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"A produção decresce, a agricultura recua, estagna-se o comércio, desaparecem uma por uma as indústrias nacionais; a riqueza, uma riqueza faustosa e estéril, concentra-se em alguns pontos excepcionais, enquanto a miséria se alarga pelo resto do país". Releio pois Antero de Quental e o seu doutrinário texto "causas da decadência dos povos insulares" que tanto marcou uma geração. Antero não é património do "socialismo" apesar de ser sempre evocado como uma referência da respectiva congregação. É universal e intemporal como atesta a actualidade do texto citado. Com a devida vénia atrevo-me a especular que Antero de Quental hoje acrescentaria às "causas da decadência" a miséria intelectual e a indigência moral que se propaga como uma pandemia pela sociedade portuguesa. Sintomas dessa maleita respigam-se quotidianamente nas lides políticas, designadamente, na arena da opinião que algumas sereias do regime obedientemente fazem publicar nos meios de comunicação social do costume. Antero de Quental que era um visionário, e como tal não era "cego", por certo daria nota dessa pobreza de estilo, gasta em tanta tinta e papel de artigos de opinião, que tendo o atrevimento de se arrogar fiel depositária da verdade mais não é do que a mera replicação de palavras proferidas a mando do dono de quem assina tais verrinosos textos de propaganda. Tomar partido por um projecto, um ideal, um governo, ou por uma personalidade política, não deve implicar a alienação e hipoteca da nossa consciência. Contudo, registam os principais jornais da região a existência de tal "depravação dos costumes" cega à razão, e sobretudo, à urbanidade e elevação que são devidas ao debate político. É dessa algibeira que sai o mais visceral fel e ódio político que se personaliza na missão de morder onde o dono manda, quase sempre de ânimo leve, e na expectativa do respectivo afago como recompensa pelos serviços prestados. Dessa estirpe, que não é "nem carne nem peixe", mas sim uma espécie de sereia contente, sempre pronta a cantar os hinos do chefe, está já lotado o espaço público. Resta a esperança e a confiança de que quem lê, não sendo "cego", tenha a presciência de saber "ver" quem fala por si, ou a mando da esperada sinecura e comenda prometida a quem se presta ao ofício de "grilo falante" dos respectivos mandantes. Quando se nivela por baixo o debate político, recorrendo ao arsenal de frustrações alheias e à falta de respeito que merecem os cidadãos, corre-se o risco de nos tornarmos "numa pobre gente" - (para citar novamente Antero) - que envergando as vestes de carrasco arrisca-se no futuro a ser "vítima da confusão moral" (idem) no meio da qual germinou.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com
"A produção decresce, a agricultura recua, estagna-se o comércio, desaparecem uma por uma as indústrias nacionais; a riqueza, uma riqueza faustosa e estéril, concentra-se em alguns pontos excepcionais, enquanto a miséria se alarga pelo resto do país". Releio pois Antero de Quental e o seu doutrinário texto "causas da decadência dos povos insulares" que tanto marcou uma geração. Antero não é património do "socialismo" apesar de ser sempre evocado como uma referência da respectiva congregação. É universal e intemporal como atesta a actualidade do texto citado. Com a devida vénia atrevo-me a especular que Antero de Quental hoje acrescentaria às "causas da decadência" a miséria intelectual e a indigência moral que se propaga como uma pandemia pela sociedade portuguesa. Sintomas dessa maleita respigam-se quotidianamente nas lides políticas, designadamente, na arena da opinião que algumas sereias do regime obedientemente fazem publicar nos meios de comunicação social do costume. Antero de Quental que era um visionário, e como tal não era "cego", por certo daria nota dessa pobreza de estilo, gasta em tanta tinta e papel de artigos de opinião, que tendo o atrevimento de se arrogar fiel depositária da verdade mais não é do que a mera replicação de palavras proferidas a mando do dono de quem assina tais verrinosos textos de propaganda. Tomar partido por um projecto, um ideal, um governo, ou por uma personalidade política, não deve implicar a alienação e hipoteca da nossa consciência. Contudo, registam os principais jornais da região a existência de tal "depravação dos costumes" cega à razão, e sobretudo, à urbanidade e elevação que são devidas ao debate político. É dessa algibeira que sai o mais visceral fel e ódio político que se personaliza na missão de morder onde o dono manda, quase sempre de ânimo leve, e na expectativa do respectivo afago como recompensa pelos serviços prestados. Dessa estirpe, que não é "nem carne nem peixe", mas sim uma espécie de sereia contente, sempre pronta a cantar os hinos do chefe, está já lotado o espaço público. Resta a esperança e a confiança de que quem lê, não sendo "cego", tenha a presciência de saber "ver" quem fala por si, ou a mando da esperada sinecura e comenda prometida a quem se presta ao ofício de "grilo falante" dos respectivos mandantes. Quando se nivela por baixo o debate político, recorrendo ao arsenal de frustrações alheias e à falta de respeito que merecem os cidadãos, corre-se o risco de nos tornarmos "numa pobre gente" - (para citar novamente Antero) - que envergando as vestes de carrasco arrisca-se no futuro a ser "vítima da confusão moral" (idem) no meio da qual germinou.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com
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