quinta-feira, fevereiro 19

A PROPÓSITO DA MORTE DE UM POETA

Em sepulcro de concreto ou mármore depositamos a carne. O que sobra de imaterial e espiritual, porventura, tem a sua « eternidade » assegurada em vidas alheias. Esta visceral certeza emerge a propósito da morte do poeta Emanuel Félix ( 1936 – 2004 ). Da diversa necrologia retive que o seu maior legado foi o do introduzir a poesia concreta em Portugal ! Ora, numa Pátria de Poetas nada mais natural do que no luto pelo decesso de mais um se evoquem e correlacionem outros tantos cujas palavras estão mais próximas da banda sonora das nossas vidas.

Nos antípodas evoco António Maria Lisboa, precursor do surrealismo e da poesia colectiva em Portugal, que em tempos disse que da viagem possível, que cada um de nós trilha, ficaria sempre este suspiro :

« Se eu o soubesse diria...
O quê ?.
Que vida seria um dia.
Para quê ?»

À margem dos estilos perfilhados os poetas nunca serão demais para contrariar os « (...) insignificantes que sempre afirmam ser preferível viver como suíno farto a viver como Homem » . Quem o disse foi António Maria Lisboa. Poeta que, na antecâmara do seu obituário, previu que o caminho da Poesia correspondia à deserção social ! Efectivamente, nesta Pátria de Poetas a memória que deles se guarda é tantas e recorrentes vezes vil e torpe. Assim o pensou e melhor o disse António Maria Lisboa : « ... por fim nesta caminhada de deserção resta-nos o substantivo : aristocrata, poeta, egocêntrico, dado aos prazeres – adora as viagens ! ».

Se houver viagem para o outro Mundo que Deus acompanhe os Poetas ! A nós simples mortais resta-nos a sua recorrente ressuscitação literária. Além disso, o que fica é a realidade comezinha da nossa existência e, quanto a esta, aqui fica esta pérola da sabedoria popular condensada num Universal provérbio popular Mexicano ( ! ) :

« Habitue-se a morrer
antes que a morte chegue
porque os mortos apenas podem viver
e os vivos apenas podem morrer »


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