quarta-feira, novembro 15

Não é aqui !

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Calejado com a memória de algumas mitomanias partidárias assisti desassombradamente à encenação operática que o Partido Socialista ofereceu ao País a partir do púlpito do seu XV Congresso. A liturgia de encómios ao líder, num ritual irrepreensivelmente mecanizado e ensaiado para a inevitável entronização de Sócrates, seguiu os cânones habituais nestes conclaves. Findo o Congresso, ao ritmo da "ripagem" da banda sonora do Gladiador, exterminando assim a velha cassete de Vangelis, regista-se, de essencial, que este PS de Sócrates ostenta no seu punho o seguinte tridente estratégico: atirar para a arena política o "aborto a pedido" pelo qual Sócrates irá digladiar-se até ao último voto; exibir perante o Povo um partido único, coeso, e sem vozes dissonantes ou qualquer sinal de oposição interna, lançando aos insurrectos o ultimatum de se unirem ao líder ou, em alternativa, para sempre se calarem politicamente; propagandear concertação social prometendo para o futuro "aumentos ambiciosos" de Direitos Sociais, especialmente no domínio do salário mínimo, para aplacar as iracundas vozes da rua.

Foram estas as pontas de lança da estratégia deste XV Congresso PS, pelo que, visto de fora, é caso para se dizer que não trouxe nada de novo à "rua" portuguesa que ainda não foi notificada de que a crise acabou conforme recentemente asseverou o Ministro da Economia de Sócrates.
Quanto ao aborto diga-se de passagem que, desde os ímpetos liberalizantes da jota do PS, os Socialistas vivem consumidos com a ideia fixa de despenalizar o "aborto a pedido", o que, em termos práticos, redunda na sua liberalização. Esta sanha pro aborto dos Socialistas agravou-se com a derrota mal digerida no último Referendo e já se percebeu que só irá terminar quando o PS exercer o devido revanchismo sobre aqueles resultados. Contudo, esta bandeira só serve para distrair o país e a "rua" dos verdadeiros desafios que enfrenta Portugal, sendo certo que entre as prioridades dos Portugueses não estará a liberalização da IVG que se advoga aproximar-nos, à velocidade de um TGV, dos países modernaços e civilizados da Europa e do Mundo! Mas o Sócrates que quer arrastar atrás de si os Portugueses para essa grande conquista civilizacional é o mesmo Sócrates que corta rente nas despesas da Saúde e implacavelmente vai engendrando, por esse País fora, o encerramento de maternidades. Este paradoxo social é agravado quando o mesmo Sócrates assegura que a IVG terá lugar em estabelecimento médico adequado. Então se não há orçamento para dar à luz nas maternidades do interior haverá financiamento Estadual para a execução de abortos em clínicas da metrópole ou equiparadas? Importa, antes do referendo, explicar ao contribuinte Português como serão pagos estes desmanchos socialistas ? Serão directamente subvencionados pela ADSE ou pela Segurança Social ? Ou será que serão criadas valências próprias para o efeito contíguas às tradicionais enfermarias e blocos operatórios de Obstetrícia e Ginecologia nos Hospitais Públicos ? O rol de interrogações e perplexidades sobre este tema não ficará por certo por aqui.

No resto, registo que ouvi atentamente a voz Helena Roseta, cujo tom soou-me ao de um grilo falante, cuja performance o camarada Sócrates fez o democrático frete de presenciar. Manifestamente a moção de Roseta desagradou a Sócrates mas serviu para mostrar ao PS, e a outros partidos do arco do poder, que a crítica e o debate partidário não deverá nunca ser confundido com oposição interna. Contudo, quando os partidos são incapazes de internamente dar voz ao debate político, e à sã participação dos militantes, arriscam-se a ter Helenas Rosetas, em prime time, com verdades inconvenientes.

Finalmente, deste Congresso sai mais uma promessa Social: aumentar (ambiciosamente) o salário mínimo até 2009. Ora, por via do DL 238/2005, de 30 de Dezembro, o Governo Sócrates actualizou os valores da retribuição mínima mensal garantida para 2006 em 385,90 euros. No encerramento deste Congresso do PS o grande Líder anunciou que no próximo ano, a prestação poderá ascender aos píncaros de 400 euros ! Espantoso número redondo que fica no ouvido e será repetido com júbilo pela propaganda da acção Socialista. Mas, são apenas mais 14 Euros e 10 cêntimos de aumento, insultuosamente insuficientes, designadamente, para arredondar o pagamento do encarecimento do custo de vida, da inflação sobre os bens essenciais, da chocante subida do custo da energia eléctrica, da injusta tributação de taxas moderadoras na saúde...and so on. Como a realidade se encarrega de desmontar, o Portugal que o Eng. Sócrates habilmente quer vender aos Portugueses, desta feita a partir do tempo de antena do XV Congresso do PS, não é aqui!
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posted by Joao Nuno Almeida e Sousa.

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