domingo, janeiro 15

PONTES - agora que temos as SCUT, talvez nos deixemos de atalhos.


Há coisas que começam da mesma maneira mas tem o condão de acabar de forma diferente. É como se houvesse uma força que, sobre nós, exercesse um efeito benigno e que acaba por nos ajudar a encontrar outros caminhos como se soluções diferentes fossem para os velhos problemas de sempre.

Diz-se que, nos Açores, os vultos se sucedem uns aos outros. Há como que uma condição natural da ilha que contagia o ilhéu e que o torna possuidor de uma profundidade psicológica que o catapulta para outras dimensões.

Por aqui, é como se a nossa condição humana ascendesse a um limbo na terra que nos separa dos restantes habitantes do mundo (exagero claro, quase hipérbole), sendo curioso, contudo, o facto de tal acontecimento nem sempre influenciar todos aqueles que assumem determinado caminho. Giro ainda é perceber também que muitas vezes nós falamos bem, escrevemos ainda melhor – articulando na perfeição o léxico rebuscado e impressionante – e acabamos por falhar o nosso principal objectivo que deveria ser o doutrinar (nome pomposo para o simples contágio das ideias que defendemos).

Enfim, vivemos a borbulhar no dia-a-dia, tentando afincadamente que esta efervescência possa irritar os acomodados e incitá-los à acção, procurando, no processo, que aquela não seja totalmente desprovida do factor regenerador desejável, porque, nos dias que correm, encontramo-nos todos a procurar desesperadamente salvar o status quo instalado, na vã tentativa de manter as coisas como nos habituamos a tê-las, sem que preocupados com a sua sustentabilidade estejamos.

Para muitos de nós, os banhos de água fria já começaram. E quando nos sentimos molhados até aos ossos, sem ter roupa seca e agasalho aos quais recorrer, abraçamo-nos para impedir o calor de abandonar o nosso corpo. Talvez nessa altura, passamos a nossa vida em revista e sentimo-nos invadidos por uma devastadora sensação de fragilidade que, logo em seguida, deriva num sentimento misto de culpa e frustração que nos faz prometer a nós próprios que seremos mais justos, humildes e solidários perante os nossos pares.

Todos nós conhecemos os princípios da sustentabilidade. Todos nós os elogiamos e todos nós os defendemos em fervorosos discursos. Mas, quando a vida nos corre bem, a única sustentabilidade com a qual nos preocupamos é a nossa e, rapidamente, ignoramos que a mesma está dependente de vários factores e de outras pessoas que de tanto serem negligenciadas, numa relação de interdependências que insistimos em não compreender e teimosamente não queremos valorizar, um dia acabam por nos atirar ao tapete.

Os seres inteligentes que nós somos não deviam necessitar de cair na valeta para poderem constatar e valorizar as vantagens das cadeias de valor que, reforçadas, contribuem para o bom desempenho do todo, valorizando cada componente que integra o processo. Nós somos todos culpados pelo desatino em que vivemos uns com os outros e a nossa economia não escapa a esta realidade que resulta da nossa natureza. No entanto, um amigo ensinou-me que, quando se demonstra de forma eficaz os ganhos que cada um pode tirar pela sua colaboração num processo comum, todos querem participar. É isso que caracteriza a comunidade.

Todos nós estamos cheios de teorias redondas e conversa balofas sobre os objectivos que se deviam almejar para os Açores. Apesar disso, somos poucos os que realmente nos decidimos abordar os problemas com vista a contribuirmos para que as soluções – que melhor sirvam todos – possam ser encontradas. Se o que acontece no parágrafo anterior pode ser verdade, não será menos verdadeira a nossa incapacidade de criar canais de comunicação onde os sinais de egocentrismo, sobranceria e desconfiança possam todos ser suplantados pela criação de uma visão conjunta dos resultados que a nossa sociedade pode atingir.

Não devemos contrariar a afirmação dos vários sectores da nossa economia de per se. Não devemos contrariar que cada representante busque atrair sobre si a atenção dos restantes. Contudo, não devemos favorecer a estanquicidade redutora dos mesmos nem o aproveitamento político para garantia do poder.

Devemos, isto sim, procurar garantir que quem governa preconize a criação de plataformas para entendimentos pontuais, para que as estratégias de fundo para o desenvolvimento dos Açores possam ser incrementadas com o aporte de cada sector, para que todos fiquem conscientes que os benefícios que poderão alcançar estão directamente relacionados com o contributo que estiverem disponíveis a dar na definição dos respectivos planos de acção.

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