domingo, outubro 30

O caminho

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Herdamos rosas, com mais espinhos do que pétalas, e agora temos que enxertar na estrutura interna desse caule apodrecido novas espécies e estancar a sangria. A crise económica e financeira tem paternidade registada: anos de desvario socialista. De tal gravidade que nos veremos "gregos" para sairmos do buraco para onde nos atiraram com perdulária irresponsabilidade. À mercê de um pesado legado estamos de tal forma à beira do abismo que veladamente já se sugeriu a saída de Portugal da zona euro. Um cataclismo destas proporções seria devastador e aumentaria o risco de falência de instituições bancárias, uma brutal desvalorização da moeda, e uma recessão económica profunda. Este e outros tabus passaram a constar da agenda mediática por força das metas e do ultimatum do memorando da troika.

Porém, reduzir a dívida apenas com austeridade poderá ter efeitos ainda mais perversos pois o caminho que estamos seguindo apenas tem por azimute o horizonte das finanças, esquecendo que o crescimento económico é indispensável à sustentabilidade desse esforço. O ano de 2012 será uma provação para todos os Portugueses e por acréscimo para os Açorianos.

Quem ainda nos governa por cá artilhou o discurso mitómano de que o Governo Regional compensará o mais que puder a nossa economia para superar uma crise financeira para a qual, alegam, não terem contribuído! Curiosos números e estranha alegação! Que dizer do desgoverno económico do Governo Regional dos Açores, por exemplo, nos valores das rendas anuais, acima dos 20 milhões de €uros que vamos pagar pelas SCUT’S ? Que pensar dos milhões atirados ao mar em navios fantasma prometidos, e sempre adiados, ou sem condições de navegabilidade? Que negócio bizarro é esse jogo de azar e fortuna do Casino em que o governo concessionou a respectiva exploração, por sinal a quem "da poda" nada sabia, e agora vem comprar 50% do respectivo capital social para revender aquilo que concessionou?

Estes três exemplos, a que poderíamos somar muitos mais, são sinais de alerta para um possível "buraco" financeiro na região e a certeza de que esta, como boa filial de anos de desgoverno socialista, também vai deixar uma pesada factura por pagar. Por conta dessa factura de saloio deslumbre com um europeísmo que só serve os interesses franco-alemães, a que se soma "a cavilha" que Portugal levou com anos de socialismo, chegamos a este ponto. Vamos todos pagar a factura. Não há volta a dar. É a economia que comanda a vida e não o sonho cor-de-rosa que, aliás, virou pesadelo, que ensombra o nosso quotidiano. Assim, talvez se perceba a necessidade dramática de cortar em prestações sociais para tentar cumprir as metas do défice à medida da troika. Talvez fosse possível evitar este golpe baixo nas expectativas dos Portugueses e, por exemplo, na "função pública", em vez de cortar em todos, cuidar de despedir quem está a mais.

Mas o Estado não é uma empresa privada e soluções deste calibre, infelizmente, são por ora impossíveis e apenas agravariam o défice com o aumento da despesa pública, nomeadamente, com contencioso, indemnizações, rescisões contratuais, aumento de dependentes do subsídio de desemprego, a que tudo o mais se acrescenta um longo e imponderável etc. No fim da linha não há uma luz ao fundo do túnel, mas apenas a certeza que não há corda que tanto estique e que um dia não se quebre. Continuar a cortar na despesa pública, a depreciar os rendimentos de quem trabalha, sacrificando tudo e todos às metas do défice pode ter efeitos perversos. A própria economia demonstra-o, como ciência, que mesmo o aumento de impostos pode, no final, redundar numa diminuição das receitas fiscais na mesma proporção que engrossa a economia paralela. Aproximamo-nos desse risco com a desvalorização dos rendimentos do trabalho, a perda de atractividade do capital, e o constante downgrade da nossa competitividade na União Europeia. Só há um caminho a seguir. O único possível: Trabalhar Mais e Melhor.
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João Nuno Almeida e Sousa na edição de 31 de Outubro do Açoriano Oriental

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