quarta-feira, abril 21

Em honra de Grieg, Vaugham e Fanaka

Entre o meu 1º e 4º aniversário, eu e a minha irmã, um ano mais velha, fomos filhos de dois estudantes universitários. Como já vos contei, a minha mãe, já esposa, acompanhou o meu pai na interrupção do seu curso e na partida para a guerra colonial (Angola). De volta a Lisboa, já com dois filhos, foram três os seus anos de guerra, ambos retomaram o seu curso.
Não me lembro de nenhuma crise, nem de nenhuma necessidade, mas não terão sido tempos fáceis. Tenho uma leve memória, de certeza resultado de uma vida muito equilibrada, de privilégios como ter tido um triciclo, que dividia com a minha irmã, sim naquele tempo as crianças dividiam brinquedos, e, razão deste post em honra do Fanaka, de termos um gira disco. Lembro-me, inclusive, do que penso foram os nossos primeiros discos. Os dois primeiros discos que me lembro de ver no nosso pequeno apartamento foram, um disco de Edvard Grieg com as Suites Nos. 1 & 2 de Peer Gynt e um disco de uma diva dos “blues” que tenho quase a certeza seria Sarah Vaugham.
Foi com Grieg que aprendi a sentir e ver música para além de ouvir. Ouvíamos muitas vezes Grieg de cortinas e janelas abertas, não muito alto, nesse tempo os vizinhos não se ouviam. Aprendi a sentir frio e calor, a ver vales e pradarias arrastados por ventos nórdicos até ao mar. Com a Sarah Vaugham aprendi que podíamos apagar as luzes e dançar os quatro, os meus pais abraçados e nós os dois um de cada lado, agarradinhos ás suas pernas.
Toda a música que descobri durante o resto da minha vida, descobri, e cabe, entre este abraço íntimo de Sarah Vaugham e o horizonte vasto de Grieg.
Obrigado Fanaka por me obrigares a esta memória.

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