terça-feira, janeiro 8

Irlanda

Estive na Irlanda e vim de lá mais açoriano. O que é o mesmo que dizer que me lembrei muito das ilhas açorianas durante a estadia. Não foi só o carácter afável das gentes - com o qual é sempre importante aprender (depois de não termos saído na paragem devida, fomos levados ao nosso hotel pelo condutor de um autocarro público). Foi também a ligação que têm à terra e à cultura, foi também o número de escritores. E aquele verde dos campos. E aquele céu, aquela capacidade de o suportar sem lamúrias. Com paciência e uma disposição superior. Ainda no aeroporto, um homem pergunta-me de onde sou. Digo que sou português. Pergunto-lhe de onde é. "Da Irlanda. Alguém tem de ser...". Sem se rir. Que é a melhor forma de se ser humorístico.

Já no Sweny, lojeca de livros vintage e antiga farmácia frequentada em tempos por um senhor chamado James Joyce (o Antero lá do sítio), assinalei que chegava dos Açores. Tive por isso um presente mais tarde. O excerto que foi escolhido de "Finnegans Wake" (para uma leitura em conjunto) fala nos Açores. Assim, desta forma:

"I'm dreaming of ye, azores".

 Mais nada. Uma referência que soube bem ouvir, ali, no fim de Dezembro, na cidade de Dublin. Um top pessoal e anárquico da viagem:

- A visita ao tal do Sweny, seguida de um copázio onde pudemos confraternizar com uma poetiza americana, uma académica brasileira e algumas pessoas normais.
- A visita ao Grogan's, um pub genuíno e pouco turístico, cheio de malta nova e artistas cadentes e decadentes.
- A performance generosa e elegante feito por um actor no Museu dos Escritores - a partir de textos de escritores lá da terra (uma ideia simples que, quem sabe, se pode experimentar nos Açores).
- Uma exposição de fotografia de décadas da vida irlandesa no National Photographic Archive.
- A actuação dos Verona Riots, nas ruas do Temple Bar.
- A visita a uma pequena loja de discos no mesmo sítio (Mojos Records), onde comprei um álbum do Van Morrison ao dono, um Serafim Saudade irlandês.
- Um concerto no Village dos These Charming Men, banda irlandesa de tributo aos Smiths.
- Um copo de Copper Coast - Red Ale.
- Um almoço no Joy of Chá (assim mesmo), ao som de MGMT, Phoenix e Edward Sharpe and the Magnetic Zeros.


- O humor, sempre o humor, cruzado de lirismo, melancolia e generosidade.

Senti-me em casa. Vou voltar, vou - para conhecer a outra costa e quem sabe as Aran Islands.

6 comentários:

Pri Dotta disse...

Adoro a Irlanda assim como adoro Smiths e MGMT hahahaha Adorei o blog! Parabéns, já estou seguindo! Abraço! (:

Anónimo disse...

Top of the morning!

Anónimo disse...

Nuno,

Que belo texto!!! Escrito com leveza de espírito. A inconfundível elegância da simplicidade. Gostei imenso. Escreve +++ por aqui!!

Feliz Ano Novo e cumprimentos para o Pereirinha!

Anónimo disse...

Serafim Saudade irlandês.

LOL

João disse...

Mais uma referência forçada do autor aos Açores para recordar, a si e a todos nós, que é açoriano e que isso está presente em
si, para onde quer que vá.

Agora tudo o que faz tem uma relação
directa com os Açores e lhe faz sentir, gradualmente, mais açoriano.
Ou é a referência à Irlanda e às suas paisagens verdes, ou as suas memórias do Cine Vitória ou até do tempo merdoso que cá temos mas que
faz o caro Autor delirar com aquilo que qualifica como sendo tempo
temperamental.

Caro Nuno Costa Santos, o facto de não ter nada para dizer em concreto sobre os
Açores - que não tem problema nenhum e até é perfeitamente normal para quem cá não vive -, não faz de si menos açoriano
nem ninguém o irá censurar por causa disto.

Naturalmente escreve sobre o que bem entender mas, faça-nos a todos um
favor, deixe-se destas referências forçadas.

Anónimo disse...

Referências forçadas???


Pois eu interpreto estas referências como efeitos de uma mui natural saudade (da Sua Terra)

Que mal há nisso?

A censura diz escreve sobre o que bem que te apetece bla bla..mas, porra, não fales mais nisso!?!?!?! Há gente mesmo BURRA!!!! Épá, és livre e tal, mas faz-nos um favor e cala-te com estas lamúrias identitárias...

Aquilo que dá com uma mão, retira com a outra, minha Cara!??!?! És livre mas está calado s.f.f.

O Nuno é Açoriano, é Português, é o que lhe apetecer e pronto....

Eu próprio já mencionei esta tendência do Nuno para re-visitar a sua identidade Açoriana. Quem nunca viveu fora dos Açores tem alguma dificuldade em perceber a nostalgia insistente do Nuno (que também já foi minha, compreendo-o perfeitamente!) Falei sobre isto há algum tempo atrás porque não gosto do jugo-fetiche da identidade e porque acho que ele não tem que justificar coisa alguma(apesar de nem sequer ter tentado fazer isto). Mas, porra, dizer ao Nuno para deixar-se de "referências forçadas" (como se ele não fosse Açoriano!!) parece-me decididamente coisa de gente mal educada e mal intencionada...

VIVEMOS NUMA TERRA LIVRE!

abraço

Á saúde do Glorioso Pereirinha. :)