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(...)
Continuação
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Continuação
Desde essa sessão de cinema que a perdera de vista. Não totalmente!
Na verdade, frequentemente, com a devoção de um voyeur via-a virtualmente esculpida, como um ícone bizantino, num mosaico de megapixels no monitor do flatscreen. Ela era agora uma celebridade nacional e "comentadeira" regular em talkshows que ele via em zapping.
Mas, na Primavera passada, sem hora ou data marcada, num lugar-comum, cruzaram-se em Lisboa. Na rota de tantas gerações, em trânsito ou exilados, encontraram-se na escala geo-estratégica da esplanada da Pastelaria Suíça. Ele sóbrio e conservador. Ela exuberante e intimidatória no seu cosmopolitismo. Aos cartões-de-visita responderam o costume. Mas depois de aceitar o desafio para um Campari, cortado com Água de Castello, sob a sombra das muralhas de outras conquistas, reconstruíram parte das suas biografias. Respondera-lhe ela, rejuvenescida, que ao fim da terceira fertilização in vitro, com o seu consorte Italiano, tinha sido, finalmente, duplamente agraciada com um par de gémeos que mimava com roupinhas da Dolce e Gabbana Kids.
- "E tu? Como estás?".
Enquanto artilhava uma resposta ele recordava que a primeira criança concebida por F.I.V. nascera em 1978...precisamente no mesmo ano em que estreara o filme! Aquele filme que ela libidinosamente partilhara a seu lado naquela longínqua matinée que recuperava na arqueologia da sua memória. Sorriu com a futilidade da ironia e com mundanidade respondera-lhe que estava "óptimo". Numa mentira de convenção omitira o embaraço de uma derrota: era infeliz a sós em vez de uma solidão a dois, partilhada, com ou sem um par de gémeos !
Falaram de velhas glórias e de um tempo perdido para sempre. Trocaram endereços e contactos, pessoais e profissionais, e ele automaticamente montou a sua máscara de defesa pessoal, com o possível fácies inexpressivo, quando no cartão dela leu a aziaga apresentação: "psicóloga clínica". Apre ! Aquilo era tão alarmante como uma doença venérea e dessa "tribo" freudiana ele preservava-se sempre com cuidado, evitando o contágio de ser scannerizado como objecto de inspiração para divertissement clínico. Mas ela estava distraída. Sob o Sol de Lisboa mostrava-lhe fotos dos gémeos F.I.V., em passarela no IPad, arreados com o dernier cri da moda de Milão. Ele sem prestar atenção aos petizes temeu que o Italian stallion daquelas crianças fosse Siciliano...o que era muito pouco "dolce" acaso tivesse um delírio de ciúmes em plena baixa Pombalina com uma cena de faca e alguidar.
Olhou para o relógio a sugerir que o prazo de validade daquele Campari expirava à medida que o gelo derretia. Entretanto, tranquilizou-se, quando ela deixou cair um suspiro de saudade pelo dito progenitor, Stefano di Rocco de seu nome, algures em Ibiza onde se deslocara para produzir mais um dos seus "documentários temáticos", que ela nunca vira, mas asseverava serem tão alternativos que nem na FNAC os encontraria! Com o IPad na sua mão esquerda ela abriu o browser e com um toque suave do indicador direito abriu uma página azul e branca e falou-lhe nessa coisa "gira" que era o facebook. Ele só conhecia books de papel mas reteve a sugestão. Ela deixou-lhe o endereço nas costas de um cartão antecipando que assim mais facilmente ele navegaria até à sua página.
Na verdade, frequentemente, com a devoção de um voyeur via-a virtualmente esculpida, como um ícone bizantino, num mosaico de megapixels no monitor do flatscreen. Ela era agora uma celebridade nacional e "comentadeira" regular em talkshows que ele via em zapping.
Mas, na Primavera passada, sem hora ou data marcada, num lugar-comum, cruzaram-se em Lisboa. Na rota de tantas gerações, em trânsito ou exilados, encontraram-se na escala geo-estratégica da esplanada da Pastelaria Suíça. Ele sóbrio e conservador. Ela exuberante e intimidatória no seu cosmopolitismo. Aos cartões-de-visita responderam o costume. Mas depois de aceitar o desafio para um Campari, cortado com Água de Castello, sob a sombra das muralhas de outras conquistas, reconstruíram parte das suas biografias. Respondera-lhe ela, rejuvenescida, que ao fim da terceira fertilização in vitro, com o seu consorte Italiano, tinha sido, finalmente, duplamente agraciada com um par de gémeos que mimava com roupinhas da Dolce e Gabbana Kids.
- "E tu? Como estás?".
Enquanto artilhava uma resposta ele recordava que a primeira criança concebida por F.I.V. nascera em 1978...precisamente no mesmo ano em que estreara o filme! Aquele filme que ela libidinosamente partilhara a seu lado naquela longínqua matinée que recuperava na arqueologia da sua memória. Sorriu com a futilidade da ironia e com mundanidade respondera-lhe que estava "óptimo". Numa mentira de convenção omitira o embaraço de uma derrota: era infeliz a sós em vez de uma solidão a dois, partilhada, com ou sem um par de gémeos !
Falaram de velhas glórias e de um tempo perdido para sempre. Trocaram endereços e contactos, pessoais e profissionais, e ele automaticamente montou a sua máscara de defesa pessoal, com o possível fácies inexpressivo, quando no cartão dela leu a aziaga apresentação: "psicóloga clínica". Apre ! Aquilo era tão alarmante como uma doença venérea e dessa "tribo" freudiana ele preservava-se sempre com cuidado, evitando o contágio de ser scannerizado como objecto de inspiração para divertissement clínico. Mas ela estava distraída. Sob o Sol de Lisboa mostrava-lhe fotos dos gémeos F.I.V., em passarela no IPad, arreados com o dernier cri da moda de Milão. Ele sem prestar atenção aos petizes temeu que o Italian stallion daquelas crianças fosse Siciliano...o que era muito pouco "dolce" acaso tivesse um delírio de ciúmes em plena baixa Pombalina com uma cena de faca e alguidar.
Olhou para o relógio a sugerir que o prazo de validade daquele Campari expirava à medida que o gelo derretia. Entretanto, tranquilizou-se, quando ela deixou cair um suspiro de saudade pelo dito progenitor, Stefano di Rocco de seu nome, algures em Ibiza onde se deslocara para produzir mais um dos seus "documentários temáticos", que ela nunca vira, mas asseverava serem tão alternativos que nem na FNAC os encontraria! Com o IPad na sua mão esquerda ela abriu o browser e com um toque suave do indicador direito abriu uma página azul e branca e falou-lhe nessa coisa "gira" que era o facebook. Ele só conhecia books de papel mas reteve a sugestão. Ela deixou-lhe o endereço nas costas de um cartão antecipando que assim mais facilmente ele navegaria até à sua página.
Passaram-se dias e estações. O tempo quinara e o barómetro prenunciava tempestade no meio do Atlântico. Entretanto imaginava-a colada ao ecrã à espera do próximo episódio. Contemplando cerimoniosamente a chuva e interrogando-se : "What the Water Gave Me" ? Enquanto afagava o pêlo da sua gata Florence. Mas essa era apenas uma fantasia e fatalmente o mais certo é que ela estivesse sob a guarda de um mastim napolitano.
(...) continua
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