sexta-feira, janeiro 28

O ESTADO DA REGIÃO



Depois do Estado da Região ainda estou em Estado de Choque! Estou, em bom Português das nossas Ilhas, numa palavra: Menente (palavra que o corrector ortográfico do Word com Português (de Portugal), obviamente, não reconhece)!

Um ante scriptum impõe-se. É deplorável a publicidade enganosa com que a RTP-A publicitou no seu site o debate de hoje. Como se viu não houve nenhuma participação cívica, quer pelos tradicionais meios telefónicos, quer pela via modernaça do e-mail, apesar do programa ser um «live-show», inclusivamente com comediantes de serviço para o «comic relief» sempre oportuno para agarrar audiências! Como se isso fosse pouco só avisaram a desoras a ausência do Dr.º Mota Amaral que, estando em convalescença, não se prestou a comparecer no debate!

Seja como for, só com uma desmesurada dose de boa fé, temperada com cinismo q.b., seria de esperar que este debate fosse um efectivo exercício de cidadania! Enquanto os cidadãos estiverem ausentes nunca o será. Como contraponto veja-se o bom exemplo do alinhamento dos debates televisivos nos Estados Unidos de acordo com o modelo do «town hall».

Quanto ao miolo do debate e encerrada a arena é legítimo um exercício de pontuação final, necessariamente subjectivo mas, tendencialmente imparcial.

1º Nuno Barata: pela impulsividade e a capacidade de ter agastado Ricardo Rodrigues e Aníbal Pires. Pontuou também naquilo a que chamou desmistificação da riqueza dos nossos mares quando aferida pelos parâmetros produtivos, por exemplo, de Espanha. Sinal menos para o final quando se resguardou de uma posição incómoda em sede de debate sobre o aborto (!) alegando objecção de consciência (!). Foi o que se apresentou com melhor ar e indumentária. Contudo era dispensável uma discreta, mas visível, pulseira no punho esquerdo bem ao estilo de PSL.

2.º Aníbal Pires: talvez pela novidade e estilo desempoeirado que contrasta com o de Decq Mota, já que este apenas produzia ruído de fundo para a costumeira banda sonora formatada nos estúdios Avante! Soube ainda gerir o seu tempo e o dos outros esquivando-se à disciplina do moderador, pelo que, pontuou em todas as linhas da frente do debate. Sinal negativo pela colagem à tese da Autonomia esgotada. Sinal positivo pela advertência das consequências práticas e directas da dependência da Região e da diluição de poderes e competências na União Europeia.

3.º Joaquim Ponte: só porque se deixou ultrapassar na gestão do tempo pelo Barata e pelo Pires, recuperando todavia na parte final do debate. Sinal positivo pelo facto de surgir ao eleitorado como um valor seguro ostentando experiência e conhecimento da negociação de «dossiers» fundamentais, como por exemplo o da revisão Constitucional. Embora a serenidade não seja uma mais valia telegénica não deixa de ser um critério a ponderar no momento do voto e creio que foi esta a estratégia trilhada por Joaquim Ponte. Comedido mas eficaz! Exemplo do que antecede o ataque cerrado à tese da Autonomia esgotada e ainda o levantar do véu no que respeita aos meandros da negociação da última revisão da Constituição. Sinal menos pelo facto de surgir no debate em substituição de Mota Amaral o que inevitavelmente diminui seja quem for.

4.º Ricardo Rodrigues: não resistiu a piscar o olho à «colega» e «amiga» do Bloco de Esquerda. Por outro lado lançou as costumeiras farpas ao PSD e, curiosamente, com excessiva e velada acidez ao PP de Nuno Barata! Sinal positivo pelo regresso à vida política activa, embora desta feita em benefício de Portugal e do Parlamento de Lisboa e à custa de uma possível pasta que lhe caberia neste novo governo de Carlos César. Sinal negativo pelo facto de a sua candidatura soar a sacrifício imposto por uma travessia dourada do deserto. Sinal positivo pelo «sound byte» com que se virou à questão das Pescas, designadamente, ao «patrocínio» de um processo judicial contra a União junto do Tribunal das Comunidades... lá correrá os seus termos mas, entretanto, ainda serve para pontuar em debates televisivos sempre que for preciso mostrar obra feita.

Quanto aos restantes partidos minoritários não cabem no podium nem têm direito ao tempo de antena que já gastei com os outros. Todavia, uma justa referência à hilariante dupla de extremos protagonizado por Pedro Pacheco e Edgardo Madeira. Em matéria de gozo lúdico opto pelo virtuoso Edgardo Madeira, já que a sua performance foi num registo que a todos fez lembrar o Diácono Remédios... não havia necessidade! Do procurador da Nova Democracia, retive o pensamento profundo e visionário do mesmo quando disse que isto de termos 9 ilhas custa muito dinheiro! É de génio e augura uma brilhante carreira política! Mas, será que pretende impor uma política secessionista para reduzir custos - Que tal começar pelo Ilhéu de Vila Franca... com ele próprio a fixar residência oficial no dito pedaço de terra!

Fiquei também menente com o alinhamento do debate, com a forma ligeira como se abordou a reforma do sistema eleitoral na Região Autónoma dos Açores e com o enfoque dado ao Separatismo e à Independência; pensava eu que fossem temas tabu ou fantasmas do passado. O certo é que quem invocou os espíritos foi o Presidente da República. Ora, à custa do nosso Chefe de Estado e «compagnon de route» do nosso Pedro Arruda fico aqui a cismar com o panfleto deste quando suspira: Merecíamos políticos melhores.

(post scriptum: acho que vou de férias do blog! Conto regressar um dia destes se não for antes!)

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