Há sítios tão
nossos que dificilmente cabem no instante das palavras. Há sítios tão nossos e
daqueles que amamos que só no coração podem aninhar-se.
Assim é, pois, o
café Tavares na Achadinha (Nordeste, São Miguel). Ou – reformulo – o meu café Tavares na minha Achadinha. Para quem o olha da rua, não passa de uma vulgar
tasca de freguesia, com os clientes (homens) cá fora, pensando em conjunto o
preço das coisas, o dinheiro que não chega, as obras camarárias, o futebol, os
movimentos da vizinhança. A vida, afinal, no rodar de um copo.
Só depois de
atravessarmos as mesas e o balcão ao fundo da sala, onde um casal de irmãos nos
tira o café mais sorridente do mundo, é que o esplendor se abre.
O esplendor é lá
fora, e tem vista sobre o mar.
É então que o tempo se detém, e com ele a angústia
de que amanhã nos traga o que hoje a vida protelou.
É então que a vida se
transforma, inteira, numa esplanada sobre a terra e as águas, em frente ao sol
a pôr-se nas tardes de Verão.
É então que percebemos que a morte, quando
chegar, será apenas mais um dia. E tudo fica no seu lugar, nesse lugar sem
tempo que acontece na esplanada do Tavares.
É esse pedaço de
mundo que hoje vos ofereço, neste bonito solstício (e não digam que vão daqui!),
captado pelo olhar límpido e poético do Rui Coutinho, homem das pedras, da
lava, dos mares, da boa música e da boa mesa – e, sobretudo, amigo de
inquebrantável coração.
Se porventura,
caro frequentador deste blogue, passar por aquelas bandas, seria uma alegria
saber que parou ali, para um café ou uma cerveja fresca. Mas, se nunca lá puser
os pés, devo dizer-lhe: a alegria será provavelmente maior. Porque não o
conheço, anónimo leitor, e a esplanada do Tavares é só para quem a merece.
7 comentários:
Tenho de lá voltar! Excelente texto, Renata, excelentes fotos...
Obrigado pelo café.
Nunca lá estive mas já está na agenda.
:)
ah, sim, e o texto está pelo menos tão bonito como a vista do teu Tavares. É escritora, sim senhora!!
:)
Por todos os motivos do mundo tenho mesmo que lá ir.:)
Bonita homenagem, Renata. A "tua" Achadinha merece! O "nosso" Nordeste tem recantos que nos fazem lembrar que há ainda muita "vida para além do défice"
Bjs, Nuno
O teu Café Tavares é »o rio da minha aldeia». Cada lugar, que seja o nosso lugar, será sempre aquele que nos vai prender para sempre, porque não é só a ele pertencer-mos,mas sim sermos, verdadeiramente, ele na sua essência.
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