segunda-feira, janeiro 10

do menos português de quantos cantos do mundo onde se fala a língua de Camões

O Carlos Riley escolheu escrever este comentário, algo gratuito, como resposta a um comentário do Silva Melo.

Caro Silva Melo,
Permita-me que lhe transcreva este excerto de uma carta de A. Quental a Oliveira Martins (26 de Junho de 1874)

"Com efeito, a Terceira é uma terra essencialmente portuguesa e peninsular (...)É quanto basta para que V. compreenda quanto tenho gostado disto, eu que de dia para dia me vou sentindo mais português, mais descubro em mim a fibra nacional, e mais preciso pôr-me em comunhão com a alma colectiva. Isto é quase lírico de portuguesismo, mas tem desculpa em quem sai de São Miguel, a ilha holandesa (...) o menos português de quantos cantos do mundo onde se fala a língua de Camões"

Pese embora o facto de nunca ter sido um distinto autonomista, dá-me ideia de que Antero sabia bem o que dizia.

Pois eu digo-lhe Carlos Riley

O que levou o eterno Antero a escrever o que o Carlos transcreve, só ele poderá saber. Para um homem que acreditava, porque "sabia bem o que dizia", no declínio de Portugal e da Península, o facto de ele achar que a Terceira era, na altura, uma terra essencialmente portuguesa e peninsular, e S. Miguel o canto "menos português de quantos cantos do mundo onde se fala a língua de Camões", esse facto não tem que significar que nós, micaelenses, sendo diferentes, menos portugueses, obrigatoriamente seríamos inferiores. No entanto, se assim o quiser concluir não tenho como o possa ajudar em relação a essa depressão existencial.
Mais ainda se poderia escrever sobre o facto de uma das mentes mais brilhantes do seu tempo achar por bem assinalar que S. Miguel era "o menos português de quantos cantos do mundo onde se fala a língua de Camões". Partindo do princípio isto ser verdade, pois Antero "sabia bem o que dizia", teria ganho S. Miguel essa honra por sua livre escolha e mérito próprio? Teria essa sido uma honra imposta? Porquê? Por quem?
Mete-me nojo a facilidade com que alguém possa deduzir que ser-se menos português e mais micaelense, seja obrigatoriamente uma relação de inferioridade. Levante-se do chão homem! Um bom micaelense é sempre um bom português! Quem quiser o bem para os Açores, quer o bem para Portugal! O oposto deveria ser, também, sempre verdade.

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