Os tempos de crise são pródigos em maniqueísmos bacocos. Em Portugal
isto tornou-se óbvio com a polémica bizantina em torno da celebração do 25 de
Abril. De repente o país acordou dividido entre fascistas e revolucionários,
com o acrescento de ridículo de ambos se acusarem mutuamente de perigoso
contágio. O que pode o Covid-19 ao pé de uma boa dose de indignação de Facebook?
É claro que o 25 de Abril pode e deve ser comemorado, aliás e como o Natal, o
25 de Abril é todos os dias, como bem descobriram os peticionários de uma
petição (passe a redundância) para impedir o 25 de Abril, quanta ironia. Mas,
também seria razoável que os poderes instituídos entendessem que o que
realmente põe em causa a democracia é a desigualdade e a distância de direitos
e regalias entre as pessoas. Ao povo restringe-se as liberdades mais básicas
como, por exemplo, o luto. Enquanto o Estado se arroga a si o direito de fazer
de conta que nada mudou. Se há coisa que esta crise veio demonstrar à saciedade
é o enorme fosso que existe neste país entre cidadãos, supostamente iguais. O país
dos que tem casas com jardim, internet de banda larga, computadores e tablets,
descobertos autorizados e salários por inteiro. E o país dos que por ordem do
Estado, mais do que por imposição do vírus, viram as suas vidas despejadas no
lixo de um dia para o outro. Mas com esse maniqueísmo ninguém se indigna…
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