quinta-feira, julho 27

Swimming Pool

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Por sugestão da ida a banhos, entretanto adiada, tenho encalhado parte do meu tempo livre a mergulhar em cinema rodado sobre fantásticas epopeias marítimas, das quais destaco o excelente Master and Commander. Quis o acaso que esta semana, em busca de águas mais calmas, no update cinéfilo que o DVD permite, ficasse à beira da Swimming Pool de François Ozon. Mas, como bem avisava o trailer, tudo estava calmo...apenas à superfície. Com efeito a fita é sublime e resume-se numa espécie de "Hitchcock dos sentimentos" como lhe chamou João Antunes na crítica cinéfila do JN.

Esta Piscina, algures no esplendoroso Luberon, é o ponto de encontro e desencontro de Charlotte Rampling e Ludivine Sagnier, respectivamente Sarah Morton e Julie. Sarah Morton é uma fleumática e bem sucedida escritora de novelas policiais, com uma queda para começar o dia com uma cup de chá da Escócia que, ao longo do dia, vai destilando com doses de sarcasmo q.b. Na cura de um inevitável crash emocional e criativo, à conta de um editor filantropo, instala-se na casa deste na Provença. Sozinha, junto de uma piscina omnipresente, entrega-se ao recobro do corpo e da alma criativa...até aparecer a sublime Julie que vem escangalhar a celestial e silenciosa paz.

Swimming Pool é assim um jogo de amor e ódio entre uma madura Charlotte Rampling e uma lolita resplandecente encarnada, e de que maneira, por Ludivine Sagnier. O enredo do filme é um mosaico que oscila entre a realidade e a ficção, num voyeurismo que nos confunde pois, às tantas, já não sabemos se estamos imersos na piscina retratada no filme ou na que é imaginada no livro que Sarah Morton vai escrevendo ao longo do filme! No final ficamos na dúvida se as coisas são realmente o que parecem, ficando à superfície da retina a suspeição de que a Julie que se deita delambida à borda da piscina será, ou não, uma personagem criada por Sarah Morton para preencher as páginas em branco de um livro que teimava em não arrancar.

Pelo meio há erotismo doseado com esmero, uma inquietante tensão de lesbianismo dissimulado, relações magnéticas que sintetizam a fórmula de que os opostos acabam por se unir e, claro, está uma morte fantasmagórica a dar o tom de thriller. Um filme absolutamente delicioso até na fórmula da bilingue estrutura narrativa que é uma melange entre o british accent da Charlotte Rampling e a descontracção pueril da língua francesa da belíssima Ludivine/Julie.

Parafraseando um post pretérito do Tapornumporco : "Eu por mim, não sei se aquilo que vi foi o filme ou foi o livro. Fosse o que fosse, é bom e vale a pena ver. Quanto mais não seja pela Ludivine na piscine, rima e é bom cine.". Vale pois a pena desemprateleirar este refrescante DVD do vídeo clube mais próximo e deleitarmo-nos com a fita na companhia de um Dry Martini junto da piscina.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

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