. Como poderiam saber
que eram as vítimas ocasionais
de umas férias mais tranquilas
para esses mesmos que, na sua excessiva
humanidade, os abandonaram à nenhuma sorte?

E a caravana passou, rodeada de silêncio.
O mais pequeno e farrusco, o que
vinha atrás, parecia não acreditar ainda
que era este o seu destino, nem urbano
nem campestre; simplesmente intolerável.
Doía muito ver-lhe os olhos, e ser humano
como os humanos que ali se libertaram
dele, para garantir a liberdade que não têm.

Pouco tempo depois, o autocarro arrancou.
Chegaremos mais devagar à mesma morte. Mas
chegaremos. Eu sempre achei a humanidade o que
de pior havia sobre a terra. Preferia, às vezes, não ter razão.


                 Manuel de Freitas

18 comentários:

Anónimo disse...

Cara Renata
É sempre bom elevar a "humanidade" do ser humano, a vida só faz sentido quando tiver uma visão de equilíbrio, de sustentabilidade e de respeito pela realidade que nos rodeia, quer seja a natureza, os animais ou os nossos semelhantes.
As coisas estão interligadas e só se realizam quando se completam, de facto para além do irrealismo em ter animais, sem se ter a dedicação e as condições que eles necessitam.
É claro, que tudo isto é agravado com as condições económicas desiguais e a falta de condições de promoção humana e intelectual que esta crise conduz, sobretudo para os mais desfavorecidos.
Bom texto, sobretudo por ser em verso, para repensar neste tema.

Anónimo disse...

" Eu sempre achei a humanidade o que de pior havia sobre a terra. Preferia, às vezes, não ter razão."

---

A humanidade é uma merda.(?) Os animais são fantásticos.(?) Bom-bom seria uma terra sem a humanidade. Sem personas deprés e deprimentes como o Manuel de Freitas.

o gajo deve ter estado no seminário.
é muita auto-flagelação para o meu gosto.

o interessante é que esta coisa de repudiar a humanidade é uma capacidade HUMANA.

deixo aqui um exemplo da humanidade dos animais.

http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2012/07/24/article-2178290-1430D0D9000005DC-475_964x641.jpg

Anónimo disse...

eu acho q colocaria o Manuel numa jaula com a Lioa. lol

talvez ai ele percebesse que a humanidade não é tão má como isso.

se isto é literatura eu chamo-me leopoldina.

safa, déprés po artico conviver com ursos pardos

zeke

Anónimo disse...

ISTO SIM.

Muito bom.

Do mesmo Autor.

Quando sós à boleia do crepúsculo
[para o Fernando Guerreiro]


Não mais a literatura, os seus
fúteis e imperiosos desígnios
- julgamos dizer, insistindo
numa ourivesaria do terror
e em gestos que sabem o quanto
chegam tarde. Quando sós,
à boleia do crepúsculo, dizemos
coisas assim, mentimos com
os dentes todos que não temos.

E a mentira (a literatura)
é ainda a improvável derrota
de que não nos salvaremos
nunca. Tão igual à vida, portanto:
pouso o copo, recupero o fôlego,
fumo uma silepse. Sei que vou morrer.

E isso que - talvez - nos diz
é uma evidência que escurece
(tivemos por amigo o desconforto).

Quanto ao mais, vamos andando.
Casados ou sozinhos. Mortos.



Manuel de Freitas

Renata Correia Botelho disse...

zeke (?), AKA Leopoldina, o conselho que lhe dou é mesmo que dedique o seu tempo a outros textos. Não perca um minuto que seja com coisas deste género. Cada um faz das suas leituras o que entende e ninguém é obrigado a gostar de boa literatura. Está no seu direito! E desculpe, aliás, se este belíssimo poema – e o que nele se diz e se lê sobre a medíocre humanidade – não respeita os seus cânones leopoldínicos. Mas o mundo é grande e a blogosfera enorme. Vá, pois, passear por paragens que o façam rir.

Anónimo disse...

Renata,

Eu ando por onde me apetece na blogosfera, vivo num país livre e tenho o direito de comentar onde bem me apetece. É claro que podes banir os meus comentários. Se fossem elogios, tudo estaria bem. Como são criticas, sou convidado a ir para outra freguesia. Pois bem, é isso mesmo que farei.


A Renata decretou que isto é BOA literatura.

Ninguém ouse contestar o seu bom gosto nem afirmar que boa literatura não é isto (o texto).

Quem se afirma como Canónica aqui és tu.

Aliás, a sua verdade canónica é tão simples, simplista, quão dogmática. Se não gostas, baza. Se gostas, fica. O poema é belissimo. Ponto final, diz a Renata.

O fascismo mental desta malta é deveras assombroso.

Neste país ninguém é livre. São todos e todas SALAZARISTAS. Baza daqui pafora se não achas que este poema não é belíssimo!! Como se os critérios da literatura fossem OBJECTIVOS.

A semana passada apanhei com uma caramela que falava com inusitada autoridade sobre coisas que desconhecia.

Hoje sou banido do :ilhas porque tive a ousadia de discordar da opinião de uma autora.

Renata, postura mediocre, a tua.

Olha, vai berdamerda, tu e os teus canones.

PS: agora podes apagar o comentário.

Anónimo disse...

E vê lá se aprendes a conviver com a diferença.

O Salazarismo acabou.

Eu não percebo patavina de literatura. Mas sei do que gosto.

ISTO, na minha opinião, é boa literatura.

O Manuel centra toda a sua atenção na primeira pessoa.

A BOA literatura, para mim, é a literatura que explora a exterioridade, a transcendencia do eu.

Despeço-me com este exemplo notável de BOA literatura.


"Aqui me resta apenas fazer frente
Ao rosto sujo de ódio e de injustiça
A lucidez me serve para ver
A cidade a cair muro por muro
E as faces a morrerem uma a uma
E a morte que me corta ela me ensina
Que o sinal do homem não é uma coluna."

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Anónimo disse...

Os dois (2) comentários acima foram escritos por:

Ezequiel/Zeke

PS: para que a PIDE da identidade (e dos seus protagonismos literários) saiba de quem se trata.

ADEUS, minha cara.

Eu lia aquilo que escreves.
NUNCA MAIS.

Renata Correia Botelho disse...

Oh Ezequiel!!!!!!
Desde quando é que eu bani algum comentário teu, homem???!!!
Podes comentar o que quiseres. Aliás, pelo que me parece - e posso estar enganada - é o que mais fazes. E, se te dá gozo, fazes bem.
Agora, se te queres rir, e se achas que este poema é deprimente, e que o autor deve é ter andado no seminário (como se isso fosse necessariamente a coisa pior do mundo), e que se isto é boa literatura tu és a Leopoldina (o que, hás-de concordar, já não se trata de uma questão de gosto, é mesmo um comentário no mínimo desagradável e desnecessário), e mais não sei o quê, então acho que não deves mesmo perder tempo com coisas que não te interessam. Passa à frente! O tempo é tão escasso, ao menos que o usemos naquilo de que gostamos, ou não?
Limitei-me a REAGIR (e tu, que eu tenho por um tipo muito inteligente, sabes bem o que quer dizer REAGIR!) aos teus comentários. Ou NÃO POSSO????? Era o que faltava, pois!
Quanto ao resto, estamos inteiramente de acordo: Sophia é também, na minha opinião, grande literatura, sem qualquer dúvida; e, se não queres continuar a ler o que escrevo, tens TODO O DIREITO de o fazer.
Não há é necessidade de te enervares a este ponto, e de desatares aos tiros desta forma.
Um abraço, rapaz.
Vamos e vivos, como dizia o outro!

Anónimo disse...

Caros Ezequiel e Renata
Entre o elogio do poema e a sua negação vai um imenso fosso, um buraco capaz de engolir a dialéctica da discussão e verdadeiramente não havia necessidade...
O meu comentário, que por esquecimento não assinei como Açor, que no fundo considerava que a humanidade não é um conceito fechado, é antes uma realidade que se quer viva e continuadamente a se renovar,(e melhorar) de acordo com os avanços e debates sociais...
A convivência entre o homem e os animais é igualmente sujeita a mutações de acordo com os tempos e as concepções culturais e civilizacionais reinantes.
Na minha opinião, que correu pior na vossa discussão, foi quererem pegar na forma(independentemente das razões de cada um)e não discutirem o conteúdo do texto(neste caso na forma poética)e que no essencial questionava o abandono dos animais.
Visto desta forma penso que não se pedia para comentar os méritos do poema, mas sim o que ele queria transmitir.
Quanto aos méritos da forma ela é tão discutível como toda a arte, e na minha modesta opinião não vale, toda esta exaltação, mas como diz o Povo é da discussão que sai a luz, espero que possa servir para se entenderem .
Saudações
Açor

Renata Correia Botelho disse...

Caro Açor.
Assino por baixo.
O importante aqui é, sem dúvida, o conteúdo (esta prática quase corrente, hedionda, aberrante, indesculpável, de abandonar animais, que se agudiza nestes meses de veraneio). A forma só ajuda - ou desajuda, conforme o entendimento de cada um. Era o que eu tentava dizer no primeiro comentário, quando me referia a "o que nele se diz e se lê sobre a mediocridade humana", no que a este assunto concerne). Mas não terei sido suficientemente clara, ou o meu companheiro de discussão estava tão "cego" de raiva, o que eu só posso lamentar, que não foi capaz de o ler. Bom, paciência, passemos adiante...
Obrigada pela lucidez e pela serenidade.
Renata

Anónimo disse...

Renata

Andaste no Seminário?

Anónimo disse...

recapitulemos

eu disse que aquele texto é uma merda.(1 direito legitimo)

tu sugeriste que eu fosse para outro lado porque discordei.(ilegítimo)

percebeste a lógica da coisa?

a minha reacção não incluiu um convite para bazar.
a tua sim.
mas, olha, a sério, is neither here nor there.
não te conheço bem
não és minha amiga
és uma conhecida.
disse o que tinha a dizer
e aceitei o convite pa bazar
tenho + que fazer

boa sorte
ciao
z

Anónimo disse...

poderia escrever um lençol a explicar porque é que não gosto da ego-literatura.

o EU é monotono como a PORRA.
além disso, os temas explorados pelo dito manuel naquele poema já foram explorados milhentas vezes por outros (a morte, a humanidade decrépita e corrompida)

a originalidade não é o seu forte.

Renata,

RAPAZ é a tua TIA.
Não há + confiança. Distância q.b. De primas donas, de seminaristas salazaristas panascas, de molestadores de criancinhas , enfim, de todo o merdazal que acompanha as instituições que formam e sustentam dogmas.

VA BENNE.


Não me irrites

Anónimo disse...

Este Ezequiel, ou Zeke ou Z ou o raio que o parta é um idiota... deprimente!!!

Nuno

Anónimo disse...

Nuno

O que se segue é uma explicação perfeitamente idiótica.

Os insultos só funcionam quando são justificados.

Pensa no dilema do dépré niilista::::::::

O pior que há na terra, a humanidade, é capaz de criar literatura bela (para alguns) e deprimente.

É isso, faz sentido!!!! (hmmmm?)

A humanidade cria literatura bela (para alguns) e deprimente...

mas é o que de pior há na terra.

Não é muito complicado. Escolhe: humanidade deprimente ou literatura bela???

Para ser o que de pior há na terra, a humanidade teria que criar literatura do piorio.

Espero que tenhas percebido e que os teus insultos melhorem rapidamente.

Acho que te posso ajudar a insultar melhor.

Leopoldina Von Strompt

Anónimo disse...

PS: o que é que se pode dizer de alguém que insulta sem explicar porquê?????

Às vezes preferia não ter razão.(ler segundo comentário ao post)

Eu tenho sempre razão.

E sabes que mais:

A humanidade é o que de pior há na terra.

Isto sim, é literatura.

Literatura crepuscular. Liminar.

LOL

zeke

Nuno, eles não te ensinam a pensar no seminário.
Saí daí. Foge.

Anónimo disse...

"Things that fascinate me: the luminosity of decay; pullulation; myths of great natural processes or cataclysms - the Creation, the Deluge, Adonis; the innocent freshness and wonder of the first day; the instrusion of daylight into dark places; mermaids, nymphs, angels, and animate spirits of natures (not monsters or ghosts); the bottom of the sea; the Moon; cold empty wastes; twilit caverns; Jacob's Ladder; great rivers-Mile, Oxus, Ganges, Limpopo; intellectual life in the upper air; larks singing at heaven's gate (not nightingales); beauty squeezed out from tortured souls; bright flowers rooted in corruption; the earth seen from afar as a planet; the music of the spheres; distillations from the moon or stars; bright butterflies that feed on rotten meat; trees; the smell of low tide."

Theognis in

Hugh Trevor-Roper
The Wartime Journals