TABACARIA AÇOREANA
É esta a minha rua – decidi
eu, por razão nenhuma.
Um grupo local, já velho, discute
diariamente política nacional.
Indiferente, e não menos assíduo,
o cão branco ladra (ou pede afagos?)
na varanda por caiar da casa em frente.
E há tabacos, jornais, revistas,
uma espécie de jardim
onde os fantasmas se riem
da nossa rude e descrente democracia.
De quando em quando, um vulto
suspeito pede-me lume, light,
algo que já não «bruxuleia firme»
– ou os rigorosos vinte cêntimos
que prefiro recusar, num sorriso coxo.
O cão recolhe-se. Não se lembra
do tempo em que a Casa das Palmeiras
trazia fausto e povo rico a esta rua
que se tornou tão minha.
Mesmo que não regresse.
Manuel de Freitas, Portas do mar, edição do Autor, 2011,
É esta a minha rua – decidi
eu, por razão nenhuma.
Um grupo local, já velho, discute
diariamente política nacional.
Indiferente, e não menos assíduo,
o cão branco ladra (ou pede afagos?)
na varanda por caiar da casa em frente.
E há tabacos, jornais, revistas,
uma espécie de jardim
onde os fantasmas se riem
da nossa rude e descrente democracia.
De quando em quando, um vulto
suspeito pede-me lume, light,
algo que já não «bruxuleia firme»
– ou os rigorosos vinte cêntimos
que prefiro recusar, num sorriso coxo.
O cão recolhe-se. Não se lembra
do tempo em que a Casa das Palmeiras
trazia fausto e povo rico a esta rua
que se tornou tão minha.
Mesmo que não regresse.
Manuel de Freitas, Portas do mar, edição do Autor, 2011,
com capa e ilustração de Urbano.
3 comentários:
Alguém tem que enviar aquele canino para o canil.Estou farta de o ouvir.
Anónimo/a,
O canino não incomoda mais o mundo, com toda a certeza, do que você (ou eu).
ó Renata
aquele canino está a atormentar-me
aliou-se a um chiauaua de uma sinhora ditora
já lhe dei um nome: mubarak
e vou fazer-lhe a folha
vou-me emancipar do seu jugo cruel
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