terça-feira, setembro 20

Todos lá caídos


(não estiveram este ano mas quem sabe numa futura edição caso não sejam excomungados)
...
O Padre Duarte Melo, actual cura de São José é, como todos sabemos, uma personalidade local imaculada, designadamente, isenta do pecado da soberba, por isso quando fala "urbi et orbi" fá-lo, modestamente, por dever de ofício. Afinal, na sua nunciatura de regime é uma espécie de equivalente paroquial, e cor-de-rosa, do "cardeal cerejeira", logo as suas epístolas soam sempre a verbo angelical iluminado pela sarça ardente de uma selectiva missão "cívica", feita por encomenda, ou revelada por alguma epifania de ocasião. Mas o dito prelado desta Autonomia pós-moderna não é terceiro-mundista nem "ancien regime". É antes um humanista e um paradigma do "aggiornamento" da nova Igreja. Integra o culto da geração "multitasking" sendo, por exemplo, e por mera hipótese académica para não levantar "falsos testemunhos", capaz de montar uma sacristia em "instalação" no Museu Carlos Machado, comissionar uma "performance" de missa no Núcleo de Arte Sacra de Santa Bárbara, e de permeio, em "part-time", ir ao confessionário da sua freguesia. É um homem de causas e ao serviço de causas. Assim se compreende que emergindo do adro sua Igreja abrace agora uma causa "secular" para abençoar um "movimento cívico" para um "outro olhar" (sic.) sobre o Campo de São Francisco que, por certo, preferia ver transformado em retiro espiritual do seu rebanho, mas decorado por uma "griffe" internacional ao estilo dos melhores paramentos Italianos. Do seu púlpito o Padre Duarte Melo congrega agora a sua panfletária indignação pelo uso que a CMPD/ANIMA empresta ao Campo de São Francisco com as Noites de Verão a que, num léxico "pouco católico", rotula como "barracada". Fê-lo recentemente, legítima e publicamente, na imprensa local Vamos pois a factos, que gostos não se discutem: lamentam-se. Citando o próprio Padre Duarte Melo, noutros tempos, "a cultura é uma plataforma fundamental para combater a exclusão e para o desenvolvimento local." Ora, tem sido precisamente esse o objectivo da animação que a ANIMA/Cultura empresta localmente, nomeadamente, através das Noites de Verão. "Cultura" não é apenas arte sacra, assim como "desenvolvimento local" não se esgota no recolhimento beato…como aliás podem asseverar ao pregador de Melo duas "irmãs", de congregação religiosa que certamente identificaram os mais "católicos", que regularmente frequentaram o Campo nos serões das Noites de Verão. Neste evento sazonal, este ano, a média diária foi de 2.000 pessoas, num total de cerca de 150.000 pessoas que terão passado pelo Campo de São Francisco. Promoveram-se artistas locais desde o folclore - (apre) – até à world music. Cartaz diversificado e apostando, em tempos de crise, em artistas de São Miguel, mas também de outras ilhas que procuram o ANIMA/Cultura com gosto de participarem nas Noites de Verão. Soberbos concertos de abertura com "Os Golpes", e de encerramento com "Orelha Negra" que, muito longe do registo bafiento de qualquer requiem, são a vanguarda da nova música Portuguesa e que se afiança terem sido muito bem recebidos pelos "fiéis" que estavam presentes, e com essa filantropia, levam o nosso nome a outras comunidades. Todos os empresários que se associaram às Noites de Verão foram, como sempre, zelosamente fiscalizados por tudo o que era entidade fiscalizadora. Além dos Serviços de Higiene e Limpeza da CMPD, que no "day after" sempre procediam à limpeza do lixo gerado por quem, por falta de civismo, não usou os recipientes adequados para o efeito, também os Bombeiros, por mais de uma vez, colaboraram na limpeza, e serviços de desinfestação, como sempre, foram adjudicados. Quanto à segurança e não só a Polícia, especialmente a Municipal, esteve sempre presente cumprindo discreta e diligentemente a sua missão. Duas notas finais e factuais. Por um lado, estranha-se que este alarde do Padre Duarte Melo, impulsionado por um sentido de missão cívica, contraste com o seu silêncio em tantas outras causas cívicas. Por outro lado, a sua eclesiástica sugestão de um "movimento de voluntariado" para o Campo de São Francisco é bem vinda. Aliás, poderia para o efeito aproveitar a solidariedade de muitos dos empresários que foram parceiros das Noites de Verão e que discreta e voluntariamente ajudaram muitos dos desvalidos do Campo de São Francisco. Fizeram-no não com "bebida", mas sim com "comida" e "dinheiro na mão" para ajudar. Uma lição a aprender pois a benemerência não se exibe como uma comenda dourada de salão, nem requer o jet-set local para movimentos de voluntariado, faz-se por dever de humanidade sem esperar nada em troca, muito menos palco de exibição mediática. Quanto às Noites de Verão do ANIMA/CMPD faço votos que regressem para o ano de 2012 e nestes tempos de crise só me ocorre registar que elas são como a RTP-Açores, tudo o que é "intelligentsia" bem pensante do burgo fala mal, mas depois estão todos lá caídos…só não está quem não faz falta.

João Nuno Almeida e Sousa na edição de 19 Setembro do Açoriano Oriental

Sem comentários: