quarta-feira, maio 23

Parar é Morrer

RX, Abril 2012
O encerramento do Festival Panazorean ficou marcado pela estreia, entre nós, de "É na Terra não é na Lua" o multipremiado filme/documentário do realizador Gonçalo Tocha.

As cerca de 400 pessoas que assistiram às 3 horas de exibição não saíram defraudadas. Se a duração podia, à partida, ser um entrave à mobilização de público, tal não se veio a verificar. A duração pouco conta neste filme, o tempo sim. São 3 horas de exibição pública, mas foram muitas mais as que ficaram em arquivo, como nos confidenciou o realizador na breve conversa que se seguiu à projecção de "É na Terra…". O mais difícil foi o tempo de montagem, o de construir um filme com base num 'arquivo' de 160 horas recolhidas ao longo de semanas e meses. O registo é de intimidade. A câmara não é um estranho, um intruso. Passou, sim, a ter o estatuto de mais um elemento na 'imensa família' que habita o Corvo. A deambulação inicial dá lugar à partilha dos momentos mais íntimos, do acompanhar das rotinas quotidianas, do abrir do baú da(s) memória(s), como se estivéssemos na presença de um parente distante de visita às raízes familiares. O sentido de partilha e de generosidade da população do Corvo com o Gonçalo e do Gonçalo com o público resulta em algo especial. E esse facto não tem passado despercebido a quem vê o filme, seja em Locarno, em São Francisco, Madrid ou Buenos Aires, lugares por onde tem passado e amealhado prémios. Há uma partilha de identidade(s) sem recurso a uma localização geográfica pré-determinada.

Vem esta entrada a propósito de 2 situações. A primeira tem a ver com a displicência com que, localmente, ignoramos acontecimentos culturais ímpares, que passam entre nós, com a agravante de atribuirmos notoriedade a quem ostensivamente não a tem - situação que urge alterar. Não podemos balizar tudo pelo mesmo diapasão. E esta discussão não tem nada a ver com o que é popular ou erudito. Isso é 'entretenimento' para quem não sabe ou não tem nada para dizer.

A segunda está intimamente associada ao Gonçalo, nomeadamente, no que concerne ao reconhecimento internacional que a jovem cinematografia portuguesa tem tido, nos tempos mais recentes, e do quão mal estamos em termos de Cultura na República. A falta de meios não explica tudo e não colhe. Ninguém está indiferente à redução de meios e à contenção a que estamos, todos, sujeitos (dificuldades com que o sector cultural sempre se deparou e com as quais sempre trabalhou). Estamos, sim, a falar do corte total e absoluto de verbas por opção ideológica. Uma acção que motivou a ida à Comissão de Educação, Ciência e Cultura, da Assembleia da República, dos realizadores Miguel Gomes, João Salaviza e Gonçalo Tocha, para «(...) deixaram bem vincado o paradoxo. Num momento em que uma nova geração de cineastas acumula prémios em festivais internacionais de renome, o cinema em Portugal corre o risco de desaparecer (...)».

Esta e outras situações são reveladoras do estado de espírito em que vive o país, quando pequenas conquistas, da Cultura ao Estado Social, são colocadas em causa pela ausência de políticas com critérios bem definidos e, de momento, são deixadas à mercê da "livre iniciativa".

Ao contrário da ideologia vigente "o valor da Cultura não se mede pelo montante da sua conta no Orçamento" (nas palavras do escritor João Ricardo Pedro). O olhar íntimo de Gonçalo Tocha sobre a realidade de um pequeno universo de ilha é, ou permitam-me que o leia deste modo, o repositório de uma humanidade e esperança perdidas na voragem destes dias e do clima suicidário que se instalou na Europa. "Parar é morrer" disse Manoel de Oliveira na sua mensagem aos deputados da Assembleia da República. Faço minha a lucidez das suas palavras.

* Publicado na edição de 21/05/12 do AO
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12 comentários:

Anónimo disse...

Caro Alexandre

Podemos comentar à vontade ou também usas lápis azul?

Anónimo disse...

Caro Alexandre Pascoal
É inquestionável que este post devia dar lugar a uma acesa discussão...
Como se retira do contexto estamos numa encruzilhada cultural, nunca como até aqui as pessoas tiveram tanto acesso à informação e a nossa massa cinzenta nunca teve um conjunto de valências e competências, há quem diga que estamos em presença da geração Portuguesa mais culta e preparada do ponto de vista do conhecimento cientifico, artístico e
Universitário.
Apesar disto, não só existe um divorcio entre esta massa culta e a restante população,(a maioria) que continua a ter índices de iliteracia e de analfabetismo funcional, como esta elite cultural só agora se começa a movimentar para se opor às politicas castradoras da actividade cultural.
É inevitável que o corte na promoção cultural, por parte do governo de Passos Coelho(PSD/CDS)leve as pessoas a lutarem contra o corte dos subsídios para a promoção cultural.
Não podemos é esquecer que foi necessário esta politica neo liberal na cultura para porem os entes culturais a mexer e a se envolverem numa causa comum, pois até aqui, imperou o individualismo na promoção cultural e pouco ou nenhuma oposição consciente foi exercida, quando se desbaratou fundos exorbitantes do Ministério da Cultura, em obras mais que discutíveis.
Espero que se evite a sangria de quadros culturais e artísticos que estão a ir para o estrangeiro(não é grave se os pudermos chamar à posterior)mas o que não podemos é deixar de aproveitar este momento para unirmos a classes das artes e letras e de forma colectiva e combativa, fazermos com que elas repensem toda a politica cultural, passada presente e deste debate saia ideias para uma politica acertada para o futuro, que não seja só inerente à elite cultural, mas envolva o Povo.
Açor

Anónimo disse...

Concordo com as oportunas.Acutilantes e isentas palavras do açorino chucha- até que enfim alguém se alevanta em defesa da cultura.

Em vez de fazer como a Grécia, o governo de Passos Coelho/Portas devia seguir os conselhos dos Verdes/Vermelhos ( em sentido amplo)- há que desviar dinheiro para a cultura!

Recessão traz recessão, por isto é preciso gastar mais para produzir a alavancagem da inconomia- ma Dâs!

Anónimo disse...

A Grécia, em muitos aspectos, é exemplo.

Alguém sabe o que é que aconteceu ao ex-ministro grego da defesa que andou a comprar submarinos à Alemanha?

Anónimo disse...

Pois, é exemplo, ma rique açorino chucha

Veremos o que vai acontecer.

A Grécia não devia ter comprado submarinos- seria como se a polícia não tivesse carros.A marinha tivesse marinheiros, mas em terra.

É com raciocínios destes que temos que viver.

Anónimo disse...

O Garganta, com as suas oportunas e acertivas análises, faz falta neste blog.
Percebe-se que as suas ideias incomodem muita gente, que não gosta de ouvir verdades.
Entende-se a inveja que desperta na mediocridade do custume, incapaz de argumentar.
Percebe-se perfeitamente a vontade de o calar.

Por mim, não dou fogaça a quem é adepto do lápis azul. Em circunstancia alguma.

Até amanhã se Deus quiser.

Anónimo disse...

O Garganta está sempre presente, com vários pseudónimos

Oh anónimo, vai ver se está chovendo!

Continua a vender abanha chucha!

Anónimo disse...

Caros anónimos
O post é importante para se debater
as questões que nele são colocados( e são diversas) mesmo prontas para sofrerem o contraditório, que devia ser a razão última dos comentários...
Mas espanto dos espantos, há sempre alguém que aproveita para inventar pseudónimos, engendrar batalhas contra "moinhos de Ventos" que vê "chuchas" como fantasmas em cada esquina, quase como as crianças que suspiram pela "chucha",(mas não se amofinem, pois têm em substituição a mama do poder laranja e da sua líder regional, Berta Cabral...
No fim, o que querem estes desqualificados, é que os comentários, sofram as limitações, que o seu comportamento, indica(mesmo que não seja esta a minha vontade)a minha suprema esperança é que este desvario acabe quando o período eleitoral acabar.
Para quem quiser fazer dos comentários algo sério, tenho a dizer, que a cultura é o que sobra da realidade dum Povo, já Winston Churchil, 1º. Ministro Inglês na 2 Guerra Mundial(que não era propriamente de esquerda) dizia, perante as criticas com os gastos com a cultura, que sem cultura um Povo não "tinha razões para lutar"...
Para quem reparou, eu não só indiquei os erros deste governo(PSD/CDS) em não apoiar a cultura(nomeadamente o cinema)como deixei subentendido os erros cometidos, não só pelos governos anteriores a este de Passos Coelho(nomeadamente o de Sócrates)como nos Açores, o de Mota Amaral e o de César.
Se alguém já se esqueceu do centro cultural de Belém, eu ainda não, ele é a demonstração de como o despesismo de Cavaco e Companhia(sem esquecer, Sócrates, Mota Amaral e César)nos ajudou a chegar à situação actual.
Açor

Anónimo disse...

O anónimo das 11:05 vende banha de quem?
Dos laranjinhas, a cheirar a ranço?

Anónimo disse...

Não.Quem cheira a ranço são os chuchialistas- 16 anos no poder e ainda querem mais!

Garganta, até logo

Anónimo disse...

O ranço mal cheiroso dos 20 anos de poder laranja nos Açores, quer voltar ao poder.

Òh pêpêdoka, vai vender pipocas pró Kampú!

Anónimo disse...

O ranço chuchialista quer manter-se no poder.

Agora está na vez do PP governar, para não ficarmos como no Egipto.

Oh chucha vai vender pipocas!