terça-feira, maio 29
Voto de inspirar
Ontem, Dia da Região, lembrei-me do meu avô paterno, que fez da Região e da Autonomia duas causas. Pesquisei na net o nome dele, Raul Gomes dos Santos, e fui ter a um voto de pesar da Assembleia Legislativa Regional pelo seu falecimento, a 25 de Novembro de 2006, em Ponta Delgada, em que se fala da sua "figura proeminente nos primórdios da nossa Autonomia Democrática, numa altura em que quase tudo estava por fazer na Região Autónoma dos Açores" e de um "homem de grande tenacidade, bom senso e apurado sentido de justiça". Podem parecer palavras vagas, adequadas à generalidades dos votos de pesar, mas sinto-as como próprias para descrever alguém marcado por um agudo sentido das suas responsabilidades e por uma bem sublinhada energia pessoal.
Sempre que se fala de Autonomia lembro-me das suas conversas e histórias, dos discursos que escrevia numa letra impecável, à secretária, na sua casa junto ao Jardim António Borges (hei-de os ler e reler), dos episódios governativos que ia partilhando, alguns dos quais sobre o relacionamento nem sempre fácil com a República, na qualidade de Secretário Regional das Finanças. Cito uma passagem que se pode encontrar no livro de memórias que escreveu sob sugestão de Fátima Sequeira Dias, "Tanto Quanto Me Lembro": "Pelo que já ficou dito acerca das relações com o Poder Central, na área das Finanças, poder-se-á pensar que, exceptuado um ou outro caso, tudo corria bem e o que pedíamos, melhor, o que propúnhamos era, em geral, satisfeito. Nada mais errado. Foi sempre minguada a resposta aos apelos à solidariedade nacional que se resumiam afinal, àquilo que a lei vigente determinava, em especial quanto à suficiência dos recursos financeiros, princípio basilar da autonomia financeira. Nem nunca a Região chegou a usufruir, na prática, da aplicação de algumas das disposições expressas na Constituição(...)".
O homem público não era muito diferente do cidadão e da pessoa. Do homem, simplesmente. Frontal, directo e apaixonado, pela vida, pela família, pelos Açores, aonde chegou a 27 de Maio de 1941 e de onde só saía por obrigação. E autonómo, também ele, quase até ao fim. Tomando banhos de mar durante o ano todo, jogando golfe, fazendo caminhadas no seu passo veloz, subindo os degraus dois a dois, mostrando-se sempre disponível para os seus. A política também se aprende pelos gestos de cada um e os gestos que o meu avô tinha no seu dia-a-dia continuam a inspirar-me quando se reflecte e se celebra a Autonomia. Espero que um dia inspirem também os meus filhos.
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3 comentários:
Nuno! Forte, Abraço B
Eu tenho um gesto.
Tu tens um gesto.
Ele tem um gesto.
Ah, eu tive um gesto!!
Ter um gesto.
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Escrever algo "sob a sugestão"(psicanalítica) de Fátima Sequeira Dias deve ser uma experiência inolvidável.
lol
ezequiel
Ó Nuno
os Autonomistas tomam banho?
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