quarta-feira, janeiro 4

Crio, logo... existo?

Numa altura em que a (es)cultural ministra encomenda, a um ex-ministro financeiro, um estudo que mostra como pode a cultura salvar a economia e, depois, cai;
Numa altura em que o seu despromovido substituto vem – com elevada estatura – dizer que “humilhante não é não haver subsídios, humilhante é não haver tanta gente como gostaríamos no teatro”;
Numa altura em que os manifestos por uma cultura defendida pelo Estado acontecem em S. Miguel e em Lisboa, numa lógica de aparente desconexão com os destinatários do fabuloso produto artístico;
Numa altura em que se pede à Região – através das autarquias, empresas municipais e Governo – que seja garantido o recurso aos artistas açorianos - na proporção de 30 “locais” para cada 100 “estrangeiros” – para que a festa se faça;
Numa altura em que a comunidade artística começa a acusar a falta da crítica profissional nas respectivas áreas artísticas (reflexo, talvez, do avanço que se conseguiu atingir na ilha do Arcanjo);
Numa altura em que, ainda, se vive segundo a lógica de segregação entre os filhos e os enteados, na interpretação insular da terciarização, qual panaceia para todos os problemas destas nove línguas de terra;
Numa altura em que toda a produção artística nos Açores está à procura de se afirmar com mais afinco (em sinal de uma maior massa crítica que, entretanto, se tem vindo a conseguir criar), perante a presença apagada do agora Director Regional da Cultura face ao por enquanto Secretário Regional da Economia que não queria que o vissem, ali, como tal;
Numa altura em que, como em casa de pouco pão, todos ralham e ninguém tem razão mas, “acarinhem a nossa capacidade de criação e não nos façam sentir órfãos na nossa própria terra, dentro de contextos que, há muito, deixaram de ser regionais” é a mensagem que perpassa.

É, por esta altura e à margem deste contexto, que a banda de rock açoriano com influências portuguesas “Passos Pesados” lançam o seu mais recente Video Clip, intitulado “Pensamentos Sós”, tema que faz parte do novo trabalho que a banda está a gravar…
Este postal, não pretendendo ser mais uma revisão à história dos “Passos Pesados”, é apenas uma pequena referência à teimosia de alguém que, um dia, ousou criar algo novo nos Açores e que, desde então, tem vindo a reinventar-se.
Poder-se-ia dizer que os “Passos” estão agora mais leves. A banda está cheia de novos jovens talentos (que não estão todos na foto do video) e, mantendo-se fiel aos critérios que justificaram a sua criação, continua à procura de experimentar novas sonoridades.
“Pensamentos Sós”, apresentado no passado dia 30 de Dezembro, no bar do Coliseu Micaelense, procura ser espelho dum percurso que também é feito de novas aventuras.
Podemos não gostar do género e podemos não gostar do estilo até, no entanto, e graças a estes músicos açorianos, não podemos negar a sua existência.



Diz-se por aí que a cultura pode salvar a economia.
Pode ser verdade mas, não acredito que seja como alguns pensam.
Experimentem virá-la para a Educação. Experimentem virá-la para o Turismo. Experimentem virá-la para outro lado qualquer mas, por favor, não deixem que se encerre sob o umbigo de quem quer que seja.
A “Pirâmide de Maslow” e, até mesmo, alguns dos seus principais detractores podem ajudar a compreender porquê, no entanto, temo que nem tantos anos de evolução da espécie nem a dita ética republicana tornem possível a escolha de outro caminho para tutelar a culta figura, que todos, um determinado dia, desejaram ardentemente possuir.

E o melhor da história é o facto dos Açores serem riquíssimos em termos culturais, desde a música à literatura, passando pelas artes plásticas, e com nomes que, injustamente, nunca referi.


P.S. o video aqui colocado não é o oficial porque, pelo que parece, ainda não foi feito o respectivo up-load na net

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