A Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo apresentou
hoje a campanha “Terceira Ilha Natal”.
Na prática, a CCAH olhou com olhos de ver: os Açores possuem
bons argumentos para serem um destino de Natal. Para vender, nada como ter um produto adequado logo à partida. E para vender ilhas em dezembro, os Açores oferecem
um ambiente de Natal com uma genuinidade que simplesmente já não se encontra em
muitos mais sítios no mundo, paisagens mágicas, um povo afável e amplamente
reconhecido pela sua capacidade de se expressar em inglês (não, isso não é
despiciendo) e um Natal com clima ameno na Europa. Para cereja no topo do bolo,
não apetece praia no Natal – o nosso clima cheio de personalidade não tem que
competir diretamente com Repúblicas Dominicanas e quejandas.
“Este é o mote de partida
numa ótica de que a CCAH tem de promover eventos em épocas que não a alta, para
captar fluxo turístico para a Região”, referiu Sandro Paim. «Vamos divulgar
junto das agências de viagens da região os eventos de Natal que iremos realizar
para prepararem um pacote especial para os seus clientes» disse o presidente da
CCAH.
As vozes críticas não primam por fazer-se esperar e, portanto,
medir de relance a temperatura das atitudes dos açorianos perante este anúncio
de intenções hoje da CCAH foi tão fácil quanto um salto ao Facebook. Que não faz
sentido nenhum, que é por essas e por outras que não andamos para a frente, que
a pouco mais de um mês do Natal andam atrasados.
Não sei se a CCAH está interessada em responder a essas ou
outras críticas mais formais – estando porventura mais atarefada - espero eu -
em fazer acontecer o tão desejado turismo, ao contrário de outras tarefas que parecem entreter outros corpos análogos.
Quanto a mim, ao ouvir as notícias hoje sobre esta campanha “Terceira Ilha
Natal”, lembrei-me de uma senhora, de seu nome Inge Perreault, uma
norte-americana de ascendência alemã, radicada nos Açores com o seu marido
desde 2006. Escreve assim a Inge, na sua página,
ao descrever (a seguidores de múltiplas nacionalidades), o Natal nos Açores:
There is no Christmas STRESS, there are NO mall-shootings or
any others. The world keeps turning at a slower, more pleasant pace.
Irrespective of what happens in the rest of the world, Natal is a family
holiday mostly concentrating on togetherness, good food and drink.
Again
a profusion of flowers is growing more varied by the day, Camellias and Azaleas
are beginning to come into their own as well as many others. But THE best and
most spectacular this year are the Poinsettias. Sitting on our upper terrace
the other day I looked up in the late afternoon sunshine from below into a
truthfully huge bush of Poinsettia blossoms about a foot across with a cerulean
sky as backdrop and the warm sun illuminating every leaf rendering it the
deepest red you can imagine. It was magical. Such is Natal on the Azores. The
lights are adorning the streets en masse but yet again there is NO
Christmas frenzy. We love it.
Assim, do que eu gostava mesmo, era que os meus conterrâneos
pudessem abraçar a visão para a qual a Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo deu hoje o mote.
Teriam vistas largas, como a vista da Inge sentada no seu terraço a
contemplar as Estrelas-de-Natal nas nossas ilhas natal.
Foto Roland Perreault |
9 comentários:
Não tem que competir nem pode competir.
Lisa, imagine-se no norte da Europa. Há 3 meses que anoitece às 17Hrs. Sol, népia. Chuva|neve, nevoeiro e frio.
Apetecer-lhe-ia visitar os Azores durante o Natal?
Para onde lhe apeteceria ir?? Há 3 dias conversei durante algum tempo com um jovem casal de Alemães.
Estavam muito desapontados com a chuva e com o tempo.
Olá boa tarde,
Tem razão, nunca será possível agradar a todos com o nosso clima instável. Mas como o nosso clima é uma variável que não podemos mesmo modificar, teremos que jogar "com ele" e não "contra ele", verdade?
Partindo desse princípio, será menos penoso "vender" um Natal ameno do que um Verão "roleta russa", creio eu. Mas o clima, sendo uma variável muito importante, não é a única... por minha parte, julgo que devemos aprender a fazer bem duas coisas: procurarmos ângulos de venda em que o clima seja um aliado e não um obstáculo; olhar atentamente para todas as outras variáveis distintivas da Região e fazê-las valer como os argumentos de peso que podem ser.
O seu comentário (obrigada!) levou-me a lembrar uma coisa engraçada: Gramado, no Rio Grande do Sul, Brasil.
Gramado é uma pequena cidade num estado brasileiro cujo clima se aproxima bastante do nosso (aliás, não faltam hidrângeas/novelões em flor em Gramado). Ora, Gramado não poderia competir com o Rio, Pipa, Fortaleza, Porto Galinhas, Jericoacoara no segmento Sol&Praia. Vai daí, Gramado especializou-se no Natal. Há 27 anos que é assim, e há 27 anos que o tecido económico de Gramado agradece.
A 27ª Edição do Natal Luz de Gramado já está toda alinhada e as festividades podem ser consultadas aqui: http://www.natalluzdegramado.com.br/
Abraço
Os turistas é que tem que jogar com o nosso clima instável.
O caso que menciona é curioso mas não se esqueça do seguinte: Gramado é o que + se aproxima do Natal tradicional (com frio etc) que se inscreveu no imaginário público ocidental (ver pub da coca cola).
Os Brazucas não são o nosso mercado. Os nossos principais mercados situam-se no norte da América e Europa e no continente. Estes turistas querem, ou melhor, necessitam de SOL E PRAIA. Experimente a passar um inverno em Berlim ou Londres....
Não vai querer um Natal ameno.
Os restantes mercados são de niches. Infelizmente, ainda não podemos oferecer serviços com a qualidade requerida por estes clientes exigentes.
Para estes turistas, o nosso clima jamais será um aliado. Será sempre um obstáculo. Poderão optar por outros "ângulos de venda" (turismo cultural, etc) mas o clima é absolutamente essencial para os turistas europeus que podem querer visitar-nos.
Cumprimentos
http://www.tourismtofino.com/tofino-activites/storm-watching
You forgot Lemming Watching!!! A VIABLE solution. lol
A Camara do Comércio fez bem.
O clima "ameno" é um dos elementos a explorar. A natureza nos Açores não deixa de ser bonita à chuva, com as temperaturas mais baixas e exposta ao nevoeiro.
A ideia da Camara de Angra tem também pernas para andar no dominio cultural.
Se calhar por defeito de formação, dou especial atenção aos sons.
Os sinos de Angra, desde os da Sé aos da Conceição, Santa Luzia e Colégio, tem um som muito especial, que imprimem uma personalidade própria à vida desta cidade. Porque não reactivar alguns, que há anos que não tocam?
Em Salsburgo, terra de Mozart, os sinos tocam quase todo o dia!
A Terceira tem coros muito interessantes. Porque não fazer, na época natalicia, nas praças de Angra, pequenos concertos, no período comercial da tarde?
A iluminação natalicia de Angra não veve ser igual à das festas de S. João. Deve-se apostar na valorização arquitectónica dos prédios, iluminando os edificios emblemáticos.
E depois é animar a cidade.
Que tal um certame, onde se confeccione e venda, comida tradicional natalícia?
Que tal apostar num cais de cruzeiros e incentivar a paragem de barcos por estes dias?
A Terceira tem potencialidades. O que lhe falta é gente menos invejosa e com vontade de trabalhar
http://www.youtube.com/watch?v=OTLVoH2ldxA
Adeus amigo.
Cara Lisa Garcia
Se o teu texto não tivesse outros méritos teria certamente o facto de trazer a Terceira para a ribalta, afinal os Açores são 9 Ilhas...
Depois a Terceira e os Terceirenses, têm uma capacidade de se envolverem em questões culturais e na vida das suas terras(digo cidades e lugares da ilha)...
Quando se analisa(e alguns comentadores dão conta disso) tem-se a tendência de ver os objectivos pelo seu fim e não. pelo caminho que apontam.
As ideias para o turismo não podem ser em termos de larga escala, as ilhas são suficientemente pequenas para se satisfazerem com nichos de mercado que têm que ser criados pelo tempo e pelo empenho que se põe na ideia, por exemplo um comentário dizia que o Brasil não era um alvo para o nosso Turismo, e porque não pode ser?
Existem milhares de descendentes de Açorianos espalhados pelo Brasil, sem falar que os brasileiros estão abertos a serem cativados para o turismo, Europeu, e porque não o Açoriano?
A Terceira por exemplo podia vender a sua componente de Angra património da humanidade com a transfiguração da cidade para os tempos das descobertas e das viagens das naus que transportavam as matérias primas do Brasil e as especiarias de África.
No fundo seria trazer a vivência da História adaptando e recriando o que se faz em Portugal com os mercados medievais.
É claro que tudo isto exige tempo, ideias e proporção nos meios para atingir os fins.
O problema do tempo é de facto, como diz a Lisa, uma questão já resolvida pela realidade, esta falsa questão me lembra sempre o estudo encomendado aos espanhóis sobre o turismo Açoriano e a questão da intermitente chuva e eles responderam que a chuva è que permitia a característica da vegetação e como tal eram uma mais valia, e mesmo que não fossem, não podia ser rectificada...
Não gosto de generalizações principalmente se elas podem acicatar uma parte dos Açorianos contra a outra, dizer que os Terceirense(mesmo com a melhor das intenções)são invejosos e sem vontade de trabalhar é o mesmo que agitar o corpo em frente do touro, saí marrada com certeza.
As ideias devem vir, serem discutidas, experimentadas, e implementadas e ajustadas ao longo do tempo.
Existem coisas boas que estão a surgir como os vinhos regionais, que certamente são uma boa oferta, para essas ideias que devem ser cruzadas com outras num espírito aberto que envolva as populações.
Parabéns pelo texto e pela intenção que ele encerra.
Açor
Muito bem Açor.
Concordo inteiramente com o seu comentário epistemológico.
"Generalisations are platitudes disguised as common sense."(ex prof)
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