É certo que, cansado de tanto escrever sobre turismo, parei de o fazer. E, no entanto, muitas coisas foram acontecendo, dando, com toda a certeza, motivo para ter escrito muito mais.
Daquelas, as boas foram utilizadas pelo governo e as más pela oposição, como, aliás, não podia deixar de ser. Até aqui, nada de novo mas, o balanço entre umas e outras torna-se dramático e assume posição de séria ameaça ao status quo instalado, ferindo de morte as nossas aspirações de desenvolvimento económico.
Houve tempos em que aconselhei a preocuparmo-nos com a afinação do produto turístico açoriano. Houve tempos em que sugeri que a tutela, afinando pela estratégia que viesse a ser escolhida, garantisse a tomada de posição que permitia identificar e proteger os elementos críticos de sucesso. No entanto, o tempo passou e a euforia também. Os senhores que tudo sabiam cuspiram para o ar e o verniz vai estalando.
Todos parecem perceber que o turismo se tornou num pilar importante para este arquipélago mas, aparentemente também, ainda há muito pouca gente a perceber porquê e os mais estapafúrdios ataques vão surgindo. Muitos deles feitos nos corredores do poder e outros, autênticos tiros nos pés, vão corroendo o sector por dentro.
Hoje, nos Açores, tal como noutro tempo e noutro local, a hora é de inovar para vencer os desafios que nos são colocados, dirão os tipos que assistem ao espectáculo no conforto das suas poltronas, depois de deitarem por terra muitas das condições que concorrem para a desejada sustentabilidade desta actividade económica, cujas alavancas dependem, na maioria dos casos, de áreas que fogem ao seu controlo directo (é como se estivéssemos a tentar pescar com o anzol preso à linha da cana de outro).
Entre os vários agentes, para além do sentimento de desânimo, o medo de acumular prejuízo reina sem rival e ninguém é capaz de entender a verdadeira função das infra-estruturas, como os hotéis por exemplo, no processo de afirmação de um destino turístico. Por outro lado, todos os investidores – grandes e pequenos –, para além de poderem vir a perder todo o dinheiro investido, correm o risco de se tornarem os novos mártires desta crise, arrastando consigo milhares de pessoas (funcionários e seus agregados familiares).
Apesar de continuar a ser um acérrimo defensor da necessidade de nos continuarmos a preocupar com as questões que se prendem com o produto e outras vertentes que nos podem diferenciar de destinos nossos concorrentes, digo que, afinal, a hora é de parar de tentar arranjar bodes expiatórios para o nosso desaire e de salvar a honra do convento para não fazer perecer a ordem.
A fórmula ou, se preferirem, umas das fórmulas para podermos compreender a importância de uma verdadeira discussão alargada sobre esta problemática é ousar romper com os limites que se convencionou encerrarem o sector e tentar medir o verdadeiro impacto da indústria da hospitalidade nas nossas vidas e no nosso mercado.
Não me admiro com o facto de poder haver leitores que não queiram compreender este ponto de vista. Outros, bem mais próximos deste problema, não o procuram fazer.
2 comentários:
Carlos, é certo que o tema é useiro e vezeiro, mas ainda bem que a ele voltas. O título, além da boa reflexão que se lhe segue, diz muito. Turismo Acidental, de facto é o que por vezes parece.
Abraço.
Caro Carlos Rodrigues
Muitas vezes é em momentos de crise que se pára, para reflectir em certos assuntos,que passaram de grande alarido, para assuntos de pé de pagina...
O turismo é um destes assuntos, não que não tenha uma importância fundamental, mas porque nunca foi agarrado com a sustentabilidade que as entidades competentes tinham por obrigação agarrar.
Este e outros assuntos começam com a loucura eufórica da bipolaridade, para agora passarem à depressão subsequente...
O turismo tem cabimento na nossa realidade, mas tem que partir duma análise muito aturada da oferta e da procura turística e sobretudo das característica especificas da nossa região.
Conta, peso e medida orientadas para as nossas especificidades próprias da região, tanto em mais como em menos valias, absolutas e relativas.
Começou-se(na minha opinião) pelo tecto, criou-se infra estruturas, sem estudo e muitas vezes baseadas em procura (que tinham pés de barro), não se diversificou a oferta de acordo com um plano que envolve-se os três binómios,turismo económico, eco turismo e turismo alternativo e "grande" turismo.
Verificado os sucessivos erros, havia necessidade de reconverter o sector e tentar criar uma politica de transportes que lhe desse seguimento.
É claro que de acordo com os planos de austeridade (falhados)de Passos Coelho e da troika, o caso complica-se muito, até porque as gentes lusas nunca foram dadas a grandes estudos nem a programações atempadas, diligentes e consequentes.
A reflexão é útil e como já várias vezes tenho dito, é um exemplo da necessidade dum debate global e inclusivo na sociedade Açoriana, sobre a realidade e as formas de criar modelos económicos, sociais e políticos alternativos, na Região.
Parabéns pelo post, embora este tom de desanimo é contraproducente nestes tempos de crise.
Açor
Enviar um comentário