quarta-feira, novembro 1

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A propósito de apoios...* Todos se indignam em torno do apoio concedido pela Secretaria Regional da Agricultura ao Sport Clube Lusitânia: primeiro, porque é um clube da Terceira; segundo, porque todos podem beneficiar do mesmo factor e promover o seu "clube".

Nem imagino qual seria a dimensão da indignação se o mesmo apoio fosse atribuído a uma entidade cultural com o objectivo de promover a produção regional no campo, perspectivemos, das artes plásticas. Um disparate, um absurdo, um esbanjamento de dinheiros públicos...

Todos os anos assistimos ao início do ano desportivo com as incessantes promessas dos dirigentes desportivos com o objectivo supremo de "subida"! Uma pergunta de retórica recorrente e sem um carácter irónico subjacente: subir para onde?

Multiplicam-se as equipes desportivas pelas nove ilhas do arquipélago, todas com a ganância de promover a região, a sua ilha, a freguesia e, em última instância, a paróquia. Tudo em prol do desportivo, do bem-estar físico, de formação da juventude por actividades lúdicas mais saudáveis. Objectivos que no seu cerne são mais que objectivos - são condição basilar numa sociedade dita civilizada. Mas, depois decorre algo que me intriga. Se existe tanta formação dos "escalões juvenis" - onde estão os ditos escalões na altura da "subida"? Foram estudar (para o continente!) e abandonaram a carreira desportiva!? Correcto. E que medidas são tomadas perante esta situação!? A importação indiscriminada de jogadores (do continente!), pois não existem em "qualidade" na região. Um imperativo categórico. E são portanto estes jogadores que vão promover as ilhas sem, no entanto, as conhecerem de facto. Fará algum sentido a proliferação absurda de equipas desportivas, nas mais diversas modalidades, com ênfase primordial no futebol? Não será, porventura, mais económico e prolífico o apoio à consolidação de um número restrito de equipas com maior capacidade organizativa e financeira!?

Na essência não questiono os apoios atribuídos, mas sim a eficácia dos mesmos. Estaremos a alimentar um modelo desportivo com um sistema falido à partida!? Com que objectivos? Meramente economicistas!? Por dever e aplicação do bem-estar autonómico!? Pelo horizonte longínquo? Por bairrismo doentio?...

Isto tudo para dizer que anseio para a Cultura um Apoio sustentado (equiparado, por exemplo, e porque não, ao desportivo), por forma a que os diversos agentes culturais dos Açores possam desenvolver a sua acção com a dignidade que merecem.

* edição de 31/10/06 do AO

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