sexta-feira, junho 22

Classe de 2012


Olá, classe de 2012.  Gostaria de dizer-vos que, agora que terminaram os vossos estudos superiores, vão empreender a viagem, muito grata, da independência e da auto-suficiência. Que vão colocar a bom uso o conhecimento que as faculdades do nosso país vos incutiram, que vão aplicar a vossa capacidade de raciocínio crítico e vão, assim, moldar Portugal, caros recém advogados, engenheiros, jornalistas, enfermeiros, gestores.

Eu queria muito dizer-vos isso. Mas pesa-me saber que vos espera o desemprego ou o subemprego. Que vos desespera o país.

Escrevi um dia destes que este país não é para jovens porque está tomado pelos velhos. O contexto era outro, muito diverso, mas temo que também aqui devo dizer-vos isso: este país apresenta-vos pouco porque anda tomado há demasiado tempo por gente de espírito velho que não soube acautelar nem o próprio futuro, nem o vosso.

Ouço-vos e dizem-me que sabem que a culpa não é da geração anterior, culpam, isso sim, a classe política e um povo demasiado conformista. Vocês são tão mais clarividentes do que muitos imaginam. Falam na emigração sem receios nem estigmas. São a geração da mobilidade juvenil e eu percebo, pelo tom nas vossas palavras, que não se sentem escorraçados do vosso país quando ponderam a emigração – creio aperceber-me de que o fazem com o tom de quem vai antes tomar o seu mundo e não perder o seu país.

Mas o mundo anda perigoso… de fora chegam ameaças muito concretas à vossa vida ativa. O FMI recomenda agora ao nosso país que baixe as indemnizações aos trabalhadores nos casos de despedimento ilegal. O Fundo Monetário Internacional quer baixar os encargos das empresas que despeçam pessoas sem fundamento válido para o fazerem. Consideram esta uma forma aconselhável, entre outras, de “promover o crescimento na Europa”.  Em meu nome e em nome de todas vocês, jovens mulheres da classe de 2012, eu tremo e recuso em absoluto que um órgão com as responsabilidades do FMI tenha o desplante de nos armadilhar assim o futuro – pendentes de um qualquer desagrado machista, racista ou, de qualquer outra forma, oportunista.

Recomendar isto a um país onde um trabalhador ilegalmente despedido vê o seu processo arrastar-se anos nos meandros de um sistema de justiça ineficiente, para no final ver a sua indemnização largamente reduzida pelas custas processuais e custos de defesa é… estúpido.

Recomendar isto a um país corrupto é tão estupidamente perigoso que não devia poder ser verdade.

[Durante um mês, o jornal digital Dinheiro Vivo fez as mesmas perguntas a 50 recém-licenciados. Este é o seu retrato, a classe de 2012 em três vídeos]

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu gostaria de escrever alguma coisa sobre este excelente artigo mas gostaria que a distinta autora do mesmo respondesse ás interpelações.

Anónimo disse...

Lisa

Acreditas que foi o FMI que nos/vos lixou o futuro?????

Anónimo disse...

começo a pensar que este blog deveria chamar-se

AUTILHAS.

não respondem, simplesmente.

pois bem.

au revoir.

nem + 1 comentário

Anónimo disse...

Uma excelente notícia. Criar pontes num mundo interdependente é a melhor estratégia de desenvolvimento para uma região pequena e distante dos grandes "centros". Pena que sejam só 10 alunos a beneficiar deste programa. Poderiam e deveriam ser muitos mais.:)

http://www.acorianooriental.pt/noticia/pelo-menos-10-alunos-vao-estagiar-nos-eua-e-canada