sexta-feira, fevereiro 12

Ziguezaguear


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Nas últimas semanas tem sido amplo o debate e os argumentos contra e a favor da intenção da Câmara Municipal de Ponta Delgada em construir um edifício de 7 andares que albergará a futura central de camionagem, localizada no topo Norte da Avenida Roberto Ivens, na zona do antigo ringue do União Sportiva, na Rua de Lisboa.

Construir uma central ou um terminal de transportes colectivos de passageiros em Ponta Delgada deve ser para a autarquia uma prioridade. É importante que se faça o transbordo de passageiros que afluem à cidade, por via das carreiras interurbanas com origem no concelho e em vários pontos da ilha para o circuito urbano de minibus, de forma célere e em segurança. Insistir na localização apresentada pela edilidade é um erro. O modelo proposto está esgotado e tem vindo a ser abandonado, sendo Lisboa um exemplo paradigmático. Situar, naquele local, uma infra-estrutura com aquelas características é manter o trânsito pesado no centro histórico, na medida em que são muitas dezenas de autocarros que entram diariamente, em Ponta Delgada, acrescidos dos 1300 automóveis a circular no eixo » Rotunda Autonomia » Rua de Lisboa entre as 07h30 e as 10h30 (segundo um estudo de Julho 2007).

A questão do Património não pode ser negligenciada, nem desvalorizada. O Campo de S. Francisco é o local de Ponta Delgada onde existe a maior concentração de imóveis classificados. A posição da edilidade e da sua presidente é contraditória, pois não se percebe a ênfase atribuída à recuperação do edifício do Coliseu Micaelense para agora colocá-lo na "sombra". Incongruências a que infelizmente já nos habituou, nomeadamente, no processo desastroso em torno da construção do parque "subterrâneo" de S. João, cuja construção "amputou" o Teatro Micaelense.

Qual a intenção da autarquia na carta enviada aos moradores da Rua de Lisboa onde é referido: «Queremos que (...) voltem a ter orgulho de residir nesta nobre zona da cidade, desfrutando de conforto e bem-estar». Para o município estamos perante uma "zona nobre" mas sem orgulho - um devir difuso que contraria o sentimento dos munícipes e que pretende, apenas, validar o desejo autárquico.

Este tipo de "iniciativa" pretende justificar o injustificável sem o mínimo de sustentabilidade. Haverá por parte da Câmara Municipal capacidade para reflectir e discutir publicamente este assunto, ou irá forçar uma decisão com base em compromissos já assumidos? Irão os interesses "privados" sobrepor-se ao interesse público?! Como resposta, temos o ziguezaguear camarário sobre a localização da Central de Camionagem em Ponta Delgada.


* Publicado na edição de 09/02/10 do AO (revisto na publicação no blog)
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