quinta-feira, dezembro 17

Copenhaga e os dogmas da ecologia

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Ele é fervorosamente a favor do nuclear na mesma proporção que considera os parques eólicos formas quixotescas de busca de energias alternativas. Confesso devoto das políticas conservadoras de Margareth Thatcher e colaborador da NASA é personagem que não se imagina como um guru da ecologia venerado por hippies e greenies que, inclusivamente, fizeram das suas teorias uma espécie de religião new age. Contudo, James Lolevelock, é tudo isso e muito mais. Guru e herói do ambiente Lovelock é ainda um consistente cientista cuja carreira mereceu atenção internacional quando criou mecanismos de monitorização do uso global de pesticidas e associou estes à extinção de outras formas de vida, que não apenas as pragas a que se destinavam os químicos usados na agricultura, e cuja massificação seria responsável por uma "primavera silenciosa". Formulou a "teoria de Gaia" que, resumidamente, sustenta que as formas de vida do nosso planeta controlam o seu meio ambiente num equilíbrio da "mãe natureza" e da química que esta estabelece com a sua vasta prole. Para Lovelock a soma das formas de vida existentes na Terra regula a atmosfera e o clima terrestre moldando a habitabilidade do nosso planeta. Porém, a meio deste século seremos cerca de nove mil milhões de pessoas o que representará um desequilíbrio de forças numa luta desigual com as condições ambientais. Se aqui já não há uma "mão invisível" para corrigir, naturalmente, as distorções geradas por uma forma de vida preponderante, resta o recurso à ciência e não a mezinhas ambientalistas. A "distorção" de Gaia no modelo teorético de equilíbrio está, na opinião de Lovelock, a conduzir-nos para um desastre ambiental de proporções tão abruptas que não se compagina com a contemplação beata e comunitária de modelos bem-intencionados de produção energética mas incapazes de responder às nossas necessidades. Por exemplo, no cenário apocalíptico que move os ambientalistas fundamentalistas dá-se como certo, a breve trecho, o esgotamento dos combustíveis fósseis - (há quem vaticine tal desastre em 2050) – mas ninguém tem a coragem de propor soluções efectivas à escala global bastando-se com uma visão comunitária e local. "As pessoas podem fazer muitas coisas (amigas do ambiente) numa escala pequena" é a máxima ambientalista de Elinor Ostrom que, este ano, foi a primeira mulher a receber o Nobel da Economia, precisamente por sustentar que as comunidades gerem melhor os recursos comuns do que os Estados e as uniões supranacionais. É uma perspectiva seguramente bem-intencionada mas que diferença poderá fazer um indivíduo contra os titãs da poluição como os EUA ou a China? Foi neste ambiente que a cimeira de Copenhaga voltou a reincidir no endeusamento da causa ecológica sem prescindir do dogma do aquecimento global e das soluções convencionais para a sua mitigação. De modo radical Lovelock sustenta que o avanço do aquecimento global é tão avassalador que só uma expansão massiva da energia nuclear é a solução salvífica da civilização! Nesta base sustenta que não há sequer tempo para as energias renováveis tomarem o lugar do carvão, do gás e dos demais combustíveis fósseis, pois só a energia, limpa e não poluente, das centrais nucleares tem potencial para salvar o nosso planeta. Este diagnóstico dá por assente o pressuposto político do aquecimento global imputável à acção humana. Mas, e se tal dogma não passar de um mito descredibilizado cientificamente ? Apesar de serem tratados como párias pela comunidade política internacional há cientistas que sustentam que o aquecimento global, a existir, tem causa natural e é prosaicamente imputável ao Sol. Com efeito, o mesmo nível de aquecimento global tem sido registado em Marte, Júpiter, Saturno, Plutão e Neptuno, sendo certo que nesses territórios não há emissões poluentes causadas por carros convencionais conduzidos por alienígenas! Como se vê o ambiente e a causa ecológica não podem ser uma bandeira de pendor religioso apontada aos infiéis. A ecologia não pode nem deve servir de trampolim político sob pena de esbanjarmos mais em propaganda do que em soluções práticas e concretas para os nossos verdadeiros problemas ambientais. Deve sim ser uma questão científica e como tal aberta a debate e contraditório, que permita uma análise crítica despojada do folclore que tem marcado as cimeiras e os meetings politicamente correctos a favor do ambiente.

João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com

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