Embora a sua partida fosse esperada, custa sempre saber do ponto final. Sobretudo de alguém que, como dizia o meu pai, já não se fabrica.
Quando cheguei à Universidade dos Açores, no Outono de 1982, o Prof. Machado Pires tinha assumido há pouco a Reitoria, sucedendo nesse cargo ao seu fundador, Prof. José Enes.
Foi, em muitos sentidos, o segundo pai da instituição e ao longo do seu reitorado (1982-1995), marcado por eventos dramáticos (incêndio da Reitoria, na sequência da visita presidencial de Mário Soares em 1989) e inúmeras dores de crescimento (aplicação da Lei 108/88 da Autonomia universitária), soube manter íntegra a Universidade dos Açores numa época em que, é bom lembrá-lo, ela não era muito acarinhada por alguns sectores do meio local.
Antes da era Mariano Gago, quando as Humanidades ainda pesavam alguma coisa no mundo académico, assegurou o prestígio e reconhecimento da jovem Universidade açoriana entre as suas congéneres. Primorosamente educado e encantador no trato pessoal, era um comunicador nato (na esteira de Nemésio) que conquistava de imediato os interlocutores.
Nunca se intitulou escritor, mas foi um Príncipe das letras e do pensamento açoriano.
A Universidade - eu incluído - e os Açores ficam a dever-lhe muito.