Olá, classe de 2012. Gostaria de dizer-vos que, agora que terminaram os vossos estudos superiores, vão empreender a viagem, muito grata, da independência e da auto-suficiência. Que vão colocar a bom uso o conhecimento que as faculdades do nosso país vos incutiram, que vão aplicar a vossa capacidade de raciocínio crítico e vão, assim, moldar Portugal, caros recém advogados, engenheiros, jornalistas, enfermeiros, gestores.
Eu queria muito dizer-vos isso. Mas pesa-me saber que vos espera o desemprego
ou o subemprego. Que vos desespera o país.
Escrevi um dia destes que este país não é para jovens porque está tomado
pelos velhos. O contexto era outro, muito diverso, mas temo que também aqui
devo dizer-vos isso: este país apresenta-vos pouco porque anda tomado há
demasiado tempo por gente de espírito velho que não soube acautelar nem o
próprio futuro, nem o vosso.
Ouço-vos e dizem-me que sabem que a culpa não é da geração anterior,
culpam, isso sim, a classe política e um povo demasiado conformista. Vocês são
tão mais clarividentes do que muitos imaginam. Falam na emigração sem receios
nem estigmas. São a geração da mobilidade juvenil e eu percebo, pelo tom nas
vossas palavras, que não se sentem escorraçados do vosso país quando ponderam a
emigração – creio aperceber-me de que o fazem com o tom de quem vai antes tomar
o seu mundo e não perder o seu país.
Mas o mundo anda perigoso… de fora chegam ameaças muito concretas à vossa
vida ativa. O FMI recomenda agora ao nosso país que baixe as indemnizações aos
trabalhadores nos casos de despedimento ilegal. O Fundo Monetário Internacional
quer baixar os encargos das empresas que despeçam pessoas sem fundamento válido
para o fazerem. Consideram esta uma forma aconselhável, entre outras, de “promover
o crescimento na Europa”. Em meu nome e
em nome de todas vocês, jovens mulheres da classe de 2012, eu tremo e recuso em
absoluto que um órgão com as responsabilidades do FMI tenha o desplante de nos
armadilhar assim o futuro – pendentes de um qualquer desagrado machista,
racista ou, de qualquer outra forma, oportunista.
Recomendar isto a um país onde um trabalhador ilegalmente despedido vê o
seu processo arrastar-se anos nos meandros de um sistema de justiça ineficiente,
para no final ver a sua indemnização largamente reduzida pelas custas
processuais e custos de defesa é… estúpido.
Recomendar isto a um país corrupto
é tão estupidamente perigoso que não devia poder ser verdade.
[Durante um mês, o jornal digital Dinheiro Vivo fez as mesmas
perguntas a 50 recém-licenciados. Este é o seu retrato, a classe de 2012 em três vídeos]
4 comentários:
Eu gostaria de escrever alguma coisa sobre este excelente artigo mas gostaria que a distinta autora do mesmo respondesse ás interpelações.
Lisa
Acreditas que foi o FMI que nos/vos lixou o futuro?????
começo a pensar que este blog deveria chamar-se
AUTILHAS.
não respondem, simplesmente.
pois bem.
au revoir.
nem + 1 comentário
Uma excelente notícia. Criar pontes num mundo interdependente é a melhor estratégia de desenvolvimento para uma região pequena e distante dos grandes "centros". Pena que sejam só 10 alunos a beneficiar deste programa. Poderiam e deveriam ser muitos mais.:)
http://www.acorianooriental.pt/noticia/pelo-menos-10-alunos-vao-estagiar-nos-eua-e-canada
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