Suponho que deva começar por
confessar, em jeito de declaração de intenções, a minha absoluta falta de
simpatia por rallies e pelo desporto automóvel em geral. Tenho com os
automóveis uma relação puramente utilitária pelo que a realização ou não do rally
é-me totalmente indiferente. Mas, no entanto, a verdadeira telenovela em que se
transformou o evento, neste pandemico ano de 2020, tem aspectos dignos de ressalva. Desde o início que me parecia perfeitamente claro que em face da
pandemia e, ou melhor, em face do autoritarismo cego da autoridade de saúde
(passe o pleonasmo), era ridículo sequer ponderar a realização da prova. Aliás,
em face das limitações impostas a tantas outras actividades, desde a cultura a
outras modalidades desportivas e a tantos sectores da economia essa noção, que
andaram meses a debater e a analisar, de que o rally açoriano se deveria realizar
era um verdadeiro insulto ao sacrifício e à desgraça de milhares de pessoas que
desde Março viram as suas vidas devastadas, não tanto pelo vírus mas pela arbitrariedade
das decisões da ditadura sanitária. De igual modo o é o avança e recua e avança
de novo da festa brava terceirense, pela qual, diga-se, nutro, agora sim, filial
simpatia. O que tudo isto vem demonstrar, com límpida claridade, é o populismo
e o eleitoralismo com que o SARS-CoV-2 tem vindo a ser tratado na região. Desde
Março a região contabilizou pouco mais de 200 casos de infecção o que equivale
a 0,08% da população (e se lhe juntarmos os perigosíssimos turistas a
percentagem é ainda mais pequena), destes contabilizam-se cerca de 150
recuperados e, infeliz e fatidicamente, embora se calhar seria bom também aqui uma
auditoria da Ordem dos Médicos, cerca de 14 óbitos num lar de idosos do
Nordeste. Mas, por cá, a Ordem não se quer meter nessas coisas. O que estes
números demonstram, e seria também interessante ter uma noção da percentagem de
resultados positivos por número de testes realizados, é que estamos perante uma
pandemia de pânico gerida por decretos governamentais e não perante uma real e
efectiva ameaça de saúde pública. O conceito, aliás, de saúde publica é uma
abstracção manipulada pelo governo a seu belo prazer. Veja-se o exemplo de uma
suposta cadeia de transmissão local que existiria em São Miguel provocada pelos
comportamentos hedonistas de uns quantos jovens rebeldes que entretidos entre
banhos de mar e copos cuspiam vírus pela noite dentro nos bares da ilha. Ao ponto
do Governo ter decretado o seu encerramento forçado às dez da noite para, pasme-se, nunca
mais se ouvir falar sequer de um caso positivo dessa gravíssima cadeia de transmissão. Segundo
os comunicados oficiais, desde o passado dia 11 de Agosto, dia em que o Governo
Regional anunciou a existência dessa cadeia de transmissão local e decretou as
medidas para a sua contenção, foram feitos na região 19103 testes, destes 17
foram positivos, repito: dezassete positivos num total de dezanove mil cento e três
testes! Dos 17 e de acordo com o próprio Governo Regional apenas 4, repito
quatro, são casos relacionados com essa cadeia de transmissão local. O que isto
demonstra é que hoje, dia 25 de Agosto, precisamente 14 dias, o famoso período de incubação, desde que foi
ordenada por decreto a existência de uma cadeia de transmissão local e que por causa
disso dezenas, para não dizer centenas de negócios e milhares de vidas foram
autoritariamente suspensas e despoticamente subvertidas por causa de apenas quatro
pessoas infectadas e uma taxa de testes positivos de 0,02%. E tudo porque o
Governo encontrou no medo e, pior, na manipulação do medo uma forma segura de ganhar
eleições. O que estamos a viver hoje nos Açores não é política, nem é ciência. O
que estamos a viver é só e apenas uma vergonha.