segunda-feira, abril 26

A MINHA VOZ REVOLUCIONÁRIA

A maior conquista da Democracia, parida a ferros do 25 de Abril de 74, foi e é a Liberdade de Expressão visceralmente imbricada na Liberdade de Criação Artística.



Dúvidas não há de que Portugal era nessa medida um reduto de obscurantismo e tacanhez. Assim, a Revolução fez-se também de arte ideologicamente empenhada e teve de igual modo a sua Banda Sonora Original. De tão vasto elenco musical e cançonetista, que vai de Teresa Silva Carvalho a Fernando Tordo, a voz de Paulo de Carvalho é uma longínqua ressonância da minha infância que aqui resgato. Na verdade, «E Depois do Adeus» carrega através dos tempos aquela emoção que nos embarga a voz e, é nessa mudez que evocamos a banda sonora das nossas vidas.

Paulo de Carvalho frequentemente aparecia lá por casa em formato de Single ou LP, sempre com o logotipo da movie play, e na companhia da orquestra de José Calvário, Pedro Osório ou Thilo Krasmann. Não tenho memória dos «Sheiks» e muito menos dos «Thilo´s Combo» mas Paulo de Carvalho sempre foi para mim uma referência daqueles tempos de agitação pós-revolucionária. Daí em diante foi recorrente ouvir a sua voz mesmo quando se tratava de repescar canções anteriores ao 25 de Abril, como por exemplo, «Maria vida fria» cuja versão original não censurada só emergiu após a revolução. O experimentalismo levou também Paulo de Carvalho a cantar em Inglês, sem que contudo tenha logrado alcançar uma carreira internacional.



Inesquecível é a vocalização de versos de Ary dos Santos ou de José Niza que nos legaram obras primas, designadamente,«Quando um homem quiser»,«Flor sem tempo»,«Maria vida Fria »,«Lisboa Menina e Moça»,«O Facho»...etc...

Para além de cantor é também excelente compositor e letrista e tudo o que cantou é vocalizado de forma marcante...quem não se lembra da «Nini dos meus 15 anos» tema popular burilado em letras de Fernando Assis Pacheco.

Bem datado mas, com as devidas adaptações, ainda actual nalguns aspectos da vilania humana é o fadinho do «facho» cuja letra, acompanhada à guitarra portuguesa de António Chainho, era assim :

«...vira a casaca
tira a gravata
vai no cortejo
canta o solfejo
e diz que vota
mas faz batota

... o facho...o facho

saneia o chefe
que o compromete
com toda a calma
e vende a alma
é um machista
não leninista

... o facho...o facho

revolucionário
de modo vário
e democrata
de longa data
de punho erguido anda escondido...o facho»



Bem sei que não tenho os dotes de melómano do camarada Alexandre «Lénine» Pascoal que adivinho irá dizer que este Paulo de Carvalho não é popular mas é pimba, além disso é um artista burguês que Sá Carneiro convenceu a compor o hino do PPD...mas por estas e por outras ficará para sempre registado na banda sonora da minha vida...

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