sexta-feira, abril 24

Maniqueísmos de ocasião


Os tempos de crise são pródigos em maniqueísmos bacocos. Em Portugal isto tornou-se óbvio com a polémica bizantina em torno da celebração do 25 de Abril. De repente o país acordou dividido entre fascistas e revolucionários, com o acrescento de ridículo de ambos se acusarem mutuamente de perigoso contágio. O que pode o Covid-19 ao pé de uma boa dose de indignação de Facebook? É claro que o 25 de Abril pode e deve ser comemorado, aliás e como o Natal, o 25 de Abril é todos os dias, como bem descobriram os peticionários de uma petição (passe a redundância) para impedir o 25 de Abril, quanta ironia. Mas, também seria razoável que os poderes instituídos entendessem que o que realmente põe em causa a democracia é a desigualdade e a distância de direitos e regalias entre as pessoas. Ao povo restringe-se as liberdades mais básicas como, por exemplo, o luto. Enquanto o Estado se arroga a si o direito de fazer de conta que nada mudou. Se há coisa que esta crise veio demonstrar à saciedade é o enorme fosso que existe neste país entre cidadãos, supostamente iguais. O país dos que tem casas com jardim, internet de banda larga, computadores e tablets, descobertos autorizados e salários por inteiro. E o país dos que por ordem do Estado, mais do que por imposição do vírus, viram as suas vidas despejadas no lixo de um dia para o outro. Mas com esse maniqueísmo ninguém se indigna…

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