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Tinha entre mãos o duplo álbum já carcomido pela patine do tempo e décadas de falta de uso. Entrara Outubro. Procurava nos escombros da existência um disco perdido com uma versão de "Autumn Leaves", pelo imortal Chet Baker, mas colidira com aquela fantasia de vinil. A verdade é que no final do Verão, e no início do Outono, da vida e da meteorologia, ficara sintonizado noutra estação. Em repeat, na sua jukebox caíra a ficha de uma canção pop e aí ficara engatado: "Isn´t that ironic...don’t you think?".
Claro que era! Mas também como poderia adivinhar que assim seria?
Noutros tempos, brilhantes e lustrosos, como aqueles que o duplo LP, em "trilha sonora original", evocava, como o poderia saber? Como poderia compreender as erupções do desencontro e da Saudade que do fundo do oceano da vida, subitamente, se transformam em tsunamis aos quais se sobrevive? Ignorante, e plácido, não conhecia ainda Lisboa, - onde a reencontraria -, muito menos o esquecido poeta homónimo, António Maria de seu primeiro nome, que agora lhe resumia o suspiro: "Se eu o soubesse diria / o quê? / Que vida seria um dia / Para quê?".
Sim para quê? Vivera sempre em delay. Desfasado e desencontrado dela, não por segundos, mas por décadas. Sim! Era irónico, para um náufrago num oceano nada pacífico, que este tivesse sido meteorologicamente o melhor Verão de sempre nos calhaus do meio do Atlântico.
De novo o disco, e o booklet do mesmo, com um rol esquecido de canções. Subliminarmente, naquelas armadilhas que a memória tem engatilhada para as horas menos próprias, na mão, o Lado A de um dos discos de vinil do duplo álbum, na sua mão direita, descansou afinal, e ele desceu, a passo e passo, o labirinto com que se enfeita o passado. Com este, na sua mão direita, regressou a uma alameda esquecida, e nunca revisitada, como um Lado B que sobrou daquilo que em tempos foi uma grande canção. Em flashback involuntário regressou a uma matinée banal, numa tarde sem glória, no já enterrado Cine Victória. Não lera ainda no niilismo de Michel Houellebecq as palavras que literalmente trazia às costas: "a eternidade da infância é breve, mas ele ainda não o sabe!". Mais tarde gravaria a negro aquelas palavras, em caracteres góticos, sobre a espádua direita, numa tatuagem de ocasião feita numa noite de solidão no Bairro Alto, como se fossem um fardo.
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Claro que era! Mas também como poderia adivinhar que assim seria?
Noutros tempos, brilhantes e lustrosos, como aqueles que o duplo LP, em "trilha sonora original", evocava, como o poderia saber? Como poderia compreender as erupções do desencontro e da Saudade que do fundo do oceano da vida, subitamente, se transformam em tsunamis aos quais se sobrevive? Ignorante, e plácido, não conhecia ainda Lisboa, - onde a reencontraria -, muito menos o esquecido poeta homónimo, António Maria de seu primeiro nome, que agora lhe resumia o suspiro: "Se eu o soubesse diria / o quê? / Que vida seria um dia / Para quê?".
Sim para quê? Vivera sempre em delay. Desfasado e desencontrado dela, não por segundos, mas por décadas. Sim! Era irónico, para um náufrago num oceano nada pacífico, que este tivesse sido meteorologicamente o melhor Verão de sempre nos calhaus do meio do Atlântico.
De novo o disco, e o booklet do mesmo, com um rol esquecido de canções. Subliminarmente, naquelas armadilhas que a memória tem engatilhada para as horas menos próprias, na mão, o Lado A de um dos discos de vinil do duplo álbum, na sua mão direita, descansou afinal, e ele desceu, a passo e passo, o labirinto com que se enfeita o passado. Com este, na sua mão direita, regressou a uma alameda esquecida, e nunca revisitada, como um Lado B que sobrou daquilo que em tempos foi uma grande canção. Em flashback involuntário regressou a uma matinée banal, numa tarde sem glória, no já enterrado Cine Victória. Não lera ainda no niilismo de Michel Houellebecq as palavras que literalmente trazia às costas: "a eternidade da infância é breve, mas ele ainda não o sabe!". Mais tarde gravaria a negro aquelas palavras, em caracteres góticos, sobre a espádua direita, numa tatuagem de ocasião feita numa noite de solidão no Bairro Alto, como se fossem um fardo.
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continua
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