quinta-feira, fevereiro 11

O Vangelis do Largo do Rato

...
A revisão da Lei das Finanças Regionais e a demonização da Madeira têm sido um plateau privilegiado para actos de malabarismo político que servem a causa do entretenimento. Com efeito, no tempo de outros Césares, a política de pão e circo já servia para anestesiar os cidadãos. No tempo que agora vivemos escasseia o pão mas abunda o circo. Num dos mais recentes números de contorcionismo o presidente do Governo Regional dos Açores veio acusar o PSD Açores de ter trocado a sapateia pelo bailinho da Madeira. Dramatizou a sua estupefacção pela suposta falta de solidariedade do PSD-A para com o Governo Regional dos Açores! Mas, desmistificado o discurso e o número mediático, os Açorianos percebem que afinal Carlos César terá trocado a sapateia pelo Vangelis do Largo do Rato. Como bom e leal funcionário do Partido Socialista Carlos César presta-se à defesa do centralismo de Sócrates relegando para segundo plano a defesa das Autonomias e do Poder Local. Numa lógica "bairrista" discorre que aquilo que é bom para a Madeira será necessariamente mau para os Açores e, numa flor de retórica, compromete a solidariedade que deveria existir entre as Regiões Autónomas. Por outro lado, esta discussão populista é de extrema oportunidade porque vai distraindo os Açorianos dos reais problemas da Região e, simultaneamente, cria um "bode expiatório" para os mesmos. A verdade dos factos é que não estamos mais pobres por causa da Lei das Finanças Regionais mas sim pelo modelo que a "nova autonomia" do PS tem imposto aos Açores. Negligenciando o sector produtivo o PIB dos Açores tem caído a pique e o nosso índice de produtividade é hoje praticamente idêntico ao que tínhamos em 96 quando o PS chegou ao poder. Apesar da "cornucópia" de €uros que a União Europeia tem canalizado para os Açores a distribuição Socialista dos mesmos não tem permitido criar riqueza na Região. O desemprego real cresce todos os dias, o "ídolo dourado" do Turismo apresenta quebras de receita na ordem dos 10 % com unidades hoteleiras a fecharem as portas enquanto podem, o comércio, de 2008 para 2009, tem tido perdas que em média rondam os 35%, mas que em muitos casos superam esses valores, a construção civil estagnou e já busca mercados mais competitivos em África. Em suma: são cada vez mais os "novos pobres" e a economia do superavit que nos prometia o PS de Carlos César não existe no quotidiano dos Açorianos. Mas enquanto o mestre-de-cerimónias da nossa Autonomia nos vai distraindo com os fantasmas da Lei das Finanças Regionais ninguém se apresta a discutir as causas reais da nossa crise. Porém, no intervalo do circo mediático é bom que se saiba que o PSD Açores não transigiu com qualquer "discriminação negativa" em relação à Madeira e ao invés bateu-se pela cláusula de salvaguarda da lei que nos garante que as transferências do Estado nunca diminuem. Ao contrário do PS de Carlos César, fiel súbdito de José Sócrates, exigimos do Estado aquilo que é devido à Autonomia Regional e ao Poder Local. Prova dessa bandeira é também a proposta do PSD para alterar o Orçamento de Estado, da responsabilidade do PS, para que sejam devolvidas às Autarquias locais as verbas de receita de IRS que lhes são devidas e que foram retidas pelo centralismo do Terreiro do Paço. Oportunamente se verá quem está de facto do lado dos Açorianos nos 19 concelhos da Região independentemente da cor que ostentam. Por enquanto a banda sonora de entretenimento é a já velha cacofonia de Vangelis pela batuta do Largo do Rato.
...
João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com

Sem comentários: