terça-feira, maio 12

DESOBEDIÊNCIA CIVIL




Henry David Thoreau 
(Daguerrotype. Worcester-Mass. 1856)


A maioria daqueles que estão familiarizados com a Desobediência Civil associa-a,  geralmente, às figuras de Mahatma Ghandi e Martin Luther King sem ter porventura a noção de que o pai desta ideia ou, melhor dito, do termo em si mesmo, foi Henry David Thoreau que, na sequência de uma noite passada na prisão em Concord, Massachusetts, proferiu perante os seus concidadãos a palestra Resistance to Civil Government, depois publicada em 1849 sob o título Civil Disobedience.

Nos tempos que correm, em que o dito Estado de Direito foi sequestrado pelo Estado Sanitário, um filho improvável do Estado Securitário com que fomos brindados no início do século XXI, o ensaio de Thoreau é uma leitura assaz recomendável mas, infelizmente, este autor americano está pouco traduzido em português, uma língua de brandos costumes nada atreita a pensadores libertários. O povo português é de um civismo exemplar, conforme assegura ad nauseam o discurso político na sua habitual retórica, e dedica ao Estado uma devoção comparável à dos fiéis peregrinos de Fátima.

Thoreau foi preso porque se recusou a pagar um imposto, a Poll Tax, argumentando que a sua consciência não lhe ditava esse dever para com um Governo que, além de ter desencadeado de forma fraudulenta a Guerra do México em 1846-48, admitia a existência da escravatura nalguns Estados da União. Diz-se que quando um amigo o foi visitar à prisão e lhe perguntou – “O que é que fazes aí dentro?” – ele respondeu – “E tu, o que é que fazes aí fora?”. 

O último reduto da dignidade humana é a nossa consciência e Thoreau ensina-nos, de uma forma exemplar, a sermos objetores de consciência. Não sou jurista nem especialista em Direito Constitucional, mas até um analfabeto sabe, no íntimo da sua consciência, que um Estado para ser respeitado tem que se dar ao respeito!

2 comentários:

Pedro Arruda disse...

Brilhante! abraço

Anónimo disse...

Tenho dois exemplares. Um em Português e outro em Brasileiro...quanto a impostos são uma das duas certezas da vida.
Shalom
JN